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A FÃ DE VELÓRIOS
Chamar-se-á, aqui para nós, Fulana de Tal dos Anzóis Pereira. Em outras palavras, a moça tem nome de batismo, mas lhe vou poupar a identidade.
Apelidada apenas por Zoião. Mulher ainda jovem, não de todo de ser enjeitada. Contudo, coitada de Dona Zoião, com uma mania muito pouco comum: é alucinada por velórios. Fã incondicional de um, não importando de quem o seja, ou de que modalidade de morte tenha ido comer capim pela raiz.
O repórter da tevê perguntou-lhe:
– Dona Fulana de Tal, a quantos velórios você já visitou?
– Bem contados, eu já fui a cento e cinquenta – fez Zoião, até com certo orgulho incontido.
Zoião é mãe de família, e uma filha muito jovem, com um rebento nos braços, demonstra a maior satisfação pela mãezona que tem:
– Mãinha é o máximo... Ave Maria! ninguém é mais solidária do que ela. A nenhum velório ela falta. Nem morta!
– E a senhora tem algum fato curioso que tenha presenciado em alguma dessas visitinhas? – indaga o homem do microfone.
– E então?!... Sim, no último velório. O Stênio, que vendia na feira-livre, me sapecou um beijo. Baixei o olho na cara do safado, e ele me fez essa cortesia. Franziu os beiços e me sacudiu uma beijoca. Mas continuou lá, mortinho da silva.
Dona Fulana de Tal dos Anzóis Pereira é habitante de uma gostosa e aprazível cidade serrana, na serra da Ibiapaba, ali extrema do Ceará com o Piauí. Lá, sem reserva nem exceção, todos adoram o gesto humanitário de Zoião.
Familiares de defunto nenhum, na bela cidade de clima de ar condicionado, ainda que não conheçam de perto a fã número 1 dos “de-cujos”, quando perdem um ente amado, não dispensam de enviar à Dona Zoião um convite bem formal.
E ela, toda bondosa e piedosa, deverasmente contrita por dentro, por fora contente como quem vai a um reisado, agradece a deferência e não deixa de ir ao piedoso ato cristão.
Fort., 18/09/2013.