O Barbudinho
Dois amantes e muito carinho.
Ela cheia de dengos e charminho.
Ele se achando o maioral.
Conversavam. Ela alisava
a barba dele, mas achava
que ela, a barba, lhe caía mal.
__ Amor, atende o meu desejo,
te darei milhões de beijos,
mas raspe esta barba, querido.
__ Não posso, amor, minha mulher,
você sabe, ela não quer.
Disto estou mais que proibido.
Ela me ama e muito me adora.
Se fizer isso ela chora
e eu não quero confusão.
__ Mas eu também te amo.
Por isso é que eu reclamo
o direito a esta ação.
Ele resolve, então, atendê-la,
com receio de perdê-la.
A barba foi ali mesmo raspada.
E recebeu o prometido,
muito beijos e gemidos.
Foi uma bela noitada.
Chegando em casa, madrugada,
no quarto a luz apagada,
deitou-se bem de mansinho.
A mulher, sem se virar, sonolenta,
passou a mão no seu rosto desatenta,
mas o percebeu bem lisinho.
E disse, com a voz bem pausada,
sem abrir os olhos nem nada,
sussurrando, bem baixinho:
Édson, seu doido, ainda não foi embora?
Se manda, amor, pois já está quase na hora
de chegar o corno do barbudinho.