O osnofa recria histórias da sua infância

O osnofa recria histórias da sua infância

Lembrando os tarecos da Tameny, a maria mole da venda do Zé Lopes, os pirulitos da dona Esperança, os picolés do Bar do Mundico, a saudosa tia Mariquinha e muito mais.

Histórias imagináveis do osnofa

A propósito, cada um de nós temos nossas histórias e o osnofa tem registrado na memória fatos interessantes e de maior relevância histórica e cultural de sua infância e de sua família, então resolveu recriá-las categoricamente:

Esta é minha tia avó Maria Augusta de Oliveira Penido, carinhosamente chamada de tia “Mariquinha” pelos sobrinhos. Foi casada com José Faustino, ambos de Itatiaiuçu, após a separação matrimonial, viveu uma nova etapa da vida, criando uma família com o Coronel Osório Penido. Mais tarde mudou-se com os filhos para Itaúna, oferecendo aos filhos e sobrinhos uma convivência harmoniosa, carinhosa e educadora, quis o destino que a vida fosse assim.

Os Penidos são primos de minha mãe Celia Sebastiana de Oliveira, casada com Afonso Carmo da Silva “o Afonso carteiro”. “São meus primos: Nilo Penido, esposa e filhos, Nelci Penido, esposa e filhos, Nélia Penido, esposo e filhos, Nilza Penido, esposo e filhos, Nilson Penido “Bem Bem”, esposa e filhos, Nelson Penido”, esposa e filhos e o ex-vereador Newton Penido “Pite” esposa e filhos”.

Muitos amigos e parentes de minha mãe e de meu pai moravam na Rua Afonso Pena, atual Rua Zezé Lima, Rua Estrada de Ferro, atual Av. Dona Cota e nós morávamos na Rua do Mercado.

Era assim nossa vida de criança, tínhamos tempo de estudar, brincar, pintar, sonhar e fazer as nossas traquinagem, afinal éramos todos primos, amigos e crianças.

O açougueiro Aristides tinha seu açougue no Mercado Municipal de Itaúna e os moradores da região compravam carne em seu açougue. Era comum carregarmos a peça de carne embrulhada no papel de jornal e o pedaço de fígado de boi, coração e rim, ele fazia um furo e amarrava com uma cordinha; contas vezes fui buscar carne neste açougue e quando era fígado de boi o mesmo vinha pingando sangue pela rua e a cachorrada vinha atrás doida pra bocar um pedacinho do fígado; tudo isto era tão comum que o osnofa nem tinha medo dos cachorros, isto também acontecia com as crianças que moravam próximo o Mercado.

O Aristides além Açougueiro era fazendeiro e ficou famoso devido a dois fatos importantes: estes fatos ficaram gravados na minha memória, uma de suas filhas casou-se com um jogador de futebol o famoso Neivaldo que jogava no Esporte Clube de Itaúna e a festa na fazenda foi um momento inesquecível, principalmente para a criançada, muita música, muita comida e um churrasco delicioso, carne de primeira mesmo, comprovando que o açougueiro Aristides entendia mesmo de carne e a carne não era Friboi; o outro fato é muito interessante, mesmo com a intranquilidade da Revolução de 1964, vivíamos em Itaúna dias normais e o famoso Sindicalista Antônio Biscoitão, como todo sindicalista tiveram seus direitos caçados pelo Regime Militar e corria risco de ser preso, aí entrou a bondade e amizade do fazendeiro e açougueiro Aristides, por um bom tempo o Antônio Biscoitão ficou refugiado na fazenda do Aristides Açougueiro, toda a cidade sabia deste fato, mas fazia vista grossa inclusive o Delegado, devido a pessoa boa e amiga que sempre foi o Antônio Biscoitão, assim foi acolhido na fazenda do Aristides até a poeira abaixar, a criançada sabia de tudo, mas ao mesmo tempo não entendia o que estava acontecendo e assim continuamos fazendo as nossas traquinagens.

A Rua Estrada de Ferro era conhecida pela beleza da estação ferroviária e todo o complexo arquitetônico dos imóveis da Rede e o fascínio que a conhecida Maria Fumaça e locomotivas pesadas provocavam em todos nós crianças e a pureza das figuras populares que circulavam em nossas mediações tais como: Pedro Sapo, Donetinha, Dr. Da Mula Russa, Lilico Mercedinha, também conhecido como Quiabo e Feneme, porque tinha a mania de dirigir um caminhão que não existia, nos tempo de hoje seria um caminhão virtual, a famosa Maria Poeira também passava sempre pela Rua Estrada de Ferro. Devido o Mercado Municipal, a Estação Ferroviária e a Companhia Industrial Itaunense estarem situadas neste trecho, havia grande movimento na rua e bons comércios.

A Rua Estrada de Ferro era de terra, puro saibro, uma terra vermelha que molhada grudava na mão da gente, era próximo a Escola Number One, bem em frente à casa da dona Leni e Sr. Lino pais do meu amigo de infância Clécio José Guimarães, hoje presidente da Cooperativa dos Produtores Rurais de Itaúna, cunhado do famoso ex-vereador Milton Toureiro, casou-se com a Clélia, filha da dona Leni e Sr. Lino. É nesta rua que a criançada de minha época brincava o dia todo. O dia passava e a gente nem percebia só se dava conta de alguma coisa quando os nossos pais chamavam, pois já era hora de tomar o banho da tarde, até parecia que rolávamos na terra de tão sujos que ficávamos. Não tem como esquecer estes bons momentos, jogar bola na terra pura era mesmo uma farra, jogar bentialtas, aquele esporte que se joga com bola de pano, feita com pano e meia, como nós corríamos e gritávamos atrás daquela bola de pano; conta coisa boa aconteceu com aquela criançada na Rua Estrada de Ferro. Na casa do Sr. João Enoque, avô do meu primo Dr. Alan Penido, pai da Dalva, do Ladário Farmacêutico, Nelson, Nialva e outros filhos; nós brincávamos muito e no quintal da casa havia um pomar com destaque para os marmelos, frutas que a gente sempre comia a vontade. Nos fins de semana o Ladário reunia os primos, vizinhos e amigos e fazia nossas pipas com papeis de seda, era papagaio suruca, papagaio Noel, papagaio Casa e papagaio Estrela, tudo feito com muito carinho, só pra ver a criançada feliz; o Nelson irmão do Ladário, quando vinha passar final de semana ou férias em Itaúna fazia algodão doce para a criançada, são momentos inesquecíveis da minha infância.

Bom e gostoso eram os doces: maria mole, cocadas e pé de moleque da venda do Zé Lopes, pai do amigo Zé faxineiro, assim que os meninos ganhavam um dinheirinho, íamos em turma fazer nossas comprinhas no armazém, pura traquinagem aproveitávamos o Zé Lopes sozinho e tumultuávamos o armazém e o atendimento ficava confuso, partíamos a nota de um cruzeiro no meio e comprávamos duas vezes, comíamos os docinhos com muita alegria e riso, mas quando o mau feito era descoberto, nossos pais davam um corretivo e punham de castigo. Lá na casa do Dr. Alan a dona Nialva mãe dele, cortava a meninada na vara de marmelo e quando terminava a dona Nialva ia lá em casa deixar as varas pra minha mãe surrar nós e ainda dava a receita de como curar as varas de marmelo, passe óleo e deixe na beira do fogão de lenha, ai secam e ficam afiadinha. Mesmo assim a traquinagem corria solta, qualquer oportunidade estávamos na venda do Zé Lopes pra fazer nossas comprinhas.

Sempre fui amigo dos filhos do Antônio Biscoitão, virava e mexia lá estava eu na casa deles, Antônio, Edir e Níveo e as irmãs, bons amigos fomos um dos outros, brincávamos por lá, comíamos bons salgados e bebíamos sucos naturais. Na época da política juntávamos para ir ao comício, amontoávamos naquele jipe dos biscoitos e íamos juntos fazer a campanha do candidato Biscoitão; como toda criança sempre brigávamos e no outro dia só para insultar os biscoitos, passávamos na porta da casa deles cantando, “Biscoitão já ganhou, pé na bunda estalou”, era só passar a raiva e lá estava o osnofa, meus irmãos, primos e amigos na casa dos biscoitos brincando de jogar bolinha de gude.

Muito bom à venda das irmãs turcas, a Tameny vendia uns tarecos que deixam qualquer menino com água na boca e tínhamos um bom motivo para comprar os tarecos da Tameny, ser amigo do sobrinho dela que morava em Belo horizonte e nas férias trazia bolinhas de gude diferentes das nossas que eram apenas bolinhas comuns, ele trazia da capital mineira as bolinhas Paulistas e Holandesas, cobiçadas por todos os meninos da Rua Estrada de Ferro. O primo Pimenta, filho da dona Latife, minha prima, era campeão no jogo de bolinhas de gude e andava com os bolsos cheios, o osnofa e seus primos, Alan Penido, Anilton Penido, Charles Penido, Bráulio e Luciano Penido, os irmãos Tunga e Dr. Oto Penido e meus irmãos Nagib e Célio Silva, os primos Adolfo Osório, Tito e Zurinho do Amim, jogávamos juntos com o primo Pimenta pra ganhar as bolinhas Paulistas e Holandesas do sobrinho da Tameny e assim as brincadeiras enchiam o nosso dia a dia de muita alegria e amizade. Na Rua Estrada de Ferro o osnofa deixou marcas de suas traquinagens e peraltices num jogo de finque-te, acabou furando a perna do amigo Zé Carlos, filho da dona Nazaré, o osnofa correu pra casa guardou o finque-te e ficou quietinho, mas este incidente chegou ao conhecimento do seu pai Afonso que o repreendeu e surrou com a vara de marmelo da dona Nialva, como o incidente não foi intencional, com o tempo o osnofa e o Zé Carlos voltaram às boas e fomos campeões de finque-te da Rua Estrada de ferro.

Também não tem como esquecer a vizinhança boa que tínhamos nas proximidades do Mercado Municipal e na Rua Estrada de Ferro:, as irmãs gatinhas que trabalhavam na fábrica Itaunense, o amigo Zé Valadares, o Sr. Cafunxo que era corcunda a criançada morria de medo dele; amigos de meu pai o taxista Zé Macaco que morava próximo ao Mercado e o Comerciante, ex-vereador e um dos fundadores do Bloco de Carnaval Farrapos, maior expressão da irreverência já vista no carnaval de rua em todos os tempos em Itaúna, Walter Marques da Silva, Waltinho da Lagoinha, ex-vereador; lembro da boa amizade que o osnofa tinha e tem até hoje com os filhos do Zé da Chacra, Irineu e suas irmãs, também fui amigo da família do Buzina e do pipoqueiro Mampú, dois grandes carnavalescos que sempre foram Rei Momos dos bons tempos do carnaval de Itaúna.

Duas referências que não podem ser esquecidas da minha infância e da minha juventude, a família Crispim Magalhães, que moravam na Vila Crispim e Rua Estrada de Ferro, foram proprietários do famoso Cine Rex, onde o osnofa e muitos de nós sonhávamos e deleitávamos vendo os melhores filmes de todos os tempos de nossas vidas; também não tenho como me esquecer da Vila Humberto Salera, e a boa amizade que sempre tive e tenho até os dias de hoje, com os irmãos Salera, Elizabete, Giovane, casado com a Rita, Tuniquinho, Zélia, José Roberto, Elói casado com a outra Rita e as doces lembranças do famoso presépio de Natal construído pelo Sr. Humberto Salera, o osnofa e todas as crianças de Itaúna faziam fila para ver o Presépio, um legado que jamais poderá ser esquecido. Hoje o presépio se encontra no Museu Municipal de Itaúna, em respeito à família salera e a memória do Sr. Humberto, este Italiano que gratuitamente fez à alegria de milhares de crianças e adultos, construindo este mundo de sonhos que é o presépio de Natal do Sr. Humberto Salera, lembro-me deste momento mágico, jamais vou esquecer aquele presépio em movimento nas proximidades do Natal.

Os pirulitos da dona Esperança, os doces do Zé Doceiro, o picolé de groselha no Bar do Sr. Mundico, as barras de gelo da Cooperativa Velha, a saborosa linguiça da Casa da Banha do Tim Tavares, o apito da Fábrica Companhia de Tecidos Itaunense na hora do almoço, a Maria Fumaça chegando à Estação, o trem de cargas e passageiros puxado por duas máquinas grandes, movidas a óleo diesel, o Mercado Municipal construído na gestão do ex-Prefeito Dr. Célio Soares de Oliveira, na inauguração a missa celebrada pelo Padre José Neto e a presença do Governador do Estado de Minas Gerais Magalhães Pinto. Hoje onde é a Rodoviária de Itaúna, tivemos o nosso primeiro Parque de Exposição Agropecuária, onde o Peão Quirino ficou consagrado como o melhor peão da região, “cutuca Quirino”, virou uma expressão, nem mesmo o famoso “cavalo sabonete” da Cia de Rodeio Meiga Dornas nunca derrubou o Quirino, boas lembranças da minha infância.

São muitos os primos e amigos que fizeram parte da minha infância, infelizmente não tenho como citar o nome de todos. Este osnofa sempre foi da pá virada, em casa, com os amigos e na escola, onde ele estivesse tudo podia acontecer. Meu pai Afonso tinha que me pagar para almoçar e jantar, me sentava no colo, me dava comida na boca e eu só comia se o dinheiro estivesse na mão, remédio eu só tomava boca a baixo, tive todas estas doencinhas de criança, caxumba, catapora e varicela. Realmente eu era o rei da traquinagem e quando fazia uma coisa cabeluda o corro comia solto, ai! se não fosse o meu anjo da guarda a minha tia avó Mariquinha, irmã do meu avô José Augusto de Oliveira, sempre procurava me proteger das merecidas surras de correia ou vara de marmelo. A tia era nossa vizinha, assim que ouvia os meus gritos de socorro ia correndo lá em casa me acudir, muitas vezes fui salvo por ela. Meus primos também não eram flor que se cheira, pintavam mesmo e os amigos não ficavam para trás. A Rua Estrada de Ferro sempre foi o nosso palco, ali nós jogávamos futebol, bentialtas, bolinha de gude, peão e finque-te, quando chovia a brincadeira ficava melhor ainda, fazíamos barragens com pedras e barro para conter a enxurrada, depois de prontas e acumulada muita água íamos arrebentando uma por uma até chegar ao final, imagina tudo se transformava em um lamaçal e nós pra finalizar bariávamos uns aos outros, a rua virava um campo de batalha e tudo isto acontecia aos olhos da minha tia Mariquinha que mais tarde entregava nós para nossos pais e claro o coro comia solto, sempre que a turma de amigos e de primos juntavam na Rua Estrada de Ferro pra brincar, alguma coisa errada acontecia, não tinha como se conter, a molecada aprontava mesmo. Minha tia Mariquinha, não tinha sossego, na hora de ouvir no Rádio as novelas o Direito de Nascer e Gerônimo o Herói do Sertão, o osnofa e seus primos iam lá e desligavam o relógio, aí a tia esbravejava e acabava contando nossos pais, outra das nossas traquinagens e com isto o coro andava veio, de tardinha era só menino apanhando. Um dia de chuva, seria o melhor momento para fazer umas barraginhas e com tanto barro resolvemos fazer uma vingança, sem o mínimo de dó a molecada fez o barriamento da casa da tia Mariquinha, a frente da casa ficou tomada de bolinhas de barro vermelho, os pais tiveram que pagar o Zé da Chacra para tirar o barro e refazer a pintura, e o coro andou solto naquele dia, vimos aquele velho ditado funcionar na pratica, “quem com ferro fere, com o ferro será ferido”. A tia Mariquinha nunca mais deve ter esquecido deste dia, mas o osnofa no outro dia não estava nem aí, e novamente se juntava com os primos e amigos para outras traquinagens.

A tia Mariquinha, sempre foi o meu anjo da guarda, me acudia na hora das surras, me dava frutas para ver se eu pegava uma carninha, pois eu era pele e osso; mesmo assim o osnofa e seus primos fizeram muitas traquinagens para atormentar a vida da tia, que de boba não tinha nada e na tocaia ficou aguardando a hora certa pra corrigir os sobrinhos da pá virada, um por um foi corrigido a modo dela, com bons conselhos e carinho; e o osnofa teve lá o seu dia de acerto com a tia Mariquinha, o bobinho passou próximo da janela deu bença a tia, que carinhosamente me chamava de Pedro, por causa do meu padrinho Pedro do Eduardinho que sempre foi bem pra lá de levado, aproveitando o momento me chamou para comer uma bananinha e eu sem maldade entrei na casa para atender o chamado dela, assim que assentei na cadeira ela fechou a porta e arrancou o chinelo do pé, e me contou um setenta daqueles, mas não bateu, me corrigiu exigindo respeito e carinhosamente me deu a bananinha pra comer, mesmo assim eu e os meus primos nunca deixávamos de apagar o relógio na hora das novelas que ela tanto gostava, para insultá-la ainda a chamávamos de Maricota e Parquetina, por causa da cera de lustrar piso chamada Parquetina. Barriar a casa da tia Mariquinha foi terrível!

Afonsinho
Enviado por Afonsinho em 13/09/2013
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