MINHA AMIGA E A DOR NA ALMA
Outro dia encontrei uma leitora, já conhecida desde os finais dos anos 50. Somos conterrâneos do Distrito de Roseta (Patrimônio de Roseta, como era conhecida). Veio comentar o conteúdo dos meus "Causos", que lê com frequência e solicitou que publicasse alguma coisa referente à "Dor na Alma". Disse então dentro de sua simplicidade, que a vida havia lhe pregado algumas peças que lhe traziam um certo sofrimento e como consequência uma profunda dor na alma. Afirmou já ter procurado ajuda de Médico, Psicólogo, Psiquiatra, "Benzedô", Curandeiro e tudo o mais... Mas que o efeito desejado nunca era encontrado.
Como não acredito em conselho (se fosse eficaz ninguém dava de graça), fui procurar no meu sótão alguma coisa que pudesse lhe causar, despretenciosamente, momentos de reflexão. E a ferramenta que tenho de sobra são meus "Causos". Então mandei ver: Certa vez, um bêbado, em já adiantadas horas e totalmente calibrado, procurava algo embaixo de um poste, com excelente iluminação, na grama seca que cobria o chão. O guarda do quarteirão, vendo a inquietação do ilustre cidadão, achou que poderia ajudá-lo, na difícil tarefa. Indagado, disse que estava procurando uma "Binga"(espécie de isqueiro), que havia perdido. O Servidor abaixou-se e, de joelhos, como já estava o companheiro, começou então a ciscar. Depois de fazerem uma verdadeira varredura no local, num raio de mais ou menos três metros, absolutamente nada foi encontrado. Então o Guarda, já pendendo para a desistência, perguntou: O senhor tem certeza de que perdeu sua Binga aqui? E a resposta foi surpreendente e prática: Não!!! Eu perdi lá na beira do rio, mas lá tá muito escuro e não dá prá procurar!!!
O que acontece conosco é que perdemos a capacidade de ver que as adversidades são fenômenos naturais, fruto de coincidências de fatos que muitas vezes fogem ao nosso controle. Continuamos todavia a procurar respostas em locais onde depositamos nossas qualidades. Quando não encontramos tais respostas vem a frustração que é creditada à nossa incapacidade. Procuramos as respostas sempre onde gostaríamos que elas estivessem, mas nunca onde elas realmente estão. (Oldack/18/10/010) Tel. (018) 3362 1477. X