Causos do Vô Agostinho
Meu avô Agostinho Sabadini, como bom descendente de italianos, gostava de contar um ‘causo’. Irreverente como ele só, sempre colocava uma pitadinha de bom humor até mesmo nas histórias mais tristes. A memória que falhava quando era preciso lembrar de algo recente, não tinha dificuldades para recordar fatos antigos, da época da infância e mocidade. Era um contador de histórias de primeira e com isso ganhava a companhia dos netos, que sempre muito curiosos sentavam na sua beira, para ouvi-lo falar de seu passado, tão modesto, mas rico em histórias de vida.
Teve um passado simples, de muita luta para sustentar os filhos. Não deixou heranças materiais, mas deixou a imagem de um pai trabalhador, de uma honestidade admirável. Apesar do pouco estudo, era capaz de conversar sobre variados assuntos. No antigo banco de madeira, na varanda de sua casa, gostava de ouvir o noticiário no radinho de pilha, para, depois, conversar sobre os assuntos do dia. A idade nunca lhe pesou e as perdas de duas filhas e da mulher – minha avó Zulmira – foram sentidas de modo muito particular. Seu semblante, para os que o rodeavam, era sereno.
Nem mesmo a insistente dor na coluna, agravada por causa dos pesados anos de trabalho, lhe tiravam o sorriso. Queixava-se, mas não se abatia. A cachacinha ele deixou mais cedo, mas o cigarrinho de palha, que fumava desde os oito anos de idade, o acompanhou até o fim de sua vida, aos noventa e quatro anos. Uma de suas tiradas era dizer que, se o álcool e o fumo realmente matassem, ele não teria vivido tanto. Vai se saber? Talvez sua longevidade deu-se pelo seu jeito de viver, de encarar os desafios e, principalmente, seu bom humor, sempre tão marcante.
De vez em quando, arriscava cantarolar antigas canções italianas, que, possivelmente, aprendera ainda criança. Emotivo e muito festeiro, gostava de reunir a família nas comemorações de seu aniversário. Quando completou noventa anos, disse que já tinha vivido demais e que, provavelmente, São Pedro poderia estar preparando seu cantinho no céu. Dizia também que, dali em diante, a mudança de endereço só seria do Bairro Sumaré – onde morava – para o Coronel Borges, se referindo ao cemitério daquele bairro. Esses gracejos eram normais para a família, que acreditava que ele chegaria aos cem anos.
Suas histórias sobre a imigração italiana, da chegada dos pais Antônio e Genoveva em Guaxuma, as caçadas com os irmãos e os tios nas matas, o namoro com minha avó, o casamento e a mudança para Cachoeiro de Itapemirim (ES), a construção da casa e da história dos Sabadinis nessa terra: parte de um passado sempre presente na minha vida e de minha família. Seus causos serão contados às gerações futuras, para que elas saibam quem foi o Vô Agostinho, um inesquecível ‘encantador’ de histórias.