A confissão

Aguardava o momento certo para contar aos seus pais. Não sabia como podia dizer uma coisa daquelas e não provocar uma avalanche de comentários na família, na vizinhança, na escola. Tinha 25 anos e vinha de família muito tradicional, conservadora ao extremo. Na escola, era motivador de comentários nada agradáveis.

Na verdade seus pais já desconfiavam das suas atitudes. Aquele jeito de falar, aquele modo de andar, aquela mania de perguntar tudo e prestar atenção em todos, era um rapaz educado, meigo, amável...

— Educado até demais, parece uma moça! Diziam os vizinhos.

Era possuidor de uma forma única de sorrir, de falar. Não gostava de festas e, por isso, raramente ia a algumas que era convidado. Ficava irritadíssimo se alguém, hora ou outra, perguntava sobre sua vida amorosa. Não que fosse feio e que as garotas não lhe dessem bola. Muito pelo contrário, era bonito e volta e meia a campanhia da sua casa era apertada por alguma bela jovem a procura de aventuras noturnas.

— Tem homens que nascem para ser de várias mulheres e homens, como eu, que nascem para ser de uma mulher só... Essa era sua resposta às intelerpelações dos amigos e da família.

Assim, ia sobrevivendo aos olhares desconfiados de todos a sua volta. Buscava um momento oportuno e que melhor dia que não no seu aniversário de 26 anos? Lá estariam todos: seus amigos, seus vizinhos, seus primos, o pessoal da escola, as garotas e, principalmente, seus pais. Isso! Seus pais estariam lá, com certeza! Que dia melhor? Que momento melhor? Encheu-se de coragem, estufou os peitos magros e decidiu: seus pais teriam uma bela surpresa!

A festa estava animada e a banda, convidada por cortesia de um amigo de seu pai, tocava músicas alegres...

Está tudo muito bom, está tudo muito bem, até que o momento da confissão chegou. Esse negócio de pedir discurso em aniversário nunca dá certo. Sacou do microfone e começou a desembuchar:

— Em primeiro lugar quero agradecer a Deus por mais um ano de vida e a todos pela presença...

Vamos cortar a parte das chorumelas e ir direto a parte que nos interessa:

—... Quero aproveitar a presença de todos vocês aqui para contar algo que me incomoda já faz muito tempo...

Todo mundo olha para um casal ali no canto (seus pais) e depois para o palestrante nervoso.

— sempre fui motivo de chacota por onde andei. Pelo meu jeito, pelas minhas atitudes, enfim, vocês sabem, já que a maioria de vocês são autores das mais injustas frases o meu respeito. E agora com 26 anos tenho que confessar que eu...

— Lesse! Grita um amigo lá do fundo.

Sem dar atenção, ele continua:

—... Então, como eu estava dizendo...

— Morde a fronha! Ouve-se lá do fundo. E o nosso palestrante inabalável:

—... Preciso confessar a todos que eu...

— Viado! Gritam duas velhinhas que estavam sentadas um pouco mais atrás. Novamente nosso Réu - Confesso retoma o discurso:

— EU QUERO SER PADRE, @#$%¨&*! PADRE, *&¨**%¨$#@"!

— (...)

Seus pais até hoje lembram, com carinho, daquela festa...

Adriano Paulo
Enviado por Adriano Paulo em 25/04/2013
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