E o casamento aconteceu
Esse fato aconteceu lá pelas décadas de 60, quando em viagem de férias para Leopoldina MG, fiquei uns dias na pequena cidade de Campo Limpo, hoje Ribeiro Junqueira MG, perto de Bicas, Recreio e Laranjal.
Os casos não ficam escondidos, e corriam de boca em boca, como se houvesse internet na época.
Cedinho, Pe. Pedro já havia tocado o sino da pequena Matriz.
Viu que na porta havia um rapaz que com o chapéu na mão, não sabia se entrava ou não.
_ O seu moço! Está querendo entrar? Quer confessar?
O rapaz entrou: _ Sabe Sr. Padre, é que quase não venho aqui. Tô meio sem jeito de conversar com o senhor. Sou o Toinho do Zé Carroceiro. Ele o senhor conhece?
_Claro, já prestou muitos serviços aqui pra nossa Paróquia, mas diga lá o que quer. Ou quer ir no confessionário? Vamos lá.
Toinho se ajoelhou e começou:
_É que to querendo casar com a Belinha, filha do vizinho Manezinho. Querendo só não, to é mesmo precisado! É que as coisas acontecem, sabe como é Sr. Padre!
_ Bom eu faço o casamento. Marque pra daqui 30 dias.
_ Só que não dá pra nós comprar as roupas, a casa eu já arrumei a tulha de milho. Será que o senhor não tem aí na igreja algum terno e um vestido guardado? Sei que muita gente faz doações pras quermesses
_Vamos dar uma olhada. Vou chamar a zeladora e ela vai ajudar a conseguir.
Depois de algum tempo Toinho saiu da Igreja todo satisfeito da vida. Levou terno completo, vestido e grinalda pra noiva Belinha.
O mês corre quando é pra casar, mesmo naquele tempo, tudo corria inclusive notícia de casamento, que quase não acontecia no pequeno Campo Limpo..
Os convidados já estavam na Igreja, o noivo com um terno que devia ter sido usado uns vinte anos atrás.
As beatas lá na frente esperando pra ver a noiva entrar.
Belinha entra um pouco desajeitada, com o vestido meio suspenso na frente, apertado de tal forma que mal conseguia suspirar.
Tudo corria tranquilamente até quando o Pe. Pedro perguntou se alguém tinha algum motivo contra a realização do casamento. Um murmúrio geral. Uma beata que já amarela de raiva gritou:
_Eu tenho Padre Pedro, eu tenho. Com meu vestido essa noiva não casa não.
Vinte anos atrás fui abandonada por meu noivo neste altar. Doei meu vestido pra Santíssima, e com ele essa pançuda não casa não. Eu que era uma donzela, sempre uma filha de Maria, não pude casar naquele dia que era o mais sonhado da minha vida.
Após alguns minutos e o Padre sem saber o que fazer, viu que um homem desconhecido lá atrás no meio do povo gritou:
_ Casa sim Padre, quem comprou este vestido fui eu! Vendi duas cabeças de gado comprei o vestido dela e meu terno que está aí com o Toinho. Eu sou o Zé Pequeno, filho do Zé Violeiro que viveu muitos anos na região.
Vocês não sabem o que me fez abandonar Tunica naquele dia, e no aperto pra fugir da Igreja. Uma das minhas madrinhas veio no meu pé do ouvido e me contou que aqueles 40 alqueires de terra já não eram mais do pai de Tunica. E ele vivia dizendo pra eu casar com ela, pois era eu que ia tocar a roça pra frente.
Saí desembestado do altar, passei pela Sacristia, tirei o terno e vesti uma batina que estava lá. Pulei a cerca, montei no primeiro cavalo que achei. A batina ficou toda rasgada. Vi umas roupas na cerca de uma casa, tirei a batina e perna pra quem tem. Abandonei o cavalo na estrada, peguei um caminhão de leite e fui pra longe. Meus pais se mudaram daqui. Não sei por que me deu na telha de vir a esse casamento.
Tunica esbravejava como uma louca. Pe. Pedro pediu silêncio.
_ Vamos continuar o casamento. E ele continuou. Na hora da saída da Igreja, todos preparados pra jogar o arroz. Belinha deu um grito:
-É agora Toinho! Minha Virgem, valha-me Deus! Tá nascendo.
Todos saíram de perto, Tunica se aproximou, tinha herdado a profissão de sua finada mãe, e ali mesmo, ajudou Belinha trazer ao mundo uma linda criança.
Zé Pequeno ao ver o lindo gesto de Tunica, pensou, pensou e resolveu chegar perto dela:
- Você ainda não se casou?
- Não, ninguém casa com moça abandonada no altar!
Zé Pequeno, mais que de supetão, agarrou Tunica pelo braço, e foi pro lado do Pe. Pedro:
-Aproveita Sr. Padre, casa nós dois agora! E vai ser uma festa só!
Levaram Belinha e Toinho com o bebezinho pra casa. Os convidados continuaram. E o outro casamento celebrado!
E viveram felizes para sempre.