O PIRANGUEIRO - Memórias Existenciais de Ruas

O PIRANGUEIRO

Memórias Existenciais de Ruas

Apático – registra no seu comportamento a sensação indiferente ás mudanças estruturais – de modo nenhum é afeito a reflexões. Artificializado – impregna suas atitudes de lugares-comuns convencionais, reproduzindo o superficial nas relações culturais e sociais. Limitado- utiliza códigos de linguagem verbal mínimo e caracterizados pelo esforço ausente no discurso inexistente, sua fala é amais ignorante demonstração do flagelo seca-sertão. Lembra o vazio, figura sem representação pouca, oca.

A esquina é o seu espaço. Enquanto observa desocupados outros, desocupados outros menos, desocupados outros mais – Todos.

Agachado ou sob a magrela – a bike. Assim como sua mente, estaciona ali mesmo. Numa incapacidade condicionada pela lógica cultural dos tempos presentes.

A esquina é o espaço. Observa as coisas outras, outras menos, outras mais, outras todas. Nada.

Alimentado pelo tráfico de drogas, subutilizando-se em roubos, furtos. Novinho, uma referência cada vez mais precoce ao seu prazo de validade vencido. Não chegará aos 14, 15... Novinho é uma figura repetida, passagens diversas pela FEBEM (É o novo!) pela DCA, sofridas passagens pela escola, quando ameaça os professores e colegas, portando faca e 38. Passagens conhecidas pelas topics, sua favorita a 52. Muitas passagens pelos bailes (É o novo!) e pelos forrós. Estaciona a bike. Encontra outros novinhos, se comunicam pelos reduzidos termos convencionais, são figuras repetidas.

Novinho esboça um raciocínio, “fazer uma parada!”. Novinho é condicionado pelas situações periféricas, convívios cada vez mais distantes existencialmente. O longe-perto parece que cria uma fronteira não física. As barreiras em todos os sentidos. Entre a pobreza e a miséria. O alcance material a celulares, internet, roupas de marca. É a ilusão que não mais oferece segurança existencial, chegando a manifestar uma inconsciente incomodação com recursos disponíveis em desertos.

Novinho da periferia é o equivalente ao Filho ou Juninho. Condominiais, edificiais. “Vô fazê um jogo!”. Age Novinho. A moça se assusta, o menor lhe rouba bolsa e celular, relógio e uns 50 contos. Apresenta uma “peixeira enferrujada”, booôra suara...pariiigaaa!!! passalogotudo, ô te furo, bôrabôrabôra, vagabuuuundaaa!. A quenga assustada tenta correr,mas é bloqueada por outro Novinho. Montam na bike e saem fora. Nem Ronda nem Raio. A moça lembrou instantaneamente de um pirangueiro morto por traficantes, tinha 13 anos. Usuário de pedra, menor, cabelo neymar, sem camisa e boné ao lado. Devia uns 50 contos ao empreendedor dos tóxicos, a mãe ex-usuária desesperada, atual crente. Com esse eram 3 pirangueiros que ela contava. Deve não paga, morre. Novinha, a mãe, uns 34.