...Um olhar, um sorriso, um beijo e um mistério...
Eu parei, olhei, sorri, mandei um beijo e fui embora.
Foi essa a reação que eu tive ao ver aquele homem sentado dentro de um restaurante do outro lado da rua. Quem é ele? Quem é esse homem que me fez perder o equilíbrio e tropeçar só com o olhar? Apoiei-me na parede para amenizar o impacto da queda e olhei para os dois lados a procura de alguém que estivesse observando a minha possível queda. Para minha sorte, não havia ninguém. Recompus-me dei alguns passos e parei. Parei porque me senti enfeitiçada, parei, porque meu coração pediu para eu parar. Virei-me lentamente e o olhei. Mas não de forma simples, eu o olhei de forma desejável. Eu o olhei de forma desinibida e admirável. Quando percebi que ele também me olhava, eu sorri. Sorri porque me senti feliz, sorri, porque senti algo bom me invadir. Parecia que eu já o conhecia. Eu tinha a sensação de que nós dois já havíamos desfrutado dos desejos mais íntimos um do outro. Tomei a liberdade e mandei-lhe um beijo. Assustei-me com essa minha atitude, mas quando dei por mim já havia feito. Envergonhada da minha ousadia com esse desconhecido, olhei para frente e fui embora. A noite chegou e a tentativa de dormir era em vão. Passei a madrugada toda me deleitando com a lembrança de cada segundo daquele pequeno instante. No dia seguinte, acordei ansiosa na esperança de encontrá-lo novamente no meu horário de almoço. È chegada a hora. Caminhei lentamente pela mesma rua do dia anterior, e por instinto, eu olhei para o lado e ele estava lá. Por alguns instantes eu fiquei a observá-lo implorando para que o meu cérebro registrasse cada segundo daquele momento. Para a alegria do meu coração inquieto ele olhou para frente e me viu. Novamente aquela impressão gostosa de que já nos conhecíamos me invadiu. Sorri para ele, assoprei-lhe um beijo e fui embora com a sensação de missão cumprida. Com a sensação, de que, mais uma vez eu ia ter um bom motivo para não conseguir dormir. E foi isso que aconteceu. Mais uma noite eu me torturei da forma mais prazerosa possível com a lembrança daquele homem que eu não sabia nem o nome. No dia seguinte, levantei, liguei o rádio, coloquei o Cd das minhas músicas favoritas, aumentei o volume e fui para o banho. Enquanto a água morna escorria pelo meu corpo, eu pensava em como por em prática o meu plano, “ chegar até ele e me apresentar “. Terminei meu banho, escolhi uma roupa, maquiei-me, peguei a minha bolsa e fui trabalhar. Na hora do almoço fiz o mesmo trajeto de ontem, porém, ao caminhar pela rua do restaurante as minhas mãos começaram a suar. Minhas pernas ficaram bambas, o coração começou acelerar e eu a me desesperar. Parei, olhei para o outro lado da rua e ele estava lá. Ajeitei minha roupa, retoquei o meu batom, cruzei uma mão na outra e fiquei a esperar. Esperei pelo momento em que ele me olhasse para que eu pudesse fazer algum sinal perguntando se eu poderia me aproximar. O tempo passava e ele não me olhava. O tempo passava e eu me angustiava. Eu sentia que ele sabia eu estava ali. Esperei, esperei, esperei e nada. Respirei fundo, ameacei ir até ele e perguntar qual era o problema, mas me acovardei. Fui embora.
A noite, dormi chorando. Chorei de tristeza. Chorei porque fui rejeitada por alguém que eu nem conheço. Chorei porque me senti ingênua. Chorei porque achei que tudo aquilo não era apenas coincidências. Chorei porque acreditei que eu estava vivendo o inicio de um romance.
Acordei com os olhos inchados, levantei-me e fui trabalhar. Na hora do almoço, sai uma hora mais tarde para que quando eu passasse pela rua do restaurante o tal homem misterioso não estivesse mais lá. Caminhei desiludida pela calçada tentando esquecer o meu engano, porém , senti novamente o meu coração acelerar. Levantei a cabeça, olhei para o lado e ele estava em pé, olhando para mim e sorrindo. Só que dessa vez, eu não parei como eu parava, eu não olhei como eu olhava, eu não sorri como eu sorria, e nem mandei um beijo como eu mandava. E para não perder a oportunidade de esnobá-lo, depois de alguns passos, olhei para trás, encarei ele, virei o rosto e fui embora...
* esse texto é a ( VERSÃO FEMININA ) de um outro texto meu chamado QUEM É ELA? .