As blattarias

É justamente nas esquinas que bato minha canela.

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Desde o período Siluriano existem registros de baratas, esses pequenos insetos que muito pouco mudaram nos últimos 400 milhões de anos. Para a imensa maioria dos mortais, o que de menos importante há nisso tudo é o significado da palavra Siluriano. Então, por que logo eu me importaria! As baratas de hoje, sim, são relevantes e merecem minha atenção... E são muito semelhantes as do passado. Mudaram em relação à genitália da fêmea; mudaram as estruturas e a funcionalidade essencial das asas que deixaram de ter como função principal o voo. Para nós, entretanto, barata continua sendo barata!

Pense numa baratinha, isso mesmo, pense! (Esse trecho se destina aos homens). Que ideia vem à sua mente? Agora, leiam essa parte somente as mulheres... Que ideia vem à sua mente? Consegue pensar diante de uma baratinha? Sem respostas, meninas! Foi mera sondagem, exercício de casa fundado em experiências ancestrais. Sejam aplicadas e exercitem, sem gritinhos histéricos!

As baratinhas possuem impressionante adaptabilidade. Sobrevivem em lugares quentes e úmidos. Em edificações, adoram cozinhas e habitam, em demasia, nossas redes de esgoto. Coabitam também em regiões semiaquáticas, aquáticas, desertos, cavernas e, apesar de existirem espécies solitárias, algumas adoram a vida gregária... Quem de nós, humanos, prescinde de boas baratinhas no lar, hein? Homens adoram gritinhos frenéticos de mulheres surpreendidas por baratas sorrateiras que surgem inesperadamente – elas sentem asco... Elas quem, as baratas? De toda sorte, são iguais a digladiar: baratinhas versus baratinhas.

Pândegas por excelência, as blattarias adoram a vida noturna – talvez possuam embriaguez diversa da nossa, mas é exatamente nesse ambiente urbano que buscam alimento e parceiros para o acasalamento, quando os machos são atraídos por feromônios sexuais e o contato físico provoca intensa “antenação”!

Durante o dia permanecem escondidas. Afinal, são baratas ou serpentes? De quem ou do se escondem? Por acaso, preparam os botes durante o dia para os executarem na calada da noite? Essas baratas não tomam jeito mesmo!

Segundo fontes fidedignas, barata nas ruas durante o dia significa: para cada baratinha que encontramos existem 1.000 escondidas! Esses insetinhos que passam 75% de seu tempo descansando, assumem posição característica: antenas voltadas pra frente com ângulo entre elas de 60º e pernas rente à superfície. Nossa! Quanta coincidência. Conheço outra espécie animal que vive “antenada”. Girando 360º, diariamente, ela se volta para o outro, tramando e articulando trapaças, sempre!

Existem as baratas voadoras e não voadoras; ambas ofensivas ao homem... Afinal, como matar baratas? Por que é tão difícil dar uma boa pisada numa baratinha, causando-lhe achatamento dorsoventral? É que as baratinhas ao sentirem o farfalhar de nossas famosíssimas Havaianas movimentando o ar, sim, elas correm! E pasme, não é fuga improvisada – ela, a baratinha, sabe exatamente para onde correr! E mesmo assim você (assassino!) vive matando baratas!

Segundo outra fonte consultada durante a pesquisa, as baratinhas fogem de nós porque pressentem o “apocalipse emborrachado” que delas se aproxima... E o autor ainda nos deixa importantíssima dica: “sempre pisar na barata um pouco atrás e à esquerda – isso aumenta as chances de matá-la”. No mesmo site, outro internauta arrematou: “sugiro, baseado em dados empíricos, o emprego do pé direito do chinelo para desferir o apocalipse, pois a área da planta do pé voltada para a esquerda aumenta a probabilidade de sucesso!” Se pensa que acabou, enganou-se. Tem mais! Outro internauta escreveu: “elas sempre viram à esquerda! Para testar essa hipótese, teríamos que ensinar as baratas a escrever e observar com qual das pernas segurariam o lápis!”... Para finalizar a participação dos plugados, transcrevo a melhor de todas, idealizado por quem mais afinidade possui com as baratinhas, a mulher: “Estranho, mas nunca errei minhas pisadas! Também, sempre depois do escândalo que faço pulo com os dois pés sobre a infeliz! Deve ser por isso”.

E se falássemos de gente... Ih! Confesso que não saberia informar há quantos milhões de anos existe o bicho homem! Nem se mudou significativamente nesse período. Será que o bicho homem evoluiu em relação à genitália feminina? Já sei – hoje elas se mostram mais! Aprendemos a voar, mas nossas asas ainda são muito pesadas e nos negam autonomia existencial... E para as baratas, continuamos sendo humanos, algozes?

Temos homens-barata que adoram cozinhas, ralos, esgotos... Não que sejam fisicamente aderidos a essas superfícies, mas estão internamente bem adaptados a elas. Assim como as baratas, escolhemos a vida em sociedade e nos isolamos, ou por mera vaidade, ou por catástrofes internalizadas dentro das nossas próprias fugas. Exalamos nossa própria podridão metamorfoseada pela transformação que operamos, nos outros, dentro de nós mesmos – somos a autofagia da decrepitude insensata do erro primário.

Em nossas farras noturnas também buscamos o alimento e o acasalamento... Existem feromônios desencadeando reações químicas. E o contato físico pode causar, embora não compulsoriamente, perpétua "antenação" – traduzindo-se esse fenômeno atualmente por retorno ao mundo Viking, algo assemelhado a galhos, chifres... Invente sua própria denominação, tente. Você pode! Ou é daqueles que vive desantenado? Cuidado, amigo! No mundo moderno estar unpluged é sinal de limitação epistemológica – o homem/mulher de vanguarda deve ser um homem/mulher antenado!

Chegou a hora de tocar o barata-voa! Hoje tem, bicharal! – diriam meus veteranos de Academia. E tem mesmo, todos os dias.

... Homem não voa, mas se esconde. Voa! E aquela figura que você nunca encontra no trabalho quando precisa? E aquele boa-vida que sempre foge pelo ralo sem tomar decisões, largando tudo em suas mãos? Esse papo virou papo de homem! E as baratinhas, por que as ignorar? Voltemos às baratinhas então...

Afinal, como devemos matar as baratinhas? Gosto de ângulos de 90º. Será que assim eu as mataria? E se agissem diferentemente, preferindo fugir a 120º, 150º, 180º... Essas baratas! Bom mesmo é entrar com os dois pés e ponto final.

– Ah, meu Deus! Uma barata!

E esse gritinho, rapaz! Isso é coisa de barata, sabia?

Sendo assim, voltemos a falar das baratinhas, desses insetos... Gritinhos. E se falássemos das mulheres? Se falássemos das mulheres... A baratinha voaria, não voaria?

Voam há milhões de anos e não mudaram muito ao longo do tempo, continuam baratinhas. Barata voa?

Fortaleza-CE, 13 de janeiro de 2010.

02h19min

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Nijair Araújo Pinto
Enviado por Nijair Araújo Pinto em 30/05/2013
Reeditado em 30/05/2013
Código do texto: T4316525
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