AS VEZES ESTOU FELIZ
Aquela garrafa de Jack Daniel’s estava sendo a minha melhor companhia naquela noite. Enquanto Sarah Vaughan cantava “Sometimes I'm Happy” em uma velha Jukebox.
Eu olhava as pessoas que passavam por ali: jovens, velhos, homens e mulheres, todos em busca de alguma coisa. O dia não estava dos melhores, por isso preferi fechar a própria garrafa e deixar com que ela me derrubasse. Já estava tudo pago, inclusive o Taxi.
Reparo nos movimentos alheios. Um velho com uma garota que poderia ser sua neta, mas ela estava com ar de pegada. Duas garotas que se beijavam, um casal conversando enquanto a moça passava seus dedos na borda de um como com Martini e lá no fundo estava ela, sozinha, com ar de perdida e olhos que olhavam o nada. Senti que ela precisava de alguém, de um toque ou qualquer pessoa que ficasse ao seu lado e dissesse coisas que ela precisava ouvir.
Minha garrafa estava no fim. Sorvi o último gole do velho Jack, me levantei, arrumei o terno e parti em sua direção. Sarah agora cantava “How Important Can It Be” e talvez isso tenha me dado coragem de chegar perto daquela linda garota, de cabelos pretos, olhos de esfinge, lábios vermelhos como o mais puro dos sangues e pele tão linda quanto o sorriso que ela esboçou quando percebeu que eu chegava em sua direção.
Eu não tinha o que dizer, então procurei ser o mais simples possível e tentar uma clássica abordagem. Cheguei ao seu lado, pedi licença para sentar, olhei em seus olhos e perguntei:
- Olá, doce garota. Por ventura seria teu pai algum estilista?
- Não, por quê? – Me pergunta a doce garota.
- Percebi. – respondo e completo – Porque esse seu ton sour ton está tão demodê, tão outdated... Ah, e essa sua saia drapeada é o ó!
Fiz a egípcia e sai em seguida, sem ao menos olhar para trás