O MENINO E O CIRCO

O Menino e o Circo

“... perdido por perdido, truco!!!...”

No final dos anos 40, mais precisamente em 1 949, no Patrimônio de Roseta, acabei conhecendo algo que era totalmente novidade no meu campo do conhecimento. Um Circo. Nunca tinha visto antes tanta gente junta e com a alegria que demonstrava no momento. Era comum ver até mais pessoas juntas, mas nas Missas celebradas pelo Padre Carlos Dietz. Embora se tratasse de aglomeração de pessoas, e até em maior número, era muito diferente. Era tudo misterioso. Aqui as pessoas estavam compungidas por Fé ou temor a Deus. Mas criança não gosta disso. Quer movimento. Quer ação e nada de reflexão. O Circo correspondia à mais infantil das expectativas. Era festa, e por isso ali tinha muita alegria. Esse primeiro circo tinha, para nós, um nome pomposo: GRANDE CIRCO DO VARETA. Vareta acumulava o cargo de dono e palhaço da tenda de espetáculos. Foi no primeiro espetáculo que assistimos à nossa primeira obra teatral tendo como astro principal o já referido herói. Foi ali também, um pouco antes e durante o espetáculo, que conheci uma encantada e saborosa guloseima: o pirulito. “... quem tem dente chupa cana e quem num tem come banana...”, alardeava o jovem vendedor. Todos os Pais, todos os filhos juntos praticavam a mais organizada e bonita algazarra. Na Missa tinha que ter Fé (ninguém nunca sabia o que significava) e temor a Deus (coisa que nunca entendi: Como é possível temer quem é Suprema Sabedoria e bondade?). Aqui era diferente. Tinha alegria e não era uma obrigação... Depois vieram outros: CIRCO DO CARRAPICHO (onde ouvi pela primeira vez a imortal canção de Mario Zan: CHALANA. “... lá vai uma chalana, bem longe se vai, navegando no remanso do Rio Paraguai...”. CIRCO DO BUGIGANGA (temos hoje ainda um amigo com esse apelido que foi baseado na passagem do grande artista).

Pois bem, vamos ao “Causo”. Entra em cena um casal representado pelo palhaço Vareta e sua mulher Espertina. Só a apresentação das figuras foi suficiente para que as arquibancadas do circo todo quase viessem abaixo (não tinha lona de cobertura até porque não precisava). Aí eles passam a narrar o dia a dia da vida do casal. O humor estava na forma e não no conteúdo das falas. Foi daí que Vareta narrou um “briga braba” que teve com a Espertina. Só não teve agressão física, mas nomes e xingamentos impróprios para menores e maiores em qualquer hora do dia ou da noite, foram a tônica dominante da contenda. Por uma questão de justiça não ficou esquecido nenhum nome de parentes de ambas as partes “... É craro qui ganhei a briga, sei que sou bão nisso...” Ai, disse ele, que a represália ficou por conta da Espertina (que também era boa nisso). Na cama de casal ela colocou uma tábua separando os dois. Os dias foram passando e nada de trégua. Algum tempo depois, não sei por que o Vareta espirrou... E Espertina de lado respondeu: Deus ti ajude!!! E ele mais que depressa: Então tira a tábua do meio!!! O circo quase veio abaixo numa estridente e coletiva gargalhada.

E agora o que ninguém pode negar é a criatividade do Caipira. É quando entra em cena minha Mãe (e Vó Natalina). Quando nas conversas tinha que “treler” como a vida de algum casal em desentendimento ela dizia: “...parece qui eles tão cum a tábua no meio...” (oldack/18/12/011). X

Oldack Mendes
Enviado por Oldack Mendes em 18/08/2013
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