O DIABO NA JANELA

Aquela moça era bonita que só vendo. Ficava a manhã toda na janela arrumando os cabelos trançados, ora botando papoulas, ora botando girassol, ora pintando as unhas, ora botando batom, sempre sorrindo com a boca vermelha para os moços que passavam em frente da casa, só pra ver a boniteza dela.

Mas aquela moça não queria casar com ninguém dali. Os rapazes faziam serenatas, mas tudo em vão. Ela não se engraçava com nenhum. Dizia assim para a mãe dela, que quando um rapaz era bonito, era pobre e quando um era rico, então era feio de fazer dó.

- Desse jeito tu vai é ficar no caritó! Tu vai é pro barril! Num abra do olho não, procê ver! Boniteza o tempo leva como poeira! Vá rezar o credo que é melhor! – Ralhava a mãe com a moça bonita.

- Ah, mãe! Eu quero casar com um rapaz que seja bonito, rico e que venha me buscar todo vestido de vaqueiro, montado num cavalo preto e lustroso, com os arreios de prata. – Sonhava a moça.

- Vá rezar o credo que é melhor! E cuidado com os desejos do seu coração! – Admoestou a mãe.

Um dia a moça estava na janela enfeitando os cabelos, como assim era costume, quando parou um moço bonito, vestido de vaqueiro. Parecia ser muito rico e ela notou os arreios de prata do cavalo. Ele apeou, puxou o cavalo preto lustroso até a janela. Ela sorriu-lhe encantada e disse sem ponderar:

- Moço bonito, quer casar comigo?

- Caso sim, mas só não pode ser na Igreja, pois eu lá não posso entrar.

O moço bonito sorriu com a boca escancarada cheia de dentes de ouro. A moça estremeceu de tanto medo que ficou com todos os cabelos brancos. Ela viu que era o Diabo em pessoa. Aí ela se lembrou de rezar o Credo, como lhe tinha ensinado a sua mãezinha. Quando acabou de rezar, o vaqueiro fez uma careta muito feia, se contorceu todo e soltou um arroto podre, fedorento a enxofre. Quando a moça fez o sinal da cruz, o Diabo estourou e sumiu junto com o cavalo preto lustroso de arreios de prata.

A moça nunca mais ficou na janela a enfeitar os cabelos trançados. A beleza se foi como poeira. Também pudera. Não se deve bulir com quem está passando quieto na estrada.

(Adaptado duma história de Ruth Guimarães Botelho)