Bravo Gabriel
Gabriel Lott, meu bisavô, pelo que me consta dos relatos era um homem extremamente dedicado e amoroso à família, mas também muito austero. Delegado em Guanhães era quem garantia o cumprimento da lei e a ordem, e com ele "o buraco era mais embaixo" com aqueles que ultrapassavam limites, levando muitos a temê-lo. "Sô Gabi é bravo demais", dizia a tal voz de Deus. Deixou este mundo deitado numa cama com bastante dignidade e sua última frase foi dita com firmeza, alto e grave : "Não aguento mais", e fechou os olhos . Meu pai estava ao seu lado e pode nos relatar.
As décadas passaram-se e lá pelos anos 80 meu primo belohorizontino Paulinho Tadeu (também bisneto dele) estava à flor da idade e trabalhava para o CENSO demográfico em Belo Horizonte; isto passado quase 40 anos da morte de Gabriel Lott. Subiu um morro de uma comunidade humilde e batia de porta em porta inquirindo os moradores. Numa destas casas, além de pedir informações, solicitou um copo dágua e a senhora idosa que o atendeu, prontificou-se. Enquanto Paulinho bebia, a senhora pôs-se a observar-lhe a fisionomia e comentou:
- Ô, menino. Você parece tanto com um povo que tem lá na minha terra...
- A senhora é de onde?
- Guanhães.
- Oh, eu sou dos Lott de lá, bisneto de Gabriel.
A senhora bateu com as palmas da mão e as levou à boca.
- Meu Deus! - dá um passo para a frente e grita para os fundos da casa - Gabriel! Gabriel ! Vem cá!
Veio lá do quintal um cachorro fila brasileiro, enorme, com cara fechada , se abanando perto da senhora e cheirando o Paulinho com desconfiança.
- Este cachorro é tão bravo com o povo daqui, que eu acabei pondo o nome nele de Gabriel, por causa de seu bisavô.