Huuum... Sei não!
Seu Tinoco chegou da cidade com uma novidade. Comprara uma traia de pesca nova com tudo que tinha direito e, tal menino com brinquedo novo, queria compartilhar com todos os frequentadores da Vendinha o seu entusiasmo. A maioria da peonada acostumada a pescar com caniço de bambu, se encantava com a descrição dos novos equipamentos adquiridos pelo mascate aposentado. Eu disse a maioria porque, recostado a seu canto predileto do balcãozinho, Manezinho observava a alacridade de Seu Tinoco e, vez por outra, emitia um sonoro estalo de língua, acompanhado de uma enigmática frase, em tom de descrédito.
— Huuum... Sei, não!
Seu Tinoco, acostumado às interferências do caipira em suas conversas, interrompia a prosa e dirigia um olhar indagativo ao peão, que virava a cabeça como se não houvesse dito nada. O mascate, então, voltava à prosa, tentando ignorar as intervenções de Manezinho.
— É uma belezura, Seu Zé! Só vendo!
— Então, Seu Tinoco. Vamos marcar uma pescaria, para estrear a traia! — dizia eu, incentivando o amigo.
— Mas, olha. Vou avisando, hein! Vão preparados para perder apostas!
E Manezinho, fingindo-se alheio, provocava:
— Huuum... Sei, não!
De seu lado, Seu Tinoco se esforçava para não dar atenção ao provocador, e, nem precisava ser bom observador, para notar que ele estava para explodir. Querendo ver o desenlace da arenga, eu puxava a língua do mascate, para ver o quanto ele ainda aguentava.
— Os molinetes, Seu Tinoco. Devem ser de primeira, hein?
— Primeiríssima, Seu Zé! O fino da tecnologia japonesa. Todos de quatro rolamentos, levíssimos!
— Huuum... Sei, não!
Cada vez que ouvia o estalar da língua e a expressão de dúvida, mesmo que ele nem olhasse para o emissor, podia-se notar, pela ligeira inflada da veia do pescoço, que as interjeições do matuto estavam produzindo uma crescente onda de irritação em Seu Tinoco. Entretanto, esforçando-se para manter a calma, o mascate continuava:
— Sabe Seu Zé... O equipamento é, deveras, importante em uma pescaria. Todo bom pescador sabe disso! A própria vestimenta faz diferença. A roupa deve ser de cor escura. Roupa branca, nem pensar... Espanta os peixes!
— Huuum... Sei, não!
Seu Tinoco, que alem do equipamento, havia comprado, também, um vistoso uniforme camuflado, chegando ao seu limite, explodiu:
— Huuum... Sei, não! Huuum... Sei, não! Huuum... Sei não o que, Seu Mané? Por acaso o senhor entende de pescaria, para ficar ai duvidando?
— Uai, sô! intendê, inté qui num intendo. A traia inté pode sê. Mais a roupa... Sei, não!
— Sei não! Isso lá é resposta! "Argum" motivo o senhor deve ter. Então se explique, homem! Vamos, desembuche!
— Presta tenção, Sô Tinoco! Lá perto di casa tem um lagoão, o sinhô sabe né? Intão, lá tem um bando de garça. As garça só come pexe, né? Pois intão, elas só veste ropa branca! Ai eu lhe pregunto: A vestimenta faiz arguma deferença?
— Huuum... Sei, não!
Seu Tinoco, acostumado às interferências do caipira em suas conversas, interrompia a prosa e dirigia um olhar indagativo ao peão, que virava a cabeça como se não houvesse dito nada. O mascate, então, voltava à prosa, tentando ignorar as intervenções de Manezinho.
— É uma belezura, Seu Zé! Só vendo!
— Então, Seu Tinoco. Vamos marcar uma pescaria, para estrear a traia! — dizia eu, incentivando o amigo.
— Mas, olha. Vou avisando, hein! Vão preparados para perder apostas!
E Manezinho, fingindo-se alheio, provocava:
— Huuum... Sei, não!
De seu lado, Seu Tinoco se esforçava para não dar atenção ao provocador, e, nem precisava ser bom observador, para notar que ele estava para explodir. Querendo ver o desenlace da arenga, eu puxava a língua do mascate, para ver o quanto ele ainda aguentava.
— Os molinetes, Seu Tinoco. Devem ser de primeira, hein?
— Primeiríssima, Seu Zé! O fino da tecnologia japonesa. Todos de quatro rolamentos, levíssimos!
— Huuum... Sei, não!
Cada vez que ouvia o estalar da língua e a expressão de dúvida, mesmo que ele nem olhasse para o emissor, podia-se notar, pela ligeira inflada da veia do pescoço, que as interjeições do matuto estavam produzindo uma crescente onda de irritação em Seu Tinoco. Entretanto, esforçando-se para manter a calma, o mascate continuava:
— Sabe Seu Zé... O equipamento é, deveras, importante em uma pescaria. Todo bom pescador sabe disso! A própria vestimenta faz diferença. A roupa deve ser de cor escura. Roupa branca, nem pensar... Espanta os peixes!
— Huuum... Sei, não!
Seu Tinoco, que alem do equipamento, havia comprado, também, um vistoso uniforme camuflado, chegando ao seu limite, explodiu:
— Huuum... Sei, não! Huuum... Sei, não! Huuum... Sei não o que, Seu Mané? Por acaso o senhor entende de pescaria, para ficar ai duvidando?
— Uai, sô! intendê, inté qui num intendo. A traia inté pode sê. Mais a roupa... Sei, não!
— Sei não! Isso lá é resposta! "Argum" motivo o senhor deve ter. Então se explique, homem! Vamos, desembuche!
— Presta tenção, Sô Tinoco! Lá perto di casa tem um lagoão, o sinhô sabe né? Intão, lá tem um bando de garça. As garça só come pexe, né? Pois intão, elas só veste ropa branca! Ai eu lhe pregunto: A vestimenta faiz arguma deferença?