A CEGUEIRA DO CABOCLO

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Recontando Contos Populares

 

Era uma vez um homem que se chamava Antônio João. Era cego e tinha dois filhos que se dedicavam à caça.

 Um dia os filhos foram caçar em certa floresta e levaram o pai para que guardasse a carne. Quando chegaram montaram o acampamento e partiram para a caça.

 O pai ficou sozinho e começou a ouvir os passos de uma pessoa e que lhe chamava: Antônio, Antônio! E Antônio responde:

 — Sê bem-vindo, amigo!

 O que tinha chamado respondeu:

 — Obrigado, amigo!

 E perguntou a Antônio:

 — Ó amigo! De que é que sofres? Estás cego dos olhos ou do coração?

 Antônio João respondeu:

 — Os olhos estão cegos! O coração, cá dentro, está são!

 — Então diz: “Claridade”!

 Quando Antônio disse claridade os seus olhos abriram-se e viu o homem sentado a seu lado.

Depois defumarem um tabaco, os dois começaram a arrumar o acampamento: varreram, fizeram comida. E tudo ficou em ordem. Por fim, aquele que tinha vindo disse:

 — Ó amigo! Estás cego dos olhos ou do coração?

 Antônio respondeu:

 — Estou cego dos olhos.

 — Então diz “Escuridão”!

 E Antônio disse escuridão e logo deixou de ver.

 Quando os filhos chegaram ao acampamento ficaram muito admirados e perguntaram:

 - Quem arrumou tudo isto?

 O pai contou-lhe o que se tinha passado que tinha recuperado a vista por instantes. Os filhos disseram-lhe então:

 — Se esse amigo voltar, quando ele te pedir para dizeres escuridão tu não dizes e em vez disso vais dizer claridade. E vamos ver o que acontece!

 Fez-se noite e eles deitaram-se.

 De manhã lá foram para a floresta caçar. O pai mais uma vez ficou no acampamento até que voltou a ouvir: Antônio, Antônio!

— Sê bem vindo, amigo.

 O outro responde-lhe:

 — Obrigado amigo!

 E perguntou-lhe:

 — Ó amigo! De que sofres? Dos olhos ou do coração?

 — Estou cego dos olhos!

 E o amigo pede-lhe para ele dizer "Claridade”. Antônio mais uma vez disse a palavra e os seus olhos abriram-se. Depois de o terem fumado, começaram a fazer o trabalho deles. Antônio não tinha se esquecido do conselho dos filhos. Tirou comida e ofereceu-a ao amigo. E tudo correu bem até ao fim. Até que o outro se preparava para ir embora. E perguntou a Antônio:

— Ó Antônio! Estás cego dos olhos ou do coração?!

— Os olhos estão cegos! O coração está são!

 E o outro:

 — Ora diz “Escuridão”!

 Mas, Antônio, lembrando-se do que os seus filhos lhe tinham dito, respondeu:

 — Claridade.

 E eis que ele continuou a ver!

 O amigo pegou uma pomada que trazia consigo, aplicou-a nos olhos do Antônio e eles ficaram sãos. Despediram-se, e ele partiu.

 Quando os filhos voltaram, ficaram muito alegres por verem que o pai tinha recuperado a vista. De manhãzinha deixaram o acampamento e voltaram para a aldeia. ®Sérgio.

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Nota Sobre o Texto: Este texto é baseado em um conto tradicional de Angola.

Imagem: Caipira cortando fumo. Óleo sobre tela de José Ferraz de Almeida.

Se você encontrar omissões e/ou erros (inclusive de português), relate-me. 

Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquer comentário. Volte sempre!

Ricardo Sérgio
Enviado por Ricardo Sérgio em 15/05/2013
Código do texto: T4292305
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