o Anel
Meu pai entregou o anel a minha irmã mais velha dizendo:
- Este anel é de ouro. Guarde-o bem, foi num sonho que eu o ganhei.
Minha irmã pegou o anel e ficou encantada, era a primeira joia da sua vida. Um anel vistoso. A pedra não era muito grande, mas era bonita.
Numa noite meu pai sonhou com uma pessoa, a quem não conseguia ver direito, lhe dizendo para cavar debaixo do pé de jenipapo que havia no quintal da nossa casa. La encontraria um pote cheio de ouro e algumas joias. Só que para encontrá-lo teria que cavar a noite. Meu pai não deu credito ao sonho, mas comentou com a minha avó. Ela o incentivou e prometeu ajudá-lo. Convenceu-o, dizendo que a pessoa que lhe dissera que havia ouro enterrado naquele lugar, podia estar penando na outra vida. Enterrar dinheiro ou ouro, disse, era um pecado sem perdão e por isso, essas almas penadas, desesperadas, procuravam as pessoas corajosas para arrancá-los da terra e assim, livrá-las do peso do pecado da avareza, causador de seu padecimento eterno. Esta história, um tanto absurda, aconteceu.
No inicio ele ficou com receio. Não gostava muito de falar das coisas do outro mundo. Tinha medo de almas penadas, principalmente, à noite. Fato é que, depois de muita insistência de minha avó, ele decidiu ir procurar o pote de ouro. Criou coragem e a noite, pegou umas ferramentas e foi cavar no lugar indicado pela pessoa no sonho, sob a luz de lamparinas que sua mãe acendeu.
Foi cavando devagar, um pouco assustado, porque a cada barulho estranho que ouvia ao seu redor, suas pernas tremiam. Quando já havia cavado cerca de um metro, encontrou um anel. Neste momento, olhou para frente e viu um vulto, em pé a beira do buraco, fazendo o sinal de que estava no lugar certo, e que o anel era a prova, desaparecendo em seguida. Aí o medo que sentia, cresceu. A sensação de ver um vulto em pé à beira do buraco o paralisou.
Depois de alguns minutos, com mais animo, pegou o anel e saiu correndo, abandonando a escavação. À minha avó, disse que havia um homem a beira do buraco, observando-o. Ela insistiu para que voltasse e continuasse a cavar, porém, ele não quis saber de mais nada. Nunca mais voltou. E assim o pote de ouro ficou lá enterrado para sempre.
Minha avó pegou o anel e disse:
- Vou guardá-lo. Quando você se casar e nascer a sua primeira filha dê a ela de presente. Este anel tem uma história.
O anel ficou guardado numa caixinha de madeira na casa dos seus pais até ele se casar com minha mãe. Quando minha irmã completou quinze anos lhe deu de presente.
Poucas vezes vi o anel. E, ficava pensando na memória que ele trazia, imaginando a historia que tinha. Na certa, aquele anel passara por varias gerações. Fora da tataravó que passou para a bisavó, que passou para a avó que passou para a filha e por ultimo a neta. Depois, o anel se separou dela e se perdeu no tempo.
Acabou um dia enterrado junto com um pote de ouro. Quantas viagens, quantas tardes de conversas amorosas ficaram na lembrança daquele anel e quantas vezes ele fora testemunha de muitos amores e separações. Para um dia ser achado por meu pai, que procurava um pote de ouro enterrado, virar um presente e receber a honra de ir para o dedo anular da minha irmã mais velha, que alguns anos depois o perdeu. O tempo passou o anel também.