A FILHA DO CORONEL

O vaqueiro Severino estava apaixonado pela filha do coronel Zé Carneiro. O boato já corria por tudo quanto era canto. Pelo menos era isso o que o pessoal pensava. No bar de dona Rosinha, era só no que se falava.

- O Severino tá é de juízo mole. Se apaixonar logo por quem? Pela filha do coroné seu Zé Carneiro!

- O fi duma égua só anda agora todo perfumado, escrevendo versos de amor.

- Se o coroné sabe duma arrumação dessas vai é capar ele! Ora, se vai!

- E por falar no diabo...

O vaqueiro Severino entrou no bar. Só se ouvia o povo cochichando. Ele fez de conta que não era com ele e acenou pro pessoal, sorridente, todo perfumado. O cheiro enjoado de leite de rosas misturado com a inhaca da lida com o gado invadiu o recinto, fazendo até cachorro espirrar.

- Dona Rosinha bote uma aí, que hoje eu vô me abufelar com a fia do coroné seu Zé Carneiro! – Dona Rosinha num gostou nem um pouco e olhou pra ele assim meio atravessado e foi logo desembuchando:

- Tome tento, hôme de Deus! Cê sabe o que povo da fofocando aí, num sabe? Que vosmicê tá arrastando a asa pra fia do coroné seu Zé Carneiro! Hôme, num se meta com isso não! A fia do coroné seu Zé Carneiro num é pru seu bico, não! Ela é minina fina. É muita areia pro seu caminhão!

- O coroné num vai deixar a fia dele se misturar com vaqueiro fedendo a bosta de vaca que nem nóis! – completou um outro vaqueiro que tava ali perto.

O vaqueiro apaixonado nem ligou para os conselhos e saiu todo faceiro, decidido. Não dava a mínima para o que o povo dizia, nem escondia de ninguém que estava apaixonado e apesar das mangofas, ainda dizia que era correspondido.

Dias depois, o coronel Zé Carneiro pegou o vaqueiro Severino de madrugada fazendo amor com a novilha premiada que ele tinha mandado buscar lá em São Paulo.

O povo dizia que o sem-vergonha tava todo nu, lambuzado, beijando a vaca na boca apaixonadamente. Parecia um beijo de novela. A baba pegajosa do ruminante escorria pelos cantos da boca do infeliz.

Só bastou isso pro coronel Zé Carneiro aplicar violenta surra de relho no cabra safado, jurando capar o desgraçado. Se escondendo por trás da vaca que pastava impassível à cena tragicômica, o tarado implorava misericórdia ao colérico coronel que bramia trêmulo o chiqueirador em uma das mãos.

- Ocê pode inté se abufelar com a minha novilha premiada, seu disgramado! Agora espalhar pra todo mundo na cidade que minha filha é uma vaca, eu não deixo por menos!

E mais uma vez a chibata estalou nas costas do vaqueiro apaixonado, espirrando sangue e merda, pois o infeliz se cagava a cada golpe do coronel. Dizem que a coça varou a madrugada e no raiar do sol, ainda dava para ouvir os berros do miserável a léguas de distância.

A vaca ruminando, impassível, olhava a cena sem entender patavina.