Aborto
" Desde o dia que comecei a me desenvolver, posso ouvir meus pais discutindo. Minha mãe chora todas as noites e eu sinto algo batendo forte onde estou. No choro de minha mãe, consigo perceber raiva, mas não de mim, pois ela alisa a barriga enquanto chora. Não consigo dormir com tanto brulho, então começo a brincar com meus novos membros. Minha mão é uma coisa interessante. Meus dedinhos já começaram a se descolar.
No dia seguinte, minha mãe acordou bem cedo, enquanto meu pai vai trabalhar. Toma seu café e sai. Sinto sua barriga tremer. Oh, não, está chorando novamente, parece ter pressa.
Essa voz me é familiar: tia Ana! Minha mãe começa a contar o que está havendo e parece que meu pai quer que ela faça um aborto. Eu não sei o que é um aborto, só consigo escutar tia Ana repreendendo-a, enquanto minha mãe diz que o amor pelo meu pai é maior. Elas se despedem e minha mãe começa a conversar com uma pessoa que chama de médico. Enfim minha mãe deita, acho que chegamos em casa e já está na hora de dormir. Ela parece nerv... Ei! Isso é minha perna, deixe-a aí. Tá doendo. Não puxa assim, não. Ei, minha mão. Não puxa minha mão nova. Tá doendo muito..."
Minha mãe queria uma menina... Eu era uma menina.