MAGIA E SUPERSTIÇÃO DE UMA DATA, SEXTA- FEIRA 13

Não é um dia qualquer! Não, não é um dia qualquer, até quando vou ter repetir! É um dia por mais que demasiado especial e difícil de vivenciar; tudo pode acontecer e acontece, pois, nesse dia, salvo posições e crendices em contrário, esse dia demarca, em minha vida!, falava com voz empostada, demarca minha mais inabalável e certeira certeza que nesse dia, chova ou faça sol, troveja ou relâmpeia, esse dia não passa como se fosse um dia qualquer.

Assim, seu Dorico, homem mais que famoso por suas superstições, era, nas cercanias e adjacências mais distantes, conhecido pelo exagero que depositava no dia de sexta -feira 13. Era, por assim dizer, um parascavedecatriafobio. De modo que, nesse dia, nada, absolutamente nada, era suficientemente eficaz e, porquê não dizer, desnecessário; deveras tentativas incansáveis de fazê-lo reconsiderar tão estranha obsessão pelo dia de sexta-feira 13.

Muitos anos chegavam e partiam, mas, seu Dorico, homem simples e de posições firmes em suas crenças e manias, não renunciava, um milímetro que fosse, à clausura a que se submetia. Nesse dia, por mais que muitos o visitavam à porta, não tinha jeito; não abria a porta nem para o prefeito, o vigário e mesmo para emissários do governador. E mais, nesse dia, ainda que muitos tentassem, seja buscando brechas nas janelas ou tocando sua campainha, o fato é que nesse dia, ninguém via seu Dorico pela rua, nem na praça (onde gostava de passar horas e horas conversando com alguns moradores) e, acreditem, na Igreja, mesmo que para fazê-lo dar às caras ao público, e a pretexto de que na casa do Senhor, e somente ali, superstições ou qualquer coisa do tipo, com uma missa, e apenas uma, tudo e todos estariam protegidos das coisas mundanas. Mas, mesmo que o padre, o prefeito, emissários do governador, e eventualmente, dignitários representantes do juiz, mesmo esses excelsos representantes e protetores do povo, não venciam seu Dorico no seu propósito de não sair de casa em sextas-feiras 13.

Velhos anos passaram, novos anos se comemoraram, mas, a despeito do dito popular que nessa vida tudo muda e evolui com o tempo, aquela mania, que nessas alturas já se tornara folclórica, a ponto de, por proposta de um vereador, a câmara local ter aprovado um plebiscito que colocaria para apreciação daquele escrutínio se o dia 13 que caísse numa sexta-feira, deveria ser considerado dia de feriado, e todos os serviços públicos seriam suspensos, retomando seu rítmo normal ao dia imediatamente seguinte.

Não precisa dizer que grupos se formaram. De um lado, os contrários, advogavam para si, numa espécie de guardiões da moral (pública e privada) e dos bons costumes, o "sagrado" direito de se lutar contra essas abomináveis superstições e, ademais, diziam nos palanques distribuídos pela cidade, ", que o erário público, cujo sacrifício para se manter a maquina em perfeitas condições financeiras e administrativas, não podia, para satisfazer "superstiçãozinha" de uma homem destemido a Deus, não podia ser desperdiçado; era preciso, era uma fundamental que se rejeitasse tamanho absurdo".

Do lado dos favoráveis, diziam esses que, "considerando o ilustre filho das nossas terras, filho de família mais que conhecida, cujo fundador fora, em tempos idos, um defensor ferrenho das nossas tradições, e que, quando nossa cidade tornara-se alvo de egoístas imobiliários, fora seu antepassado, sozinho e somente tomado da coragem tão característica dessa nobre linhagem, fora seu antepassado que colocara aqueles sanguessugas à correr das nossas cercas, portanto, bradavam aos quatro cantos, aprovar, por respeito e reconhecimento aos serviços prestados por esses nossos fundadores, esse plebiscito, mais que garantir segurança e garantias dos males que esse dia possa trazer, será a paga mínima de uma grande dívida que essa cidade, aprovando esse plebiscito, estará começando a fazer"

Dias e dias foram preenchidos com falações. Debates nas rádios locais foram marcados, mas, mesmo assim, não havia nada que fizesse seu Dorico sair à rua.

Assim o tempo foi passando. Trovões trovejaram, muitos partiram outros tantos chegaram, mas, seu Dorico, recluso em seu canto, nem tomou conhecimento da tal da consulta, de modo que, chegado o dia tão esperado, a cidade, tomada por confetes e cabos eleitorais, nem naquele dia, uma sexta-feira 13, a cidade não viu seu Dorico. Apurados os votos, se constatou apenas um, um ausente somente de todo o eleitorado, não votara, era o voto do seu Dorico que faltara para a aprovação ou rejeição daquela consulta, de maneira que, até hoje, sexta-feira 13, que poderia ou não, ter se transformado em feriado, continua, aos olhos de muita gente, sendo um dia normal, mas para outros, pelo gosto de mais um dia folga ou por ser um parascavedecatriafobio, sexta-feira 13 continua sendo um dia especial.

Seu Dorico não vive mais. Quando partiu dessa para outra melhor, segundo pessoas que o conheceram, por coincidência ou destino, quando ele partiu, era uma sexta-feira 13, fora velado às 13:13 e sepultado à cova de número 13. Na sua lápide, misteriosamente, apareceu escrito, poucos dias depois do sepultamento, uma informação, até aquele momento, não conhecida por ninguém: era o último filho de uma família de 13 filhos.