A FAROFA

A FAROFA

Dia ensolarado, seca incremente, sol à pino, uma calma medonha, calma por dizer no nosso sertão é quando o dia tá muito quente, tudo fica parado, passarinho não voa, galo não canta, vaca não berra e principalmente o vento não sopra e olhando para a floresta não vemos uma folha seque se mexer, isso é uma calmaaa.

Pois bem, foi neste cenário que meu tio Eujácio Pontes rumou pelas veredas secas e caatingas ressequidas lá pros lados do Alto Alegre, sua fazenda, juntamente com seu vaqueiro Antero à procura de algumas cabeças de gado que se encontravam , Deus sabe onde, lá pros confins do sertão.

Acordara no cagar dos pintos, bem cedinho. Cassimira , sua mulher, já havia feito o café e a farofa para o marido almoçar quando a fome apertasse.

Vamos logo Antero, vamos ver o gado que está solto porque deve ter alguma vaca parida e temos que trazer para a sede e cuidar .

Segue Antero na frente com o velho facão a cortar os galhos dos espinheiros para o patrão passar sem se arranhar. Corta de um lado, corta de outro, chegam a uma vereda onde o verde de messes atrás é substituído pela paisagem seca e macerada do capim agreste. O solo endurecido por muitos dias de sol, ressoava um barulho oco ao ser pisado pelos cascos dos cavalos. A lagoa que beirava a serra agora mais parecia um deserto encalombados, onde pululavam borboletas de diversas matizes lambendo restos de uma lama esverdeada consequência da seca extenuante que enchia o sertão de uma soledade

intérmina.

Já haviam andado muito, mas muito mesmo, os cavalheiros que saíram altivos e indômitos agora já cavalgavam de lado para descansar a traseira, uma hora um lado, outra o outro, e nadica de gado...

Já lá pás três horas da tarde a fome bateu no buxo. Eujácio meteu a mão no alforge para se certificar se a lata de farofa aínda se encontrava lá.Tava, aínda quentinha da silva! Nesta hora lembrou-se que seu companheiro Antero, por ser um homem grandão, também era um comedor exemplar. Pensou se eu abrir esta lata aqui vou comer só a tampa, porque Antero tá torado de fome e com duas bocadas Adeus farofa. Neste momento iam se aproximando de um morro muito grande que dava acesso pelos dois lados, Eujácio arquitetou: Antero prá gente não perder tempo, sabe?, você arrodeia aquele morrão alí pelo lado direito que eu vou pelo esquerdo e nóis encontra na frente, tá?- Antero obediente e respeitoso, respondeu: Nhossim, sim senhore...Antero esporou o cavalo e partiu pelo lado direito e Eujácio por o outro lado, separando-se como meu tio queria....Eujácio andou uns duzentos metros, virou o cavalo ladeira abaixo rumo a uma grotinha que sempre tinha um olho dágua, pois ele bem conhecia a região, desamontou, andou um pouco com as pernas meio entrevadas, sentou-se embaixo de um pé de sambaiba e tome-lhe farofa, tome farofa. E Antero inocente tá que rodeia o morro...Eujácio comeu com tanta pressa e gulodice que quando secou a lata tava entalado total, saio meio de quatro na direção da grotinha dágua que era a salvação, mas que nada, com a pressa de comer não olhou antes a grota e para seu espanto a grota tava mais seca que lingua de lagartixa em lasca de aroeira. Entalado tava, entalado ficou. Começou uma suadeira no homem o pescoço foi-se estirando como galo velho de gôgo, começou a arroxear, quando tava nas últimas chegou Antero.-Home o que qui foi homem de Deus, alguma cascavé!!! Mas vendo a lata jogada alí do lado adivinhou o que se passava. Eujácio que não conseguia falar, fazia um gesto dramático com uma das mãos solicitando a Antero um tapa nas costas para o seu desentalo. Antero compreendeu, mas com mais raiva de que pena deu um morro tão grande nas costas do patrão que o tufo de farofa caiu dum lado e Eujácio do outro. Eujácio já recobrado berrou, Que que é isto Antero que me matar home?!!!- Não senhoro, é só pra vancê aprendê a comer farofa escondido......