151 – NÓ DE CACHORRO...

Certa vez pescando no rio Taquari, no Mato Grosso, estávamos arranchados nas terras do senhor João Ramalho, um mineiro bom de prosa, contador de causos e acontecidos.

E já se faziam uns três dias que tínhamos montado o acampamento, quando ele chegando ao entardecer trazia consigo um feixe de raízes que apresentavam uns nós nos seus segmentos, disse que se tratava do nó de cachorro, cujo efeito de uma garrafada é fazer ficar duro o que teima em ficar mole, que levantava qualquer coisa, principalmente aquela coisa que não está querendo mais nada com nada, e que essa estimulante raiz dava alegria e prazer aos homens envelhecidos e cansados.

Com aquele feixe de raízes nas mãos perguntei ao meu Pai se ele estava precisando:

- Que isso meu filho! Eu to é muito bom no batente, num preciso desta garrafada para melhorar o meu desempenho, to precisando até é de um calmante...

Voltei pro Alceu Venturoso, e este foi logo se justificando dando sonoras gargalhadas:

- Você tem dúvidas do meu desempenho? To tinindo de bom, e não tem essa de nó de cachorro pra cima do velho, porque o velhinho aqui é garanhão, é garanhão... É garanhão...

E assim sucessivamente ofereci o nó de cachorro para o Chico Surdo, para o Antonio José Pasteleiro, pro Vergílio Rigobelo e todos dando largas risadas dispensaram aquele afrodisíaco sertanejo, rebatiam em velhas ladainhas e sempre enaltecendo os seus desempenhos na cama.

Bem, eu que estava um tanto derrubado por uma doença degenerativa e precisando mesmo de uma ajuda, fui até a cidade de Coxim e comprei um garrafão de vinho branco, recomendado, e já no acampamento macetei aquelas raízes e aqueles nós, seguindo cegamente as instruções do Senhor João Ramalho.

Fui introduzindo no garrafão as raízes com os nós devidamente macetados e o vinho foi se turvando, adquirindo uma coloração avermelhada, e teria que ser deixado em repouso pelo prazo de pelo ao menos três dias.

Na pescaria os dias passam rápidos, ligeiros, serelepes, e somente lá pelo quarto ou quinto dia foi que me lembrei da garrafada e avidamente fui tomar uma dose daquele revigorante de largas famas, mas para minha surpresa e decepção o garrafão de vinho estava vazio, completamente vazio, estava seco, nem uma só gotinha sobrou do vinho, tomaram às escondidas o meu elixir.

Com o garrafão vazio nas mãos indaguei os meus companheiros querendo saber qual deles havia bebido toda a minha garrafada, e todos juravam de pés juntos que não tinham sequer visto a tal garrafada, que não precisavam de muletas, mas não olhavam nos meus olhos, cabeças abaixadas, com um sorriso maroto discordavam da acusação:

- Cambada, eu sei que foram vocês que tomaram a minha garrafada, e tomara que o efeito em vocês seja ao contrário, mas bem ao contrário, praguejei!

Relatando ao senhor João Ramalho do acontecido, ele deu largas gargalhadas, e falava por falar:

- Uai, quem disse que os garanhões não estavam precisando de uma garrafada de nó de cachorro?

A nossa traia já arrumada nas caminhonetes, íamos partir, foi quando aquele bom mineiro me presenteou com um novo feixe de raízes do nó de cachorro, e ele sorrindo me recomendou que só fizesse a garrafada quando estivesse sozinho em casa para evitar os gambás beberrões, os falsos garanhões.

A viagem de volta é sempre longa, mais de mil quilômetros longe de casa, avançamos por estradas sem fim, chegando finalmente em casa, cada um tomou o seu rumo, e no outro dia me lembrei do nó de cachorro, e saí a procurá-lo, procura daqui, procura dali e nada, olhei nas caixas de pescarias e nada, alguém havia surripiado o feixe de raízes, na certa ciente dos seus efeitos revigorantes, e eu fiquei sem saber que gosto tinha a garrafada do afamado nó de cachorro, e se realmente era tão afrodisíaco como diziam os ribeirinhos..

Magnu Max Bomfim
Enviado por Magnu Max Bomfim em 19/05/2013
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