A Velha e o Papagaio
Dona Olga todos os dias de manhã ia para o tanque lavar roupas e cantarolava alegremente, “Lava roupa todo dia, que agonia”. Seu vizinho Ernesto levantava cedo para trabalhar, lavava o rosto, tomava seu café e escovava os dentes, ao som da mesma melodia.
Acontece que ele já estava com o saco cheio, todo dia a mesma coisa, aquela música não saia de sua cabeça, um dia no trabalho enquanto fazia um relatório no computador sem menos esperar, estava cantarolando a melodia “Lava roupa todo dia, que agonia”, repetiu várias vezes, estava sentado quando ouviu um ruído olhou para trás e sobre o biombo vários colegas de trabalho o observando, e ai cara a mulher tá te botando pra lavar roupa, ora calem-se e voltem para suas mesas, tiraram muito sarro dele, que ficou zangado.
No carro ao voltar para casa o transito estava infernal, parou tudo, ele começou a cantarolar novamente “Lava roupa todo dia, que agonia”, quando se deu conta esbravejou, essa música não sai de minha cabeça, Dona Olga me paga.
No outro dia de manhã o mesmo ritual, lá vinha Dona Olga, não aguentou foi até o muro e disse Dona Olga por favor pare com isso, más o que estou fazendo demais disse ela, a senhora esta me deixando louco com essa música, está bem meu filho desculpe, é que eu me acostumei.
Quando foi no outro dia um silêncio total, lavou o rosto, tomou café escovou os dentes apanhou sua maleta e foi para o trabalho, em fim paz, que bom.
Chegou no serviço trabalhou normalmente, um colega passou pelo corredor, tirou sarro e ai parou de lavar roupas, ele respondeu, vai te catar.
Voltou para casa e no outro dia o mesmo ritual, só que Dona Olga começou uma nova canção, “Eu bebo sim, e estou vivendo, tem gente que não bebe e esta morrendo, eu bebo sim”.
Ai meu Deus vai começar tudo de novo, essa velha me paga, saiu mais cedo do serviço passou em uma loja de animais e comprou um papagaio, chegou em casa colocou o papagaio no quarto pegou um gravador e começou a gravar algumas frases, repetidamente, “Cale a boca”, “Velha Coróca”, “Inxerida”, e uma musica “Me deixa em paz, pois eu não aguento mais”.
Deixava o papagaio num quarto nos fundos e o CD tocando dia e noite toda repetidamente, num volume baixo, que só o papagaio com a porta fechada conseguia ouvir.
E Dona Olga continuava com sua música: “Eu bebo sim....Depois de alguns meses o papagaio coitado decorou tudo que estava no CD, e falava a toda hora, então o rapaz decidiu colocá-lo na área próximo ao muro que fazia divisa com Dona Olga.
Quando levantou de manhã o mesmo ritual, Dona Olga no tanque cantarolando, só que o papagaio começou as frase que tinha aprendido: , “Cale a boca”, “Velha Coróca”, “Inxerida”, e uma musica “Me deixa em paz, pois eu não aguento mais”. Dona Olga ficou assustada, colocou a cabeça no muro e viu o bichinho e começou a sorrir, então é você, logo fez amizades com o papagaio, brincava com ele todos os dias.
Um dia de manhã o rapaz levantou e ouviu o papagaio chamando “Mãe, Manhe, ele pensou que diabos é isso agora, o papagaio esta chamando a velha de mãe, acontece que Dona Olga durante o dia dava frutas ao bichinho e ensinou que quando ele quisesse que a chamasse de mãe e ela viria trazer.
Não demorou muito e Dona Olga começou a cantar junto com o papagaio “Me deixa em paz, pois eu não aguento mais”, os dois faziam coro, Ernesto pensou que ia endoidecer, e agora não bastava a velha agora o papagaio também estou ferrado.
Passaram-se semanas, Ernesto estava por conta de estrangular o papagaio, levou-o a loja de animais e devolveu, o dono da loja, ficou contente porque agora o papagaio falava era mais fácil vender e provavelmente alcançaria um preço maior pela ave.
Dona Olga ficou tão triste estava acostumada com o bichinho, porque seu Ernesto, o Sr. não tem coração um bichinho tão lindo, ele e a senhora estavam me deixando louco, sabe Dona Olga em meu trabalho eu preciso de concentração e não consigo me concentrar, com suas cantigas, ficam gravadas em minha mente.
Se o Sr. tivesse conversado direito comigo eu tinha parado seu Ernesto, me desculpe por favor; O tempo passou e um dia a filha de Dona Olga lhe trás um presente pois era o dia das mães, sabe mamãe eu passei numa loja e vi esse bichinho cantarolando as musicas que a senhora sempre cantou não resisti, paguei caro más a senhora é tão sozinha eu comprei para senhora, era o papagaio, Dona Olga ficou feliz, ao rever o bichinho abraçou a filha e agradeceu.
No outro dia cedo lá estava o papagaio, “Eu bebo sim e estou vivendo, tem gente que não bebe e está morrendo”.
Ernesto ficou doido subiu no muro, chamou Dona Olga, que logo apareceu, a senhora não disse que ia parar.
Más seu Ernesto não sou eu foi até sua área e apanhou o papagaio, veja ele voltou, más como a senhora comprou, não foi minha filha quem trouxe de presente ontem dia das mães.
Agora estou perdido, o que vou fazer Dona Olga será que terei que me mudar daqui, não seu Ernesto pode ficar sossegado eu coloco ele no quartinho dos fundos ele não vai incomodar o Senhor.
Os dias passaram e Ernesto não ouvia mais nada, era maravilhoso o silêncio, fazia o mesmo ritual e nada de barulho, nem papagaio nem Dona Olga.Passaram-se meses e nada, Ernesto começou a ficar preocupado, o silencio agora o incomodava, olhava para o muro e nem um som, pensava consigo, porque estou me preocupando, eu não queria silêncio, agora porque me incomodo.
Más sentia falta de Dona Olga e de seu papagaio, nem conseguia trabalhar direito, as musicas lhe vinham a mente, a imagem da velha senhora no tanque, o que teria acontecido.
Voltou para casa, foi até a frente da casa de Dona Olga bateu palmas, ninguém atendia, ficou preocupado, então uma senhora do outro lado da rua aproximou-se de Ernesto, o Sr. não sabe, o que eu não sei, Dona Olga sofreu um enfarto, e está no hospital, e o papagaio, a filha dela levou, em que hospital ela está, a senhora lhe disse ele pegou seu carro e foi para lá imediatamente.
Chegando ao hospital perguntou por Dona Olga, sua filha estava na recepção, se aproximou e perguntou, o Sr. conhece minha mãe, sim disse Ernesto somos vizinhos como ela está, agora esta melhor más deu um susto e tanto em nós quase morreu, foi ao Supermercado e na volta caiu na calçada, as pessoas chamaram o resgate e eles a trouxeram para cá.
Ernesto pediu para visitá-la, a filha concordou, entraram no quarto e Dona Olga ficou feliz em ver Ernesto, o Sr. veio que bom, sabe seu Ernesto eu queria pedir desculpas por todos os transtornos que lhe causei, eu não sei se vou voltar com vida para casa o médico disse que meu coração está fraco, então eu queria pedir ao Sr. se eu vier a morrer por favor fique com o bichinho ele gosta muito do Senhor, minha filha mora em apartamento e não poderá ficar com ele, está bem Dona Olga, más fique boa logo, eu tenho fé que a Senhora vai sair logo daí e vamos cantar juntos.Más ela não saiu, Ernesto voltou para casa, e a tardezinha recebeu a noticia do falecimento de Dona Olga.
Ficou muito triste chorou no funeral, ele sentia como se estivesse perdendo sua mãe, voltou para casa desolado.
A noite bateram em sua porta era a filha de Dona Olga com o papagaio, ele ficou contente, convidou-a a entrar ela disse que estava com pressa e partiu.
No outro dia de manhã, o papagaio ficou mudo, nos dias seguintes também, más eis que um dia ele começa a chamar, Mãe, Mãe, Ernesto dá um pulo corre a geladeira apanha uma fruta e dá ao papagaio.
Nos dias seguintes podia-se ouvir Ernesto e o papagaio fazendo coro, “Lava roupa todo dia”, Eu bebo sim”, os dois cantavam juntos, Ernesto olhava para o muro e pensava e Dona Olga, sabia que aquela velha senhora um dia tinha representado algo em sua vida.