A CHEGADA TRIUNFAL DE DOMINGUINHOS
É Gonzagão quem apresenta:
- Rapaziada, tá chegando no pedaço o meu representante.
Um alarido da gota serena. É cochicho daqui, dali, dacolá...
- Olha a zoada! Favor se aquietar em reverência ao pernambucano mais paulista da música brasileira! - grita o rei do baião.
Desse jeito é que entra em cena Seu Dominguinhos. Tá ele lá agora, 'garrado' na sanfona e se amostrando pra galera, zoando com aqueles que só aprenderam música em conservatório. E como toca esse cabra da peste!
Completinho: toca, canta, interpreta. E nós, aqui... varados de saudade e de carência e de pobreza musical.
- Arre, égua! E tu deixaste quem em teu lugar, homem? - indaga João do Vale.
- Gil ainda tá lá... - justifica o recém-chegado. - Tá lá e tá na ativa", completou.
- Minha Nossa Senhora, meu medo é ele tentar carnavalizar o baião e deixar nossas pérolas nas mãos de Preta. Aquilo, pra virar notícia, não pensa duas vezes em regravar tudo em ritmo de 'funk’', 'breganejo' ou sabe-Deus-mais-o-quê... - assevera Gonzaguinha.
A um canto, doido pra arrematar a discussão e voltar pra função, Jackson do Pandeiro tranquiliza a turma:
- Tá tudo certo, pessoal. Por garantia, Israel Filho ainda tá lá. E firme que só vendo. Além do mais, isso não é o fim do mundo, não. Daqui uns dias, se a coisa ficar séria, a gente volta lá e faz tudo pegar fogo de novo...
Vinicius, enquanto completava o copo de Clara Nunes e de Elizeth Cardoso, fez um aceno a Tom Jobim, que estava perto do interruptor, pra deixar o ambiente à meia-luz. Pois é... e a partir desse momento, o zabumba, a sanfona e o triângulo invadiram o ambiente. O resto, é só imaginar: se aqui na terra, que o povo é danado pra se cansar, o “arrasta-pé” costuma varar o mês, imagine lá?...
São Paulo, 23/07/2013 – 21h00