Testemunha 'alccolar"

Este é um causo de três personagens distintas que o destino conseguiu junta-las numa delegacia de policia por conta de uma “baita” confusão.

O primeiro deles era o Baltazar, cego de nascença que andava pelas ruas da cidade sozinho, com a ajuda de uma bengala branca, sua profissão chaveiro e especialista na abertura de cofres..

O segundo era o Zé Dantas, motorista de caminhão aposentado, que fora obrigado a largar a profissão por conta de uma congestão que deixara um lado do seu corpo paralisado, andava com dificuldade arrastando uma das pernas..

O terceiro e último das personagens era Antônio Pretinho, bêbado inveterado, que começara a beber ainda moço. Por conta de um par de “chifres” que ganhara da mulher. Vivia da caridade pública, constantemente bêbado e caído pelas calçadas.

Certo dia, Baltazar (o cego) caminhava por uma das ruas do centro da cidade, embora cego andava com certa desenvoltura para a sua condição. Sem maiores explicações Baltazar para repentinamente e fica postado no meio da calçada. Logo atrás do cego vinha Zé Dantas o (aleijado), caminhando com dificuldade arrastando a perna direita. Como Zé vinha distraído não prestou atenção no outro parado a sua frente. A batida foi inevitável. O cego pego de surpresa, perde o equilíbrio e caí com todo o corpo ao chão, para arrematar com o aleijado sobre as suas costas..

Quando Baltazar se refez do susto, dá de garra da sua bengala de cego e passa a brandi-la em todas as direções, tentando acertar aquele que lhe derrubara, enquanto gritava:

- Você ta cego “seu felá da P.” ?

- Veja por onde anda !

Mesmo aleijado e com dificuldade para se locomover, Zé Dantas levantou-se rápido como um felino, numa tentativa de evitar as bordoadas que o cego lhe aplicava, mas, de nada adiantou tanta rapidez, várias bordoadas acertaram as suas costas. Com as bordoadas levadas, Zé Dantas ficou possesso e partiu para cima do cego, se agarraram como numa luta “romana”, rebolam agarrados calçada afora. Estava armado o “sururu”.

As pessoas que passavam formavam um circulo em torno dos brigões e haja tapas, murros, dentadas e até puxões de cabelo.

Alguém tentava apartar a briga mas a coisa estava feia, até a policia foi convocada para separar os dois. Enquanto a policia não chegava para separar os brigões um “gaiato” que assistia a briga teve uma idéia e gritou:

- EPA, DE FACA NÃO !c ! !

O cego imaginando que o aleijado estava armado com uma faca soltou o pescoço do opositor. Levanta-se

imediatamente ficando de pé a poucos passos do local da briga.

Enquanto isso chega a policia a trata de agarrar os brigões colocando-os dentro do “camburão”

Antes de levá-los para a delegacia o cabo da patrulha procura entre os presentes alguém que vira o inicio da briga. Como ninguém queria se envolver, por isso negaram que não tinham visto como a briga começou.

Foi aí que Antônio Pretinho (terceiro personagem) entra em cena, com aquela voz pastosa típica dos bêbados, se aproxima do cabo, e,. . .

- Dá licença seu Cabo ?

- Eu vi tudim, se o senhô quiuzé eu vô inté a

delegacia para contá cuma a briga começou !

Depois de pensar alguns instantes , o cabo respondeu:

- Não precisa ir a delegacia ! Agora conte como a

coisa começou !

Antonio Pretinha, depois de piscar os olhos, deu um tombo para o lado e iniciou o seu depoimento:

- O negócio é o seguinte: O cego vinha na frente escrevendo no chão com a sua bengalinha ! O outro (o aleijado) vinha atraí, apagando com os péi o que o ceguinho estava escrivinhando! O ceguinho ficou mordido e tacou a bengala no safado!

Este foi testemunho “alcoolar” do ponto de vista de Antônio Pretinho.