O Abobado
No meu tempo de infância, ouvia pessoas falarem sobre doenças mentais em termos pejorativos, muito comum na época, talvez devido a falta de cultura, não conheciam outros termos além de doído, louco, pirado, retardado, mongoloide, abobado e outros politicamente incorretos. Hoje. o povo já define estas enfermidades dentro dos termos médicos.Existe um cuidado para não constranger pessoas com doenças estigmatizadas.
Meu pai contava a história de um rapaz, que a própria família o tinha como um abobado. Sua história é a seguinte: nascera de um incesto, a família ficou envergonhada e deu a criança para uma caridosa senhora, a criança foi crescendo parecendo saudável, mas com o tempo descobriram a deficiência mental. Naqueles cafundós de Minas Gerais, pensar em assistência psicológica era uma missão impossível, o menino foi crescendo a deus dará. Já na adolescência, um rapaz bem comportado, obediente e muito apegado com a mãe adotiva. Era muito calado. Às vezes falava com dificuldade e tinha trejeitos e risos patéticos. Escola nem pensar, se para outras pessoas ditas normais, era difícil, quanto mais alguém com necessidades especiais.
A mãe adotiva era dona de um sítio, os filhos foram casando e mudando, só ficou o abobado, mas era boa companhia, ajudava-a na lida diária. Só um filho desta senhora, já casado ficou morando mais ou menos perto da mãe, a finalidade era ajudar cuidar da mãe e do rapaz com deficiência mental. De vez em quando matava um porco “capado” que sua mãe engordava. E era picado e condicionado numa gamela. Esse filho casado criou o hábito de tomar o café da manhã com a mãe. Ficava da casa dele vendo a hora da fumaça na chaminé, quando a fumaça subia era sinal que o café e a broa de fubá estava no jeito. Numa manhã a fumaça não dava sinal. Seis e sete horas, nada, o filho preocupado Fo i ver o que estava acontecendo, ao chegar deparou-se com quadro macabro; sua mãe havia sido morta pelo rapaz e toda picada dentro da gamela, ele estava ajoelhado no quarto com um terço na mão e chorando. Meu pai conta que o abobado foi levado pela polícia com um machado sujo de sangue para o manicômio de Barbacena MG. Nunca mais viram este rapaz.
Lair Estanislau Alves.