O CÃO E O GATO NO VELÓRIO DE SEU DONO

Zé pão foi um elemento letrado, politicamente falando. Porém tinha um coração de pedra era individualista ao extremo. Afirmava que o fato de não gostar de banho, era uma questão de procedência, estava no sangue francês que corria em suas veias.

Descendente de família rica viveu o seu tempo revoltado e lamentando o fracasso do pai, que embora tendo herdado uma fortuna, acabou na miséria, enquanto os seus tios que foram bem sucedidos, viviam no luxo,como afirmava. Sua revolta maior era pelo o fato de o pai perder um grande patrimônio, terminando a vida sustentada por sua mãe trabalhando dia e noite numa maquina de costura, com ele e os demais irmãos trabalhando no pesado para se sobreviverem.

Gabava-se por suas inúmeras inimizades conquistadas através de suas picuinhas desnecessárias. Afirmando ter 158 inimigos dentro do Engenho do Ribeiro, e que pretendia muito em breve completar os 200. Já batendo nas travas de seus oitenta anos, dizia que não morreria tão cedo, nunca sentiu uma dor de cabeça se quer. Morreria sim com 200 anos ou mais, e pretendia na véspera de sua morte contratar quatro pessoas, e remunerá-los bem, para cuidar do seu funeral e carregar seu caixão até o cemitério, deixaria tudo pago para não dever nenhuma obrigação. Isso lhe bastaria e seria o suficiente. Não queria mais ninguém nem mesmo seus parentes deveriam o acompanhar, o que, aliás, era bem provável que seria poucos, pois os mais próximos já estariam todos mortos.

Enganou-se redondamente, uma tarde, estava ele sentado num banco da pracinha onde fazia ponto e costumava discursar sua vã filosofia, pregando seu radicalismo, e conquistando suas inimizades, sentiu um ligeiro mal estar. Levaram-no às pressas para o hospital, antes da meia noite ele era colocado no necrotério, a espera de seu caixão.

O único fato que mexeu com o sentimento comunitário e nos deixou encabulados, foram seus dois animais, um cachorro e um gato.

Sua residência situada a mais ou menos um quilometro da praça, onde ele se encontrava no momento em que foi conduzido para o hospital, segundo afirmou o taxista que o socorreu nenhum de seus animais se encontravam no local.

Na manhã seguinte seu cachorro e o gato compareceram no salão onde ele foi velado, permaneceu La durante o velório e o acompanharam até o cemitério. Alguns depois foram vistos nas imediações do cemitério por várias vezes até que desapareceram. Se houve lágrimas pelo falecimento, além das de crocodilo, foram apenas de seu dois animais os únicos amigos que lamentaram sua morte.

O cão é comum esse procedimento, tem diversas provas, mas o gato nos deixa pensativo, talvez este fator tenha ocorrido por sua afinidade com o cachorro, acostumado com ele na residência do dono, mas daí há acompanhá-lo para o velório nos deixa um tanto apreensivos.

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 05/08/2013
Reeditado em 05/08/2013
Código do texto: T4420711
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