Zé Goiaba e o causo do cemitério.

Por Beto Rami.

-Não sei se você lembra mais depois do causo da enchente eu comecei a trabalhar numa funerária, e foi la que se deu esse caso.

-O senhor concertava carros seu Zé?Perguntou toim, filho de mariquinha.

_Eu disse Funerária. Não funilaria.

Eu vivia da morte! Cuidava dos mortos.

Bem voltemos ao caso.

Enquanto trabalhava na funerária, sempre ia ao cemitério, pois era lá que ficava o necrotério da cidade.

E eu sempre ia lá buscar os defuntos frescos.

E era nesse cemitério que trabalhava como coveiro o meu amigo jiló.

Pois bem, certo dia foi buscar o corpo de um senhor e esse não estava pronto, pois eles ficam embelezando o defunto até eles parecerem vivos e isso demora.

E como estava com tempo procurei meu amigo jiló. Cê sabe não consigo ficar sem prosiá.

Acabei o encontrando na capela.

_Como vai, Zé. Ta passeando ou trabaiano? Perguntou jiló doido pra conversar.

_trabaiano, mais parece que vai demorá o cabra defunto, estava muito feio.

Então te procurei pra mode agente proseá.

_Que bão. Vem conhecer o cemitério.

Vem ver que paz.

_Que male pergunte jiló, que você faz quando não tem o que fazer?

-Bem eu fico olhando as lápides e lembrando dos mortos. Assim ,como eram quando estavam vivo E como foi que morreram, por exemplo:

Veja só esse aqui. (Esse?)Sim, ele era irmão daquele outro ali.

E morreram no mesmo dia, mesma hora e mesmo lugar, mesmo motivo.

_Minha nossa, santo deus que fatalidade!

_fatalidade, não!

Péra aí, nem acredito ,mudamos de papel, agora eu sou o contador de estória...

E você o ouvinte,Nem credito, vamos lá.

Os dois irmãos eram os maiores mão de vacas que cidade já viu, não perdiam uma chance de apostar e aquele que perdesse era quem pagava a conta.

E nesse dia não foi diferente. Os dois beberam até caírem de bêbados. E quando voltaram a si o dono do boteco veio cobrar a conta.

Aí então começou a discução sobre quem pagaria, foi quando um deles teve a Idea de fazer uma nova aposta e quem perdesse pagaria a tal da conta, que era segundo disseram muito alta.

Pediu então que trouxessem duas bacias cheias de água e aquele que ficasse mais tempo com a cabeça debaixo d'água ganharia a aposta e o outro arcaria com a despesa.

Conclusão morreram os dois afogados.

-Nossa!

-No fim sobrou pro dono do bar que quase se suicidou pra ir cobrar a divida.

_E aquele ali? Aquele que num tem cruz.disse apontando pra uma lapide simples com o dizer. (Aqui jaz, um pobre rapaz.).

_AH. O evangélico?

Ele tava no lugar errado na hora errada.

O caso foi esse:

Bernardão o dono da mercearia estava desconfiado que Zéfinha sua mulé estivesse lhe botando um chapéu de bode. Se sabe né ,lhe enfeitando a cabeça.

Na verdade todos já sabiam menos o Bernardão, por isso todos faziam piadinhas com o pobre do cabra.

.

Um dia ele se cansou das zombarias e resolver deixar de ser a atração cômica do lugar e tirar a duvida a limpo.

Ia lavar a honra com sangue.

Comprou um revólver, se encheu de coragem e planejou tudo tintim por tintim.

Então fez o que fazia todas as noites, deu um beijo e se despediu de Zéfinha, dizendo que ia a mercearia e saiu.

Assim que essa fechou a porta ele ficou atocaiando atrás da casa a espera que o tal Ricardão destruidor de lares viesse.

Bem passaram uma hora, duas, três, quatro horas e nada do tal aparecer.

Foi quando ele foi vencido pelo sono e dormiu a sono solto o resto da noite.

Acordou com o latido dos cães que ladravam para um sujeito que passara a noite na congregação fazendo vigília.

Zangado por ter dormido demais e por ver um homem passando em frente sua casa, Bernardão barrou a passagem do sujeito e perguntou:

_De onde tu vens, cabra?

Esse com o coração cheio de paz e orgulho, pois passara a noite na igreja orando ,respondeu.

_Venho da casa do senhor.

Bernardão não teve duvida. Descarregou o revólver no desaforento que ainda admitira ter saído de sua casa.

_E esse aqui jiló?

Bela cova toda cheia de flor.

_ Ah esse morreu de morte natural.

_Pelo menos um... Opa espere um pouco jiló, ele tinha menos de vinte anos, Como pode ser morte natural?

_Ele tomou veneno, era natural que morresse, ou não?

_oras jiló. É melhor eu voltar a trabalhar.

Quando o defunto finalmente ficou pronto à noite já ia alta.

Então Pedrão que morava nos fundos da funerária disse que era muito tarde e que seria melhor eu dormir la, e eu concordei.

Mais quando deram onze horas o telefone tocou. Era o gerente dizendo que o doutor deputado Jerônimo trindade da costa Almeida e filho de Alcântara e silva. (ufa que raio de nome grande tem esses sujeitos .)havia falecido .

E que era pra um de nós ir até o necrotério encontralo para ajudalo a preparar o doutor deputado defunto, e o outro ficasse esperando o parente do deputado que estava indo para la.

-Zé, tu vai até o necrotério e eu fico aqui.

-oxente? E como eu vou? Num conheço nada nessa cidade.

-oras é simples, vá até a praça e entregue esse endereço na mão do taxista e ele leva você até la. Assim que chegar pegue o dinheiro da corrida com o gerente pague o taxista.

-Será que ele levou dinheiro?

-Não se preocupe temos um caixão La ao qual guardamos dinheiro, depois fique as suas ordens. Agora vá.

Bem assim eu fiz, entreguei o bilhete com o endereço ao chofer que me levou até la.

Nisso o relógio da igreja bateu meia noite.

Assim que chegamos ele disse:

-Tem certeza que é aqui? Deve haver algum engano, olhe bem.

E-esse é o cemitério!

-Tenho sim disse, tem três meses que não saio daqui eu quase moro aqui.

-Qua-quase mo-mora, aí?Disse com a voz tremula.

-Bem aguarde aqui que vou La dentro buscar o dinheiro da corrida e já volto. Vai ser rapidinho, um minutinho só.é só o tempo de abrir o caixão e pegar o dinheiro.

-A-abrir o caixão? (Sim!)

-Não conta pra ninguém é La que guardamos o dinheiro. Ao ouvir isso o chofer então esbugalhou os olhos e antes que eu batesse a porta saiu em disparada cantando os pneus.

Não entendi nada, parecia ate que tinha visto uma assombração!

La dentro o gerente me aguardava em uma das salas, ao velo fiquei curioso.

-Que foi Zé, nunca viu um homem fantasiado?

Eu estava numa festa à fantasia quando fui informado do falecimento do doutor deputado.

O gerente vestia uma fantasia de capeta com chifre rabo e tudo mais.

O jiló estava com ele e ria a bico miúdo.

-Trouxe o que pedi? (Ta aqui.) Então vamos começar.

Depois de tudo pronto o doutor deputado voltou pra geladeira.

-Bem Zé, agora terei de sair. Disse o gerente .você fica aqui que logo mais eu volto pra te buscar.

-Sim sinhô. E então jiló,que fazemos agora?

-Você não sei, eu preciso dormir.

-Tem um lugarzinho pra mim?

-Se você não tiver medo pode dormir no velódromo. Só tem um probleminha ,ta sem luz.Mais temos quatro velas aqui é só colocar uma de cada lado assim ,olha como ficou iluminado.

Bem não tinha outro jeito, me deitei naquele mármore frio que era usado pra velar os defuntos. Eu não sabia quanto tempo o gerente levaria pra vir me buscar. Então fiquei olhando a dança das sombras da chama das velas nas paredes e acabei dormindo.

Nesse meio tempo começou a chegar gente que usava o lugar pra fazer vigília e rezas pelas almas do cemitério e ao me verem ali me tomaram por um defunto fresco.

Então voltaram suas rezas para minha alma e comentavam indignados por não haver ninguém da família velando o corpo.

A madrugada seguia fria e no calor das rezas eis que um falatório se fez ouvir La fora.

-Zé cadê tu? Zé vim te buscar... Vamos já é tarde.

Foi quando a voz se fez mais forte amplificado pelo eco da sala onde se encontravam os fieis que velavam o corpo do Zé goiaba que dormia a sono profundo.

-Zé você estai?Onde ta tu peste! Cadê tu demônio, responde. disse a voz em tom grave.

Os irmãos se olhavam sem entender o que acontecia.

Der repente uma silueta pode ser vista, ou quase, pois a sombra dançava ao som do vento que assoprava as pequenas chamas das velas.

E essa visão não era nem um pouco bela e sim assustadora.

O gerente ainda vestia a fantasia de capeta e sua silueta resaltava bem os chifres e sua calda pontuda.

Com tal visão cessaram todas as rezas. e houve um desespero total.

Em suas mentes todos acreditaram que o diabo em pessoa tinha vindo buscar a alma de um pobre infeliz que seria no caso o tal Zé goiaba.

-Zé! Cadê tu, peste? Ó filho do cão, vamos embora, ainda temos outros lugares para ir.

Com isso a visão já se encontrava em frente aos rezadores que se espremiam junto à parede.

-Boa noite, senhores. (silencio.)Será que algum dos senhores viu meu agregado?

Nisso todos se olharam e não tiveram duvida, apontaram para o Zé goiaba.

-Vamos Zé levanta eu to mandando!O padre também morreu e temos de ir la buscalo.

O Zé então de bate pronto se pos de pé, soltando um sonoro bocejo.

Os rezadores nesse momento entraram em total pânico, o defunto acabara de levantar ao comando do diabo em pessoa que esperava sua ajuda para buscar o padre.

-Ah, já era hora Zé. Temos muito o que fazer ,hoje a noite vai ser pequena.

Agora dirigindo-se aos fieis disse:

-Aprecio muito a devoção de vocês, se acaso um dia precisarem dos meus serviços é só falarem com o pastor de vocês que é muito meu amigo. Vou precisar de ajuda, tenho muito serviço pra essa noite, alguém está interessado tenho três vagas.

Nessa hora houve gritos, choros e debandada geral.

-óxente que deu neles? Era só dizer que não queriam o emprego.