PARQUE CELSO DANIEL, SOZINHA, NUNCA MAIS!
O dia está lindo, ótimo para sair de casa e tomar sol, foi o que pensei. Depois de dias gelados, dentro de casa, com os pés petrificados essa quinta parecia perfeita. Mas... o que quero dizer é: o mundo não é mais seguro, nem mesmo para as meninas feias e de família, que querem ir ao parque para ler ao livre.
Saí pouco antes do meio dia, fui andando até lá, caminhada agradável, temperatura estável, poucas pessoas nas ruas e veículos de sobra... Poucos pássaros algumas buzinadas, o de sempre sabe...
Chegando lá, andei um pouco antes me sentar, queria escolher o melhor lugar. Sem muita gente, mas onde eu podia observar o movimento, onde o sol estivesse batendo e não fosse muito barulhento. Me sentei frente a um campo sem jogadores, perto do estacionamento ao fundo. Tinha visão para a “academia azul e amarela”, para o campo e suas laterais, era silencioso e o sol batia na pontinha. Antes mesmo de abrir o livro, dei play numa música que estava ouvindo ontem pelo celular, e quando me dei conta já estava cantando, o que é pior, alto.
Olhei sobre o ombro direito e um senhor de idade estava me ouvindo, não adiantava parar a vergonha já estava feita, aliás ele nunca mais me veria mesmo, pensei: deixa eu ser feliz. Minutos depois a música acabou, mas ou algum som enquanto lia, parecia confortante, então deixei em som bem baixo de modo a não ouvir completamente a letra e começar a cantar ao invés de ler.
Alguém ascende o sol por gentileza? Esfriou de repente, uma nuvem fez sombra sobre minha mesa, hora de mudar. Fui para em uma no espaço da academia ao ar livre, completamente ensolarada, tanto que nos primeiros segundos, os olhos até lacrimejaram diante de tamanha claridade.
Passei então a ler atentamente, desde o começo o livro de 10 capítulos. Ao final do terceiro, fui abatida por uma leseira tão grande que, fechei o livro de baixei a cabeça e fechei meus olhos por uns minutos, a fim de sentir o calor do nosso astro sobre minha face, ao passo em que descansava. Após alguns minutos abri os olhos e na direção deles estava a mesa, mais próxima onde se sentou um homem, logo depois que cheguei por ali, notei que ele me olhava então voltei a fechá-los. Instantes depois, abri novamente e vi que mais uma vez ele me encarava, virei a cabeça para o lado contrário, mas não era tão confortável.
Achei por bem voltar a ler, me sentia incomodada por ser observada daquele modo. Por outro lado eu podia estar viajando, as roupas daquele homem se pareciam com as dos funcionários do Parque, talvez houvesse alguma coisa de suspeito em mim, sei lá... De volta as leituras...
No fim do quinto capítulo o homem se levantou, não pude evitar reparar qualquer movimento seu, ainda que indiretamente, estava na defensiva, assim como foi inegável o alívio imediato. Ele deu a volta, pela trilha atrás de mim, e não o segui mais de vista. Terminei o capítulo e fiz minhas anotações, como nos anteriores. Quando inclinei para a direita anotando, o vi outra vez, na mesa de lado contrário ao que estava antes, parecia brincadeira. Me levantei, coloquei tudo na sacola e saí andando, mais à frente parei comi uma bolacha e pensei em voltar a ler com tranquilidade, mas teria que ser em outro lugar, eu estava na frente do banheiro masculino.
Finalmente paz... Dando voltas a passos lentos, sem pressa de chegar a algum lugar. Olhei pra trás e adivinhem... Não era imaginação minha, ele realmente estava me seguindo, ou seria muito coincidência. Pra ter certeza, parei na mesa mais próxima, sentei e peguei outra bolacha pra ver o que faria, ele seguiu reto, depois fez o retorno lá na frente e se escondeu atrás de umas árvores.
Não estava louca, ele estava mesmo me seguindo, mas por que? Viu meu celular quando eu estava verificado as horas? Ou também havia me ouvindo cantar embalada pela música que dele emanava? Bom dinheiro eu não tinha, tampouco estava em trajes refinados. Peguei o celular, evitando que percebesse que eu o tinha descoberto e escrevi uma mensagem: “Sendo seguida...”, antes que eu pudesse terminar ele me abordou.
“Sabe mexer no celular?”
Imediatamente respondi que não, olhando para o celular que estava em sua mão. Um celular simples e antigo, que qualquer criança decifra em segundos, mas mantive a resposta acrescentando que mal sabia mexer no meu, o colocando imediatamente na sacola. {preparando uns golpes de Karatê}
“É que eu estava mexendo e acabei apagando um número”
Onde foi parar toda minha coragem e ignorância, eu não sei. Meio assustada, mas séria respondi que realmente não podia ajudar. Quando na verdade pensei em dizer que se tinha apagado já era, e eu não podia fazer milagre. Entretanto, por falta de saber com quem estava lidando era melhor ser educada.
Sem que, nem pra quê o infeliz pergunta meu nome e já vai se sentando ao meu lado. Perto demais pro meu gosto, mastigando a bolacha evito olhar em seus olhos, estando atenta à suas mãos, e sua boca tenebrosa, que me lembrou a de um cigano.
Eu disse meu nome, ele o elogiou, de repente começou a elogiar-me. Entendi tudo, mas aquilo não podia estar acontecendo comigo, onde estavam as câmeras?
- “Passeando? Dia lindo pra passear, eu estou passeando hoje, estou de folga. Dia de Sol, bom pra tomar sorvete”
- É...
- Você é muito linda sabia?”
- Obrigada {ainda por cima era cego ¬¬}
- “É muito linda mesmo, eu estava te observando lá atrás, não sei se reparou”
Paguei de louca:
- Obrigada. Não reparei não...
- “Alí sabe, perto dos troncos”
- Ah sim, sei...
- “Você mora onde?”
- São Paulo
- “Seus pais são de onde? Eu sou de Diadema”
- De lá mesmo. Hum.
- “Pois é, hoje em dia é difícil achar alguém tão linda que não beba, não fume... Eu sou solteiro sabe, não bebo, não fumo e queria alguém assim que nem você pra namorar. ”
{Oh God! Socorro!} {Pois é... não tá fácil pra ninguém (kkk)} [Silêncio]
- “Pena que não tem nenhum lugar aqui vendendo sorvete, eu te chamaria pra tomar um comigo”.
- Imagina, eu não aceitaria. Aliás estou indo embora.
- “Mas já?”
- Sim, estava indo...
Levantei e então ele pediu meu telefone. Minha paciência e receio haviam se esgotado. Voltei a me reconhecer, e respondi:
- Nunca! Eu nem te conheço!
- “Passa a conhecer”
- Não, valeu mesmo, mas não curto ser seguida.
- “Anota o meu então”
- NÃÃÃÃOO, te orienta!!!
Em desabalada carreira, parti rumo à saída. Acabei errando a curva e fiz o caminho mais longo, olhando sempre pra trás, quando cheguei no portão quem estava lá?
Inferno! O bendito fantasma novamente, custei até que me perdesse de vista e parasse de me seguir.
O caminho de volta foi tortuoso, ainda que eu olhasse pra trás e não o visse me sentia perseguida. Triste momento em que saí de casa. Agora consigo rir, mas umas três horas atrás eu pensava que sair de burca pra ir à parques era o mais correto e seguro. O livro? Acabei não terminando, falta metade, que terei prazer em terminar de ler a amanhã, no aconchego e segurança de um sofá, à portas fechadas haha.
O que aprendi hoje?
1º ESSE MUNDO É, MESMO, TENEBROSO!
2º Nunca mais vou duvidar de minha percepção/ observação/ intuição, enfim do meu olhar investigativo, meu tirocínio policial!
3º Essas palhaçadas só acontecem comigo na minha terra. Uahsuahsuas.