Provoque a mudança

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– Você mudou. – Comenta Damiana, a pretensa namorada. Moça velha, era forte candidata a tornar-se solícita titia.

– Claro! – É a resposta de Joaquim; homem casado, mas temperado com os fios da expansividade.

– Não entendo o porquê. – insiste a pudica senhorita.

– Se as pretensões mudaram, os comportamentos também mudam, não parece óbvio?

– Mudaríamos de qualquer forma, não acha? Refiro-me a ter mudado comigo, sem razões aparentes.

– Verdade! Viver é mudar. Até na morte nos modificamos. Somos pó e a ele retornaremos.

– Então ficará a indiferença?

– É que você não percebeu a diferença. Não há (in)diferença; diferença, sim! Antes eu buscava um achego, mas você me fechou a porta, sem abrir nenhuma janela.

– E agora?

– Agora, somos amigos e nada mais! E com amigas não sou galante. Cumpro tão-somente as regras sociais de bons modos que nos são impostas. Dou “Bom dia!”, “Boa tarde!”... E pronto!

– Entendi, finalmente.

– Que bom! Sei que a sinceridade causa natural repulsa. Pior seria se a mentira, qualquer que fosse, levasse-nos ao calabouço da desilusão. Permito-me mil recusas, mas não arredo o pé da verdade! A palavra sincera afasta, é certo. Entretanto, quem aceita o incerto e se permite tentar, descobre que a existência vivida é melhor que a desfalecida fuga provocada em função do medo. Ou a amizade é fruto proibido?

– Você fez sua escolha. Colha os frutos. Adeus!

Juazeiro do Norte-CE, 1º de março de 2011.

09h47min

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Nijair Araújo Pinto
Enviado por Nijair Araújo Pinto em 08/06/2013
Código do texto: T4331665
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