POR FAVOR, SALVEM A MICHELE
- Vem aqui vem, meu amor, deite-se a meu lado, deixe-me acariciar esse seu corpinho macio, deixe-me olhar de perto esses olhinhos azuis que nem o mar consegue imitar.
- Humm! Tá cheiroosa! - dizia o jovem Carlos, romântico, esfregando o nariz ao corpo de sua adorada companheira estando os dois a sós em casa.
- Minha mãe não pode nos pegar aqui, ela não gostaria de saber que nos deitamos juntos quando não está em casa.
- Vem meu amor deite-se sobre mim, deixe-me sentir seu calorzinho, seu leve respirar ao meu ouvido. Vem meu amorzinho!
De repente um curto-circuito no ar condicionado do quarto começa a espalhar um cheiro de queimado no ar, logo brota uma chama que sobe pela cortina, o fogo se propaga rapidamente.
O rapaz pula da cama, Michele corre para a cozinha. O jovem sai pela porta da sala para pedir socorro com o celular à mão, a fumaça já é densa e toma a conta de todo o apartamento. À rua abaixo uma pequena multidão exclama a cada labareda cuspida pela janela.
Ouve-se a sirene do carro do corpo de bombeiros que se aproxima. À rua o rapaz desesperado andando de um lado para o outro com as mãos na cabeça:
- MEU DEUS!!! ELA VAI MORRER!! NÃO CONSEGUIU SAIR!! SALVEM A MICHELE, SALVEM A MICHELE!
Os bombeiros chegam, logo instalam a mangueira no hidrante mais próximo e sobem pelas escadas com ela nas mãos. Carlos se agarra a um deles aflito e pedindo:
- SALVE A MICHELE, POR FAVOR, SALVE A MICHELE!
- Em que cômodo da casa ela estava quando o fogo começou? – perguntou o sargento.
- ELA ESTAVA NO QUARTO E CORREU PARA A COZINHA!
- Fique calmo, vamos resgatá-la. – disse emocionado o homem e gritando para seus comandados:
- VAMOS LÁ PESSOAL, VAMOS SALVAR A JOVEM CUSTE O QUE CUSTAR!
Depois de muita água e fumaça finalmente o incêndio é controlado. O apartamento fora quase completamente destruído, mas nem sinal do corpo de Michele. Carlos, desesperado chorava agarrado a mãe que chegara e acompanhava a tragédia.
O sargento sem saber o que dizer, pois não encontrara nenhum corpo humano carbonizado, ao voltar à rua:
- Desculpe, não achamos a Michele, você tem idéia de como ela fez para escapar, será que não está aqui no meio do pessoal?
- NÃO! ELA PODERIA TER SUBIDO EM CIMA DA GELADEIRA!
- EM CIMA DA GELADEIRA? – pergunta o sargento intrigado.
Foi então que aquela gatinha branca, que se escondera debaixo da pia , coberta de fuligem saiu miando calmamente do apartamento. E, sob os olhares admirados de todos o rapaz agarrou-se a ela feliz e exclamando, carinhosamente:
- MICHELE, MINHA QUERIDA. GRAÇAS A DEUS VOCÊ ESTÁ VIVA!!
Nada pagaria os momentos de apreensão e tristeza vividos pelos bombeiros minutos antes e nem o constrangimento de após, mas eu
não me recordo de haver me divertido tanto quando olhando a cara de raiva e vergonha do sargento, mesmo diante de uma situação,aparentemente tão trágica.
Homenagem ao colega de infância e juventude, Carlos Augusto que me inspirou esse conto e além de ser um dos amigos mais inteligentes que
tive,também foi um centro-avante goleador, de chute forte e certeiro.