...Festa do Farol...

Como de praxe, todos os dias antes de sair para o trabalho ele ligava o seu computador e vasculhava sua caixa de e-mails. Certo vez, ao contrário dos outros dias que ele não recebia nada de interessante, uma mensagem ansiava para ser lida.

“ Você foi sorteado para participar da FESTA DO FAROL, que será realizada neste próximo sábado, às 23 horas, na Rua dos Eucaliptos, nº 762, Jardim Botânico. A festa é temática, portanto, os convidados deverão vir usando os seguintes trajes: VERMELHO ( para os comprometidos), AMARELO ( para os “enrolados” ) e VERDE ( para os totalmente livres e desimpedido ), escolha o seu traje...venha e divirta-se!!! “

- Eu vou todo de verde parecendo um grilo fluorescente! – ele pensou sorrindo.

Ansioso para tal festa e preocupado com o seu traje, ele visitou vários shoppings à procura da vestimenta que mudaria o seu estado civil de encalhado para comprometido. Com essa responsabilidade em mãos, ele não economizou tempo e nem dinheiro. Experimentou roupas com os mais variados tons verde, tinha verde -marciano, verde -exercito, verde -menta, verde- primavera, verde -oliva, verde -musgo e verde -bandeira, porém, nenhum desses lhe agradava, ele queria um verde, digamos assim, mais verde.

Desanimado com o insucesso da sua busca e prestes a desistir dessa labuta, avistou ao longe numa vitrine, uma calça verde-lima e uma camisa chiquérrima verde -chartreuse. Para completar a sua vestimenta, comprou também um tênis verde- mar, um boné, uma pulseira e um colar que ficavam esverdeados e brilhavam no escuro.

A ansiedade não o deixava dormir. Todas as noites ele acordava de madrugada, abria o guarda roupas, pagava as sacolas, espalhava as roupas novas pela cama e ficava horas e mais horas venerando aqueles pedaços de pano que dariam uma grande guinada em sua vida.

È chegado o dia! Ele acordou cedo, cortou as unhas, fez a barba com grande capricho, tomou um banho demorado e hidratou o seu corpo. À tarde, ficou o tempo todo passando o ferro na tal roupa. Passava de um lado, passava do outro, passava do avesso, passava de ponta cabeça, passava aqueles panos de todas as formas possíveis e imagináveis, pois, desejava apresentar-se na festa de forma impecável.

È chegada a hora! Vestiu-se majestosamente, borrifou-se com o seu melhor perfume e saiu.

Chegou à festa exatamente a meia noite. Pela quantidade de carros existentes no estacionamento, a impressão que ele teve era que a festa já estava bombando. Colocou um chiclete na boca, desceu do carro, deu uma última ajeitada no visual e foi em direção à entrada. De fato, o local estava lotado, mas, para o seu desespero e confusão mental, todas as pessoas estavam vestidas de vermelho.

Desconfiado, entrou no salão, encontrou uma mesa vaga, se sentou, pediu uma bebida e lá ficou. Alguns casais passavam por ele, cochichavam alguma coisa e caiam na gargalhada. Outras pessoas, o mediam dos pés à cabeça e o encaram segurando o riso. Ele sentia-se um intruso naquele lugar e aquela situação começou a incomodá-lo. Ficou sentado ali por um longo tempo na esperança de que alguém conhecido chegasse, ou, ao menos, os outros amarelos e verdes aparecessem, mas, para sua infelicidade, ninguém chegou.

Cansado da espera, ele se levantou para ir embora. Porém, deu o primeiro passo e se lembrou de tudo que passou para estar ali naquele momento. Lembrou-se do dinheiro e o tempo gasto na procura das roupas. Lembrou-se das noites sem dormir. Observou as suas unhas, passou as mãos nos cabelos e na barba e desistiu de sair.

- Agora que estou aqui, vou aproveitar cada segundo dessa porra! – ele pensou com raiva.

Bebeu sozinho, dançou sozinho e curtiu a festa adoidado.

As seis da manha anunciaram o termino do evento.

E ele, exausto, cansado e bêbado, foi até o estacionamento, abriu a porta do seu carro, entrou, sentou, fechou a porta, colocou o sinto e arrumou o retrovisor. Neste momento, ele viu pelo espelho uma porta enorme se abrindo, e dela, centenas de pessoas vestidas de verde saiam por ela. Não acreditando no que via, ele piscou os olhos varias vezes para ter certeza de que não estava diante de uma miragem. Lentamente ele tirou o cinto, abriu a porta, saiu do carro, virou de costa e viu uma faixa que dizia:

“!!!FESTA DO VERDE AQUI!!!”

Aline de Melo
Enviado por Aline de Melo em 18/04/2013
Reeditado em 18/04/2013
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