Um amor sem Volta

Olá o meu nome é Julio Cezar tenho cinqüenta e nove anos. Moro no presídio de Franco da Rocha há dois anos e sete meses

O porquê de estar aqui é pelo mesmo fato que muitos jovens têm quando usa pela primeira vez algo conhecido por todos como DROGA

Eu tinha dezesseis anos quando tudo começou a mudar em minha vida

Ate esta certa idade eu era um jovem assim como qualquer outro, gostava de sair para me divertir, sempre estava em baladas e outros eventos na qual os meus amigos promoviam. O futebol também era uma de minhas paixões

Morava em Alphaville e sempre disputávamos vários torneios nos clubes de lá, o meu time de chamava Dragões de Fogo e por sinal era um dos melhores da região. Um dos jogadores do meu time era o meu melhor amigo o Claudio, um rapaz de classe media alta filho do dono de uma magazine muito famosa de São Paulo. E foi através de Cláudio que conheci o caminho das drogas.

Em uma manha de sábado quando eu me organizava para ir ao clube, Claudio chegou a minha casa me chamou de canto e me mostrou um pequeno pedaço de papel que envolvia algo parecida com folhas esfareladas, perguntei a ele o que era aquilo, ele me disse que aquilo se chamava maconha e que fumando aquelas folhas tudo o que se passasse ao nosso redor seria como um sonho.

Ao chegarmos ao clube Claudio me pediu para que experimentasse só para ver como era o efeito

E eu, um garoto que estava naquela fase de descobertas buscando em todos os lugares algo novo para dar continuidade para minha vida me deparo com algo que até então eu desconhecia. Sem pensar duas vezes resolvi experimentar

Confesso que era fascinante a sensação de leveza que a maconha me proporcionava. Comecei então a usá-la todos os dias

As escondidas é claro, pois os meus pais jamais poderiam saber

O meu amigo me dava toda a droga que eu consumia e isso era o que mais me fazia bem

Com o passar do tempo percebi que não era somente leveza que eu estava procurando, eu queria conhecer algo novo, foi ai então que Claudio apresentou-me a COCAINA.

No começo foi difícil, pois sempre que eu cheirava o pó minhas narinas doíam e chegavam a sangrar devido a força da química que ela possui

Mas o efeito era nítido, ela me deixava esperto, sem medo de nada. Em poucos encontros que tive com ela passei a ser mais um dependente químico.

Quando Claudio percebeu que eu já precisava das drogas para sobreviver ele passou a vender para mim

E eu um garoto de dezessete anos que ainda não trabalhava, passei a usar o dinheiro que os meus pais me davam para sustentar o meu vicio, mas foi em vão, pois para todo dependente químico todo dinheiro do mundo é pouco.

Sem ter nenhuma outra opção decidi roubar coisas de dentro de casa. No começo deu certo, mas não demorou muito tempo para os meus pais descobrirem, eles também descobriram que eu estava usando drogas e por serem religiosos e muito severos me colocaram para fora de casa

Quando sai de lá jurei para mim mesma que iria fazer vingança

E foi o que fiz, entrei em casa sem que ninguém me visse e os matei

Fui então morar na casa de um amigo do Claudio na favela do pico do Jaraguá, André era um dos mais respeitados traficantes do morro, com ele comecei a usar outros tipos de drogas como o craque e a heroína.

Cada vez que eu usava mais eu queria usar, fui parar em um hospital com começo de overdose, por sorte sai de La vivo

Cada dia que se amanhecia eu me envolvia mais e mais nos caminhos do crime

Participei de vários assaltos, matei onze pessoas, inclusive a minha namorada a Jeniffer ela era a única pessoa que me entendia, só a matei porque estava louco, as drogas haviam me dominado, naquele momento era somente elas que eu amava

Passei doze anos sendo uma pessoa totalmente feliz, pois as drogas me deixavam completamente realizado

Aos vinte e oito anos fui preso pela primeira vez

Fui para o Carandiru onde fiquei detido por quinze anos, peguei trinta anos de prisão, mas como houve uma rebelião eu fugi

Quando sai de lá comecei a roubar e a matar de novo, agora sem dó, pois o fato de ficar preso por quinze anos dentro de um presídio sem poder ver o dia amanhecer me deixou completamente revoltado

Fiquei oito anos fora do presídio, fui preso novamente quando tentava embarcar para a Bolívia com uma grande quantidade de cocaína, neste tempo o André foi preso comigo, mas nos primeiros três anos que estávamos presos ele teve vários problemas de saúde e veio a falecer

Fiquei detido no Carandiru por mais sete anos e no ano em que ele foi desativado vim transferido aqui para Franco da Rocha no qual estou há dois anos e sete meses.

No momento estou enxugando as lagrimas que teima em molhar meu rosto quando termino de contar a minha historia de vida

Eu não sou nada

Sou um ser que não pode ter o direito de ser chamado de humano

Eu não quis viver e ainda impedi varias pessoas de realizar os seus sonhos de vida

Fiz vitima até mesmo as pessoas que me colocaram no mundo

Hoje durante a madrugada fico olhando o luar transformado em quebra-cabeça pelas grades.

Juro que me arrependi de tudo o que fiz, pois hoje pago com a minha própria vida tudo o que fiz de mal aos outros, pois sou contaminado pelo vírus do HIV que contrai de uma seringa usada para injetar drogas na veia e esta doença esta me matando aos poucos.

Faltam apenas três anos para eu terminar de cumprir a minha pena

Mas eu já estou em fase terminal e tenho certeza que o resto da minha pena eu vou terminar de cumprir La no inferno que é pra onde eu mereço ir

Passei a vida toda enjaulado feito um animal

Estou velho e tenho que aceitar que está próximo o meu final

Mas antes de partir, decidi registrar a minha historia, para que sirva como algum incentivo para você jovem que está entrando ou pensando em embarcar nesta viagem

Pense bem antes de comprar o seu passaporte

Pois drogas só têm uma finalidade

DESTRUIÇÃO

É um caminho que só tem entrada.

Mas não tem saída

Drogas têm como evitar

Diga NÃO...

Atenciosamente: Julio Cezar Padrão

Presídio Detentos da Rocha

Raio- 08 Cela-03

Rose silva

“ Escrito em 02/02/2005”