Uma lufada fatal! (EC)
Uma vontade de liberdade, que por várias vezes se atribui aos pássaros a primazia, realizando manobras ousadas e magistrais pelos ares, é a primeira abordagem que eu faço para aqueles que se aventuram em se expor, confiando inteiramente na tecnologia humana e, não poderíamos nos esquecer no contexto, da boa vontade da natureza!
Fico me perguntando, apesar de também ser um adepto de ‘emoções fortes’, que o será de um elemento que, em realizando um primeiro salto sem a presença de seu orientador, ao puxar o sistema que aciona o ‘abre paraquedas’, não obtém uma perfeita resposta e não vê sua ação ser ‘recompensada’ por uma efetiva resposta!
Com toda certeza, há, houve e haverá, sobreviventes que tiveram de enfrentar tal situação e que podem, no alto de sua emocionante experiência, relatar a quantas bateu o seu coração!
Wellington, desde criança, demonstrava ímpetos de realizar proeza semelhante a Ícaro (se desejar saber mais sobre este personagem da mitologia grega, pode fazer como eu que fui colher informações no ‘pai Google’, mais especificamente no endereço http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%8Dcaro) e vivia saltando de galhos de arvores, ribanceiras, etc. buscando ficar ‘nos ares’ ao menos por alguns segundos.
Possuía uma verdadeira coleção de artigos, reportagens, depoimentos acerca da ‘leveza do ser’ que conseguia repetir a façanha dos pássaros e aeroplanos em geral!
Chegou, inclusive, a praticar ‘façanha’ que lhe rendeu sonoras palmadas de seus genitores quando munido de um guarda-chuva subiu (felizmente em um local de pequena altura...) no telhado de sua casa, abriu o equipamento e saltou, esperando ‘flutuar’ como via os intrépidos paraquedistas dos filmes e das exibições fazer... Da aventura, que nunca mais repetiu, restou-lhe a lembrança de reprimenda e do apelido que os coleguinhas lhe impingiram: Tinho paraquedas!
O tempo passou, assim como passa para todos e, somando-se aos vários saltos que realizou de forma amadora contando sempre com instrutores especializados, aos saltos com asa deltas, os saltos com bungee jump, os saltos de altos trampolins em piscinas e de ribanceiras em braços de mar, lagos, represas, etc., seguindo estritamente aquilo que sonhava desde criança, também após realizar um curso autorizado pela FAB, Wellington ingressou na Aeronáutica e lá engajou-se no curso de paraquedismo!
Com todo o desejo e força de vontade que sempre o norteou, Tinho colocou-se sempre como, senão o melhor, um dos melhores alunos de sua turma. Seu arrojo, disposição e facilidade no aprendizado das instruções que lhe eram repassadas, causavam admiração e entusiasmo aos seus instrutores.
Em tempo recorde, realizou seu primeiro salto individualmente, no qual contou com excelentes condições de temperatura e extrema competência, seguindo ‘religiosamente’ todos os ensinamentos que assimilou.
Com brilhante carreira, também em tempo recorde, obteve patente e foi engajado no quadro da esquadrilha de exibições da FAB, realizando sempre performances que enchiam de orgulho tanto sua corporação quanto seus familiares e amigos.
Com formação e equipamentos para realização dos saltos impecáveis, o tenente Wellington, assim como todos aqueles que desafiam aspectos da natureza, só não a ela não podia controlar!
Em um dia especialíssimo, no qual realizaria seu primeiro salto em sua cidade natal, o ‘menino’ Tinho preparou-se de maneira especial! Preparou com especial esmero seu fardamento e equipamento, solicitando ao seu oficial maior que permitisse que saltasse com um paraquedas que contivesse as cores da bandeira de sua pátria combinadas com as cores da bandeira de seu estado e cidade natural, no que foi prontamente atendido devido ao enorme prestigio que havia adquirido ao longo de seus relevantes serviços prestados à corporação!
Em dia de festa especial, antes de saltar da aeronave para mais uma vez realizar aquilo que motivava toda a sua existência até então, Tinho persignou-se e ergueu seus pensamentos ‘reivindicando’ pela proteção que sempre o acompanhou bem como pela proteção de todos os seus demais companheiros que também participariam de exibição.
Em um salto perfeito, o tenente ‘garoto’ flutuava garbosamente pelos ares, para gáudio de todos aqueles que, no solo, acompanhavam mais uma de suas excelentes performances.
Aí, a natureza resolveu dar mostras de seu domínio sobre tudo! Sem qualquer motivo aparente para semelhante episódio, haja vista o perfeito domínio dos radares da FAB que acompanhavam as condições metereológicas ambientais do local do evento, um ‘lufada’ de ar ‘engoliu’ o paraquedas de Wellington que, à guisa de todo o seu preparo e experiência adquirida ao longo das diversas horas de saltos que já havia realizado, tentou ousada manobra para manter-se no prumo de percurso, tendo resultado infrutífero!
Desgovernado, o conjunto humano e equipamento, desviou-se totalmente do destino inicialmente programado, dirigindo-se velozmente ao encontro de um alto muro, ocorrendo violento impacto, originando ainda o despencar de enorme altitude.
Contrariamente aos aplausos e cumprimentos muitas vezes recebido, ao corpo inanimado, ensanguentando, imerso na profusão de cores que detinham seu paraquedas, só restou o cerrar das semiabertas pálpebras, numa terrível confirmação do que o pior havia ocorrido.
Mesmo assim, sob o enorme torpor e constrangimento originado pelo terrível acidente, a autoridade maior ainda teve suficiente discernimento para proferir palavras elogiosas ao ‘guapo’ integrante de sua corporação e, à guisa da lamentável ocorrência, solicitar que fossem entoados o Hino Nacional, do Hino do Estado e do Hino Municipal, que foram seguidos de sonora salva de palmas!
Àqueles que acompanharam a trajetória do pequeno Tinho, restou o consolo que o ‘menino’ havia, assim como seu antigo ídolo da mitologia, conseguido realizar seu sonho de voar com a leveza do ar!
Este texto faz parte do Exercício Criativo - Um Salto de Paraquedas
Saiba mais, conheça os outros textos:
http://encantodasletras.50webs.umsaltodeparaquedas.htm