...Quem é ela?...
Ela passou, parou, olhou-me, sorriu, mandou-me um beijo, e foi embora. Foi essa cena que durou menos de dez segundos que perturbou o meu sono a noite inteira. Quem é ela? Essa é a pergunta que eu me fazia sem ter a mínima ideia de como encontrar a resposta. Na verdade, eu nem deveria me importar com este fato, talvez, ela apenas me confundiu com algum conhecido e usou essa forma carinhosa para cumprimentá-lo. Quem seria ele? Eu gostaria de saber quem é o homem de sorte que despertou o interesse daquela bela moça fazendo com que, por algum motivo, ela me confundisse com ele. Então, analisando a situação, indiretamente, eu era o homem de sorte. Mas, que sorte era essa? Ser confundido com o amor da vida de alguém é puro azar. Desfrutar da afeição, do carinho, da dedicação e de um amor que não foram direcionados exatamente à você, é enganar-se. E eu não precisava disso. Então, por que eu não conseguia dormir? Por que eu sentia um enorme desejo de vê-la novamente sem ao menos saber quem ela é? Por que a imagem dela aparecia sempre que eu fechava meus olhos? Eu só queria dormir e esquecer essa mulher que eu nunca conheci. Adormeci. No dia seguinte, como resultado da noite mal dormida, acordei mal humorado. Fui trabalhar e na hora do almoço como de costume, fui comer no mesmo restaurante, sentei-me na mesma mesa perto da janela e fiz o meu pedido. Entretido com o meu arroz á grega, meu bife acebolado, minha porção de salada variada e meu suco de cajá, sinto que tem alguém me observando. Olhei para um lado, olhei para o outro e não encontrei nenhum rosto conhecido. Olhei para frente e ela estava lá. Olhando-me do outro lado da rua e como ontem ela sorriu, mandou-me um beijo e foi embora. Olhei para trás para confirmar que de fato, aquilo tudo não era para mim, e sim, para algum felizardo que estivesse sentado atrás de mim, mas não havia ninguém, apenas algumas mulheres comendo e conversando distraidamente. Perdi a fome e perdi o sono também por mais uma noite. Quem é ela? Quem é essa moça que acreditava que me conhecia. Ou de fato ela me conhecia? Porém, eu, nunca vi beleza tão rara...Acordei novamente mal humorado e fui trabalhar. Na hora do almoço, a rotina se manteve, fui ao mesmo restaurante, sentei-me no mesmo lugar e fiz o meu pedido. Entretido com a fatia de pão que eu mergulhava na sopa de legumes, sinto que tem alguém a me olhar. Mas dessa vez, eu não olhei para lugar nenhum. Continuei o meu almoço ignorando a terrível sensação de estar sendo observado. O tempo passava e a sensação continuava, e eu, comecei a me incomodar. Alimentava-me de cabeça baixa e sentia meu rosto ficando vermelho e quente de vergonha. A sensação passou. Senti-me aliviado, chamei o garçom, paguei a conta e fui embora. Acho que não é uma novidade eu dizer que não consegui dormir de novo. Mas dessa vez, eu não conseguia dormir de remorso, de culpa por ter me comportado de forma tão idiota. Acordei chateado e fui trabalhar. Ansiava para chegar a hora do almoço e me redimir do ocorrido do dia anterior. A hora chegou. Fui ao mesmo restaurante, sentei-me no mesmo lugar e fiz meu pedido. Macarronada, frango xadrez, salada e meu suco preferido de cajá. Comecei comer desejando que a sensação de estar sendo observado chegasse. Eu olhava para todos os lados na esperança de vê-la, mas não a vi. Terminei meu almoço sentindo-me triste e desanimando. Levanto-me para ir embora, olho pela ultima vez para frente e ela está lá, do outro lado da rua olhando-me de um jeito furioso. Apesar da minha timidez, criei coragem e abri para ela meu sorriso mais bonito, e em troca, ela virou seu rosto de forma ríspida e foi embora. Fiquei paralisado sem entender o que aconteceu. Pensei em ir atrás dela mas sou muito covarde para isso. Fui embora. Os dias estão se passando, e eu, continuo almoçando no mesmo horário, no mesmo restaurante, na mesma mesa, olhando sempre pela mesma janela e me perguntando que ERA ela que nunca mais apareceu?