O FOLCLÓRICO “SGT PEIXADA”
Por: Lindoval Rodrigues Leal – Maj BM
Das muitas experiências que tive como Soldado Bombeiro Militar, além das ocorrências bombeirísticas, em um tempo onde a estrutura era muito mais precária que a atual, vivi e acompanhei muitas estórias engraçadas ou no mínimo curiosas. Era um tempo em que não tínhamos muitas coisas além da amizade dos colegas de profissão. Éramos poucos, mas com muita garra e determinação enfrentávamos todo e qualquer sinistro.
Tínhamos somente duas unidades na Capital: uma Seção de Combate a Incêndio e Salvamento na á área urbana e uma Seção Contra incêndio no aeroporto. Nosso efetivo de então estava dividido entre os chamados “urbanos” e os “primos ricos” do aeroporto (Infraero). Essa alcunha de “primos ricos” para os combatentes da SCI aeroporto devia-se as benesses que haviam na época, tais como uma gratificação em dinheiro, instalações físicas melhores que as do Bombeiro Urbano e ainda um excelente “rancho” que era doado semanalmente pela administração da Infraero, sem contar a tranqüilidade do serviço. Em suma, todos os bombeiros brigavam para ir trabalhar ou permanecer por lá!
Nesse cenário é que surge o personagem central dessa estória: o folclórico “SGT PEIXADA”. Tratava-se de um militar já “antigão”, baixinho e barrigudo e que cultivava um bigodão enorme muito parecido com o do personagem Leôncio do desenho do Pica-Pau. Estava sempre por perto acompanhando tudo e a todos; era do tipo falante e gostava de dirigir-se pessoalmente aos bombeiros usando termo “peixada” (por isso ganhou este apelido). Era afeito a rasgar elogios ao combatente a quem se dirigia, mas era só o mesmo se afastar, ele descascava o sujeito com todos os adjetivos depreciativos possíveis. Não tinha pena! Falava mal mesmo! Era um autêntico “Coxinha”! (personagem do Programa Garras da Patrulha)
Por ser o segundo mais antigo era quem tomava as decisões administrativas referentes à movimentação de pessoal entre as Seções. Na época, era muito comum, principalmente no verão a escala ficar apertada devido aos inúmeros “fogo no mato” e ter que remanejar pessoal da SCI Infraero para a SCI Urbano para uma temporada. Até aí nada de anormal. Todavia, havia uma resistência muito grande dos bombeiros, que não queriam sair da SCI do aeroporto.
Para tornar o processo menos doloroso e aceitável, o SGT PEIXADA resolveu instituir a modalidade sorteio. Ou seja, assim que fosse necessário alguém para cobrir a escala do bombeiro urbano, seria sorteado o “felizardo” e encaminhado de imediato à escala de serviço. Era o que ninguém da SCI Infraero queria!
Eu, recém-chegado e o mais “novinho”, estava apreensivo, pois a qualquer momento poderia surgir o famigerado sorteio. Assim, num dia de manhã foi anunciado que um de nós seria enviado para compor a escala do urbano e todos ficaram na expectativa de ver quem seria o “agraciado”. De repente, eis que surge o SGT PEIXADA com um recipiente nas mãos contendo papeizinhos enrolados e com cara de sério e bradou:
- “Zé Negão” tira aí o nome do “peixada” que vai para o urbano!
O Soldado José, de pronto colocou a mão no recipiente e sacou o papelzinho sob olhar atento de todos nós e o passou para o SGT que de imediato já abriu:
- É tu mesmo, Marinheiro!
- Permissão SGT! Não pode ser! – Protestou o Soldado Marinheiro – Pô! É a quarta vez que sou sorteado nos últimos meses!
- Fazer o quê, né “peixada”! Tú não tem mesmo sorte!
E lá se foi o soldado Marinheiro praguejando arrumar as suas coisas, e quando desapareceu na curva da estrada que dava acesso a saída com destino ao Bombeiro urbano, o SGT PEIXADA, com uma gargalhada irônica e divertida, comentou:
- kkkkkkkkk... Mas é bobinho esse “PEIXADA”... kkkkkkkkkk... ele ainda não desconfiou que só coloco o nome dele para ser sorteado!!!
Resumindo, todos os papéis enrolados no copo para o sorteio, continham o nome do soldado Marinheiro!
Bons e velhos tempos, aqueles! Há vinte e poucos anos...