" PAU DA GROSA "

Lá na minha cidadizinha tem um lugarzin istratégico mémo... Fica bem na praça da matriz, iscorado num coretin qui tem lá. Lá tem um banquin dicimento e uma arvinha c’uma sombrinha das mió; Um lugarzin bão mémo, pra prusiá, jugá cunversa fora. É o tár “PAU DA GROSA”. - Mais eu num gostava de ir lá não!

Prurquê é lugá do cabocro falá oqui num deve e ovi oqui num quér, e eu tinha munto medo disso sô - di caí na boca do povo da cidade. Homi munto sero num parava ali não.

Condo dava ditairdinha, inté saí na buquinha da noite, o povo inha chegano du sirviço dileve, cada quale com sua inxadinha, foicinha na cacunda e parava ali pa -papiá, cerrá um cigarrin de paia du amigo, cherá um rapé... Rapé num pricisa pidi não, quem tinha condo via o amigo vino levantava e tirava a latinha do borso e já inha dano pr’ele metê no nariz.

Mais, ôh cantin mardiçuado, viu minino... Ocê iscuita de tudo: Causo, futrica e intriga. Ali sê num vai vê réza de terço, mais pranejamento, inté de macumba.

Os camaradinha gordo, aquêis de barriguinha inxada é os mais sem vergonha, e é cada um burro dum peido quisó sê veno. Condo o povo ispaia pó sabê. Êis chega bateno de lado no tambore oiano de rabo de zói, cum zuin torto mostrano qui o trem ta pronto na caxa, fermentado, sunga as pirninha pa -soprá e chega inté quicá no banquin: próoooooooooooooooooooo. E as risadas isparramada feito GALO MÚSICO, segue acumpanhano o disatino: há...ha...ha...ha.

Nem muié errada arrisca pará ali pru munto tempo.

Um dia sô, ô -tava passano na praça de cabiçinha baxa e passo ligêro, condo um amigo mi gritô.

Ieu tinha ido buscá carosene pás –lamparina e tava mei sem tempo - num pudia delatá munto não.

Cismado, oiei dibanda pru-dibaxo da aba du chapér e vi quêle tava suzin dibá -dessa –arvinha, antão arrizurvi pará muncadin.

Como ele cunhicia meu sistema já foi logo falano qui pricisava mim contá um caso.

iiii rapaiz, pra quê!!! Eu garrei e falei ansim cumigo mémo - é hoje quieu vô caí na boca do povo tamém, se o papo istendê eu tô arrazado!

Mai -como eu tamém tava pricisano munto incontrá cum este homizin cabei delatano ali qüele, e garramo fêi na prosa.

Nuquele mi pringuntô:

- Sê tá sabeno, Mandruvachá?

Inhanti dêfechá a boca rispundi digalope:

Sei de nada não, sô!

Ricibiado já cumecei arredá o pé.

- Vem cá sô, né nada dimais não - pó ficá.

Foi condo falô cumigo qui si tratava dum sujeitin cunhicido antigo meu, ai pensei ansim:

Vão vê oqui vai dá - niquém ele tá quereno metê a lenha.

E ficamo assuntano.

Ai ele falô:

- sê tá lembrado du Peitudin, Mandruvachá?

- O peitudin sô, fii du gerardo torremo, lá da grota vantuir, num é o mais véi não, é o du –mei - o do pé grande... Aquele sô, qui ta casadin di pôco!

- Tão dizeno puraí quele casô e foi morá de parede e meia com a sogra, e praquê rapáiz;

Diz quela tá invorveno ca -vida dele, a véia num tá dano sussêgo ê -mais -não - martelano a cabeça dele, atazanano, mandano arrumá um sirvicin pr’ele fazê. Num tá quereno dexá ele ficá oiano o tempo passá não.

Ai rapaiz, ele ficô mei-qui aburricido prurquê num quiria abandoná a famia qui tinha adquirido dipôco, a muiezinha - mais tamém num tava guentano a giriza da sogrinha, antão num dia bem quidimanhiicidin inhati mémo du sór nascê, levantô, passô uma aguazinha pa -cara-afora, tomô uma sobrinha de café dionti mémo, pois um parzin de rôpa na burcinha e picô a mula, pegô a premêra condução; Foi pra cidade vê si fichava.

Chegô lá nu distino, já tava aberto a compania (pegano no laço) e ele foi logo falano cum homi qui tava varreno a bêra du portão: - Eu tô pricisanno trabaiá!

- Quarquér coisa, qui o sinhô arrumá pra mim eu faço, num tô iscoieno sirviço não, num posso é vortá pra casa dipressa!

Aiii o camarada falô ansim qüele:

- Aqui nois gosta é de gente dicidido mémo, pó -cabá di chegá quiovô chamá arguém pa -ti –acumpanhá.

Meiquisafisfeito antão foi entrano, aí logo apareceu um homi dizeno qui era incarregado da tuirma, e pringuntô:

- Sê sabe fazê oquê cumpanhêro?

- Eu faço quarqué coisa, lá na roça eu carregava inté duas caxa de tumate na cacunda - num vô isbarrá cum tamanhe de sirviço não sinhô.

Ele falô ansim quereno vê se dexava uma boa apresentação de cara mais trabaiá qué -bão num era qu’ele não.

O incarregado mais qui dipressa falô quele inha sê operadô de chibanca na linha de trem.

Ai ele ficô ainda mais imporgado e curioso quereno vê a máquina qui inha operá, já se via dento do niforme de maquinista... Achô qui inha guiá o trem - prurquê via o trem passá diveiz incondo apitano, e achava aquilo bunito.

O incarregado antão levô ele pr’um combin onde ficava as ferramenta e jogô na sua mão a tár chibanca, e foi falano ansim:

- Vão lá pra linha, vão lá pra linha procêis cumeçá o sirviço.

O cabra na hora qui sintiu o peso da chibanca virô e priguntô o incarregado pela máquina quele inha operá.

Antão o incarregado ritruca cum are de graça e arrogança:

- Uai minino ocê num cunhece ferramenta não?

Taí a bichona na sua mão, é isso aí quiocê vai operá, peitudin!!! - Vamo vamo, vamo quivamo o dia é grande.

Esse sujeitin oiô pr’ele cum zuin mole e meiquiabatido, disacursuado e decepcionado, mais lembrô tamém du fragelo da sogra e deu jeito de incriná o peitin pa -frente e foi pru campo. Cond’ele chegô nu lugá de trabaiá ditão quente quitava o sór, o are inté trimia, levantano uma fumacinha cinzenta. E o peitudin antão cumeçô levantá e descê chibanca num batido só, dava cada uma burduada cum aquilo na linha de ferro, e fazia ansim: tiin... tiin...tiinn, saínha inté fogo - compôco tempo a camisinha ficô moiadinha.

Condeu puvorta das nove hora da manhã os braço do moço bambiô e num guentava levantá a chibanquinha mais purnada... Com istamin no fundo, ocado de fome nem roncá roncava mais - já tinha sussegado. Antonce cumeçô dá nór pru tempo passa; Feiz um cigarrin pois nu beiçe e ficô ali sortano fumaça iscorado dibaxo duma sombrinha, murcegano - e o incarregado de longe oiano o pézin dele.

Puvorta do mei -dia, chamaro pa –armuçá:

- Tá pronto, pó vim armuçá!

E o peitudin, custumado armuçá dimanhancidin, correu pra sê o premêro. Na hora qui chegô na fila do restorante ele tornô iscorá na parede e foi acumpanhano a fila dileve cum as vista imbaçada - chegô inredó das panela dicumê zonzo; Deu de mão num pratin e já foi colocano mantimento nu prato - e deu qui tinha umas 7 qualidade de fejão, e tinha um fejaozin branquin separado, ele cresceu o zói nele e forrô o pratinh.

Falô ansim só com ele mémo: - Pudizafô eu vô isprementá dêistudo.

O cumpanhirin qui tava atráis cum fome tamém, quereno quiafila andasse dipressa falô qüele: - sê só vai colocar fejão nu prato?

- Tem mais umas coisinha ai sô! - Sê num gosta de carne não!?

- Haaann, carne é o que eu mais gosto... ná -mola não sô, quarqué coisa dô duas viagem - tô ligano não!

E continuô encheno o prato. De fome os bracin trimia tanto qui cumeçô cair fejao, macarrão, torremo no chão e a hora quele cunsiguiu sentá, pur onde ele passô ficô o rasto que inha caino du prato.

Meiquinvergonhado, sentô di cabiçinha baxa e num deu idéia praquilo não. Entrô de cuié.

Doido pa -isprementá do fejazinho branco, mais sem jeito de cumeçá a dá garfada pruquê o prato tava cheio divera, incheu com vontade a cuezinha e pois na boca, cond’ele viu qui o fejazinho branco nuntava cuzidin como dicustume tentô dizocupá a buquinha, mais o pessoár du lado tava de zói e sigurano pra num ri da giriza, antão afobado ele pegô e inguliu o trem de quarquér manêra passano dipressa pru lado dum bifin inervado quitava quais caino du prato - e começô a sambá cum aquilo na boca prun lado e pr’otro, como ele num tava dano conta de dá fim nele disistiu de mastigá e isticá ele cum a ponta do garfo, e inguliu o bifão intêro tamém.

iiiiiiii rapaiz... e o trem qui parô na guéla do peitudin.

Safocado, a respiração fartô, o pescoço ingrossô e a veia intempo de rebentá pois ele afrito a ponto de infartá. Pa -morrê mémo. Ele pegô e levantô istrovado da cadêra pa-corrê pru banhêro e cabô discontrolano num tombo só, mesa e cadêra acumpanhô ficano cum os pezin parriba e o pratin vuô (kkk) - a valença quêcaiu com o diafrague na cacunda du prato e a pressão do tombo na boca do istongo feiz o bifão saí pra fora feito uma bomba, mais muncado de mantimento tamém cumpanhô. Deu munta sorte que o prato num quebrô senão ele tinha murrido mémo. O incarregado qui tucaiava num isperô nem o moço pegá otro pratin, e já foi dano a cartinha na mão dele dispidino du sirvicin, sem dereito a nada, nem a cumê traveiz.

O Peitudin antão vortô e num sai daqui do PAU DA GROSA, é o mais depravado, vive prusiano dia e noite com os barriguinha inxada fazeno raiva na sogra.

Falá nisso lá invem ele... Ispia o andado dano dibraço - ói qui marmota Mandruvachá, vê se ocê lembra dele?!

Viu não?! - Alá sô, ele passano prurriba da ponte do Muriquim - agaranto qui tá vino pra cá.

Peraí Mandruvachá, peraí sô... Ao rapé ó, toma!

E eu, isperei? - Sê bobo rapaiz, chispei na perna.

" OUÇA UM DE MEUS CAUSOS, AQUI NO RECANTO DAS LETRAS."

Mandruvachá
Enviado por Mandruvachá em 26/08/2013
Reeditado em 22/12/2015
Código do texto: T4452742
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