Tufo, O Cãozinho Valente.
Tufo, O Cãozinho Valente.
Conheci um homem, chamado Manoel, que tinha muitos cães em sua casa. De todas as raças, todos os pelos. Alguns muito bravos outros muito mansos. Como era pessoa pobre, ele mantinha os animais a muito custo, arrumava comida entre os vizinhos, comprava outro pouco e ia levando a vida. Um dia ele me perguntou se eu não queria um cachorrinho. Vendo as dificuldades que passava para manter os cães, achei de bom grado aceitar, mas lhe disse que ele mesmo escolhesse algum, não tinha preferência. Feito o acordo, depois de alguns dias ele me apareceu com um cachorrinho peludo, feio, magro. Tinha dentinhos finos e afiados. Peguei o cãozinho, fiz um carinho para ele se acostumar comigo e o levei para casa. Deixei solto no pátio, dei-lhe água e comida. Vi que comia muito pouquinho. Arrumei uma casinha bem forrada e onde se manteria seco e aquecido. O Terreno era fechado, e então ele não fugiria.
Por algumas semanas o cãozinho, a quem dei o nome de Tufo porque nem seu dono de origem sabia ao certo por qual nome atendia, pois eram muitos os cães que possuía, permaneceu no pátio, comia pouco, bebia pouca água, chegava perto de mim, aceitava os afagos e permanecia o resto do t empo deitado. Não aparentava doenças, mas mesmo assim um veterinário veio vê-lo. De fato, declarou que Tufo estava bem de saúde.
O tempo foi passando até que certo dia Tufo saiu para a rua por um buraco. Andou por ali e retornou. Acostumou-se a sair e retornar para casa. Caminhava longas distâncias, voltava e ficava deitado na sua casinha. Quase nunca latia à noite, nem avançava em pessoas adultas nem crianças. Era um bom amigo.
Quando encontrava Manoel, este sempre perguntava por Tufo, no que lhe respondia sempre da mesma maneira, afirmando-lhe que Tufo estava bem, não ajudava e nem incomodava, por isso era bem aceito, mas que passava a noite dormindo e não fazia a guarda da casa. É um bom cachorro, mas é igual a ti, não faz nada. Lhe disse certa vez.
Certa feita, as coisas não andavam muito bem ali por perto da minha casa, havia gente rondando, eu sabia, mas nunca vi ninguém, nunca soube de nada, Tufo nunca latia. Eu dormia meio alerta, mas a gente sabe como é o sono, quando chega ninguém o domina. Uma noite, eu dormia a sono solto quando já em alta madrugada acordei sobressaltado. Pois não é que Tufo latia muito e avançava em alguém. Espiei cautelosamente por uma fresta da velha casinha de madeira e vi duas pessoas, estavam tentando pular o muro, portavam algo como talvez um ferro, ou poderia ser uma espingarda, mas o certo é que me pegariam dormindo. O que fariam, não sei, mas foram rechaçados por Tufo, com certeza absoluta.
Peguei uma garrucha de dois tiros .22, efetuei um disparo através de um buraco na madeira da casa, não acertei ninguém, mas foi um alvoroço, os caras fugiram.
Naquela madrugada aprendi a não falar mal de ninguém, muito menos dos cachorros, sem saber o seu real valor, Tufo era pequeno, mas era um cãozinho valente.
Quando de outra feita, encontrei Manoel, contei-lhe o ocorrido com muitos elogios a Tufo.
Passados mais alguns meses, Tufo saiu pelo buraco do portão e não mais retornou, ainda o procurei pelas ruas próximas e com seu dono anterior, mas nunca foi encontrado.