Valha-me Deus
Estávamos nós lá no meio do cerrado.
Colhendo gabirobas.
Enchendo os caldeirõezinhos,esses bem areados.
Despreocupados da vida.Na maior prosa.
O sol ia baixando,um lindo fim de tarde.
Tudo tão tranquilo,até que ouvimos a Tonha dizendo aterrorizada:
-Valha-me Deus! De olhos arregalados fazendo o sinal da cruz.
-Valha-me Deus!+
Arrepiamos até a alma.Ficamos em silêncio.Paralisados.
Uma algazarra de gente,vinha em nossa direção.
Como se pegassem o rumo da roça.
E quanto mais se aproximavam.Mais sem cor nós ficávamos.
Até que:Os caldeirões voaram de nossas mãos.E cortamos o mato no peito.Num fôlego só.E ao passarmos por baixo da cerca.A quilômetros de distância,respiramos e olhamos pra traz.
-Valha-me Deus!como num coro ensaiado!-Valha-me Deus!
Em cima do murundu um homem de chapéu quebrado na testa.
Nos perguntou: -Onde vão assim.Com tanta pressa?
E no ar desapareceu...
-Valha-me Deus!
Nunca mais voltamos lá.Nem pra buscar os caldeirões.
E ninguém acreditou na gente.
Ainda hoje,quando me lembro.Arrepio até a alma.
-Valha-me Deus! Eram almas de outro mundo.