A VIDA POR UM FRIO.

A VIDA POR UM FRIO.

Certo tempo atrás, quase morri num episódio acontecido em um lugar muito comum em toda casa, melhor dizendo, em quase toda casa: pois na cidade de Sehore na Índia, os noivos tem que provar que em suas residências possui banheiro, para só então se casar. Estava chegando do trabalho, cansado, com fome e com um pouco de dor de cabeça. Como rotineiramente faço, entrei, guardei minha bicicleta, beijei as crianças e a mulher, e fui mijar. Amor, o que temos pra jantar? Perguntei carinhosamente a minha patroa, qual seria a mágica que ela havia feito para nossa família matar a fome, pois somos pobres, e não é todo dia que temos as três refeições. Ela por sua vez, mulher extremamente dedicada ao lar, afetiva com as crianças e cuidadosa com os poucos pertences que temos, respondeu: querido, hoje estamos por cima da carne seca, nossa vizinha Jôsicleyde pediu emprestado à panela de pressão para fazer uma comidinha diferente, e fez um atoladinho de macaxeira com carne seca, e me deu um bocado. Interrompi o menu, e perguntei: que diabo de carne seca é essa? Ela sem pestanejar respondeu, num é carne de charque homem, deixa de ser matuto. O sujeito ter que se submeter a uma mulher querendo ser ”chique”, falando difícil, reclamei meio ironicamente. Pois bem, vamos ao que interessa, terminei minha mijadinha e fui tomar banho. Na casa de pobre não tem luxo nenhum, mas, se tem um “luxo” que faço questão de ter, mesmo que seja com sacrifício, é um chuveiro elétrico. Pois na minha região faz um frio de lascar. Abri a água e liguei o botão, meu cumpadi, deu um pipoco tão da mulesta, que clareou até no quintal. Vigi Maria, que danado foi isso? Espantada e com os olhos arregalados Zefinha gritou. Foi um circuito Zefinha, quase me lasco dum choque, mas não vai ser dessa vez que tu vai me enterrar não. Dei um pinote pra traz me esquivando da água que molha todo o banheiro, e é barrada pelo pano de chão que fica na entrada. Começou aí meu problema: Eu sou forte como um jumento, não tenho medo de escuro, espanto cascavel no bicudo, mas, se tem um negocio que eu sou frouxo: é água fria. Me bote pra limpar um foça que eu vou, me bote pra encher uma laje, que eu vou, mas, não me peça pra eu tomar um banho de água fria à noite não, que eu bato pino. Desliguei o chuveiro com o chinelo servindo de luva, peguei a toalha e sai do banheiro. Zefiiiinha, o chuveiro queimou, bota uma vasilha de água no fogo aí, que nesse frio eu num tomo banho gelado nem a pau. Minha mulher, “mulher macho sim senhor” disse antes de eu terminar a frase, deixa de ser mole homem, e vai tomar banho frio mesmo, caba frouxo! Zefinha vou de jeito nenhum, vai, num vai, vai, num vai. Como sempre, a mulher é quem manda mesmo, eu falei, eu vou, agora tu me paga daqui a pouco. Rapaz, foi um frio tão miserável, que eu saí com os dedinhos todos enrugados, e o pinto parecendo uma lesma, ou melhor, quase desaparecendo. Mas, em um minuto e meio estava limpinho, cheiroso e com um frio da gota. Foi então que resolvi cobrar o preço por Zefinha não ter posto a água pra esquentar. Cochichei no ouvido dela pros meninos não ouvir: minha véia, vamos me esquentar daquele jeitinho que só tu sabe? Ela entrouxou a boco com um arzinho de rizo e disse: bora, eu já tava com vontade mesmo! “só pra não ficar por baixo”. Foi uma trepada do “carai” de gostosa, fizemos de várias posições, parecia Luizinho malabares lá na porta da igreja. E aí se deu” A VIDA POR UM FRIO”. Nove meses depois, nasceu nosso 12º filho. Lorenzette da Silva Esquenta.

M. C. MEIRA 14/06/2013.

MAERSON MEIRA
Enviado por MAERSON MEIRA em 14/06/2013
Reeditado em 14/06/2013
Código do texto: T4341039
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