PITINTIMBOLA DE CATINTIMPANO
Foi na casa de Chico. Chico não tava. Pensou, pensou. Resolveu voltar e voltou. Aproveitou pra tocar campainhas. Tocou correu, tocou correu com a bola debaixo do braço. Dona Maria saiu na porta e gritou vou falar com sua mãe, seu moleque endiabrado. Mas ele já estava lá longe virando a esquina e tá bom que tinha medo de ameaças da dona Maria. Só não fez aquele gesto obsceno do outro dia porque senão aí sim. Parou quando encontrou Chico e Chico perguntou tá vindo de onde? Ele não respondeu e então Chico perguntou que bola é essa? Pimba, pimba, pimba com a bola no chão. Depois falou ganhei do meu pai e perguntou vamos jogar? Chico falou vamos e jogaram gol a gol só eles dois até que Baianinho apareceu, Zé Ruela apareceu, Tiziu apareceu e um monte de moleque apareceu. Então tiraram par ou impar pra escolher os times e ficou seis pra cada lado e ainda sobrou o Bolacha que era muito ruim de bola e ninguém nunca escolhia. Depois discutiram, discutiram pra ver quem ia jogar no gol, só que Pitintim falou no gol eu não jogo porque a bola é minha. Puseram dedos e quem perdeu foi pro gol meio com raiva e Bolacha também tava com raiva porque ficou de fora. Cataram tijolo e riscaram o meio de campo e a área bem na frente da casa da dona Maria que gritou se essa bola cair aqui eu furo. Nem te ligo pra dona Maria e o jogo começou. Disseram pro Bolacha ficar de gandula e ele ficou pois, não tinha outro jeito. Pitintim reclamava falta em tudo quanto era jogada e dizia se não der falta eu levo a bola embora. Chico tava no time de Pitintim e marcou o primeiro gol. Tiziu que driblava pra caramba empatou com uma bicuda e a bola foi parar lá longe. Esperaram, esperaram e xingaram Bolacha que era muito mole e tava demorando pra trazer a bola. Dona Maria tava no muro só espiando e a molecada não tava nem aí com ela. Tiziu marcou mais um, Zé Ruela fez o terceiro. Pitintim ficou com muita, muita raiva e deu um chutão pro alto. E a bola subiu e depois pimba na calçada, pimba na calçada outra vez e pimba no quintal da Dona Maria. Aí sim! Todo mundo ficou bem quietinho e dona Maria falou eu não avisei que ia furar a bola? E todo mundo ficou quieto porque a dona Maria era fogo. Dona Maria tava com a bola na mão, Pitintim pediu a bola de volta e ela falou não dou, vai chamar tua mãe. Todo mundo aproveitou pra descansar e sentou na calçada do outro lado. Só Pitintim ficou de pé pedindo a bola, dona Maria não dava e só dizia vai chamar tua mãe. Então ele foi ficando com mais raiva, com mais raiva e com mais raiva até que falou pra dona Maria não vou chamar minha mãe coisa nenhuma. E dona Maria fez ah é? Pois então eu vou furar a bola. Pitintim já estava com bastante raiva e disse pra ela fura se a senhora é homem e dona Maria furou mesmo. Pufff! Novinha, novinha e a dona Maria furou mesmo. Aí que Pitintim ficou maluco de raiva, fez aquele gesto obsceno e ainda por cima gritou véia fia duma puta. Só depois foi que ele chorou com a bola murcha na mão. Chico e Zé Ruela perguntaram pra Pitintim quer que a gente taca pedra no vidro dela? Mas Pitintim falou que não precisava. Depois todo mundo se espalhou e Bolacha foi embora com uma metade da bola de borracha na cabeça queném chapéu. De tarde tava todo mundo tirando par ou impar de novo. É que Tiziu apareceu com uma bola de meia que era menor mas, dava pra jogar. E Pitintim falou assim pra dona Maria que já estava no muro outra vez quero ver a senhora furar essa! Tava três a dois pro time de Chico e Pitintim quando a bola começou a se esfarelar de tanta bicuda.
*********************
Publicado nos "Anais da VI Jornada Médico-Literária Paulista" - 27 a 30.09.2001 - Botucatu - SP
Premiado com medalha de prata no concurso de contos da VI Jornada Médico-Literária Paulista da SOBRAMES-SP - 2001