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A ANIMADOR DE VELÓRIOS

Continuação
(Segunda e última parte)         
        

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           ...este começou a falar de um outro acontecimento, que segundo ele não era piada nem causo, mas verídico.
 

          - Lá pelas bandas do Rio Tigre. – Começou ele. – Lá longe onde o vento encosta o cisco  e o Judas perdeu as meias. As botas foram um pouco pra cá, aconteceram umas coisas engraçadas. Parecem piadas, mas dizem que é fato. Está aqui o compadre Manoé que não me deixa mentir sozinho.
 

          Nessa hora os ouvintes fizeram silêncio. Só se ouvia o barulho do chimarrão quando alguém chupava na bomba. Uma tosse, um pigarro, mas nada de conversas. Se alguém tentava interromper, eram unânimes em chamar a atenção, para que o homem pudesse contar sossegado e todos entenderem.
Jango continuou:

          - Nesse lugar morreu um homem. A família estava construindo uma casa de madeira. Esta estava com o telhado, mas sem os assoalhos. Este foi improvisado com  tábuas soltas. Ali velaram o dito cujo. Colocaram a mesa com o caixão.  As madeiras por falta de fixá-las cediam cada vez que alguém pisava. O defunto balançava de um lado para o outro.  Quando foi lá pelas tantas, as madeiras que a mesa estava apoiada cederam.  O corpo caiu assustando todo mundo.  Foi um reboliço danado. Várias pessoas mergulharam na escuridão. No corre-corre uma mulher pisou em uma das tábuas e esta afundou derrubando a vivente que acabou quebrando uma perna. Um camarada fugiu pelo taquaral fechado e escuro. Ficou escondido atrás de uma imbuia.  Outro com o susto veio na disparada por um carreiro na direção daquele que estava atrás da árvore.  Este levantou  e com um grito de desespero, caiu desmaiado. O que vinha correndo também bradou desesperadamente pedindo socorro e também desmaiou.  Algumas pessoas da família  que não se assustaram tentaram acalmar os demais. Ouviram os gritos assustadores e foram atrás. Encontraram os dois desmaiados, um de um lado, o outro um pouquinho mais adiante.  Chegaram até eles. Alguém teve a ideia de fazer massagens. Com isso os dois se refizeram. No final se reuniram todos no mesmo salão por terminar. Viram o que realmente havia acontecido, o que foi a causa de tudo aquilo. O choro pelo morto virou em várias gargalhadas das pessoas que riam de si mesmos. O defunto continuava inerte no caixão, porque depois desse episódio, os veladores cuidavam ao pisar nas tábuas do assoalho improvisado.  A mulher com a perna fraturada foi levada para o hospital que distava mais ou menos cinquenta quilômetros dali... E Jango terminou a história.
 

          O padre pároco do local ao celebrar a missa fúnebre, não conseguia rezar sério. Ele estava lá em volta do fogo também, ouvindo tudo. Ouviu do começo ao fim.
 

          E o homem conhecido por Jango, ficou cada vez mais famoso na região. Era conhecido por  “Animador de Velórios”.
 
(Christiano Nunes)