Quando crianças, sentávamos na varanda e ouvíamos as historias contadas pelo senhor Zequinha, o velho caseiro da fazenda. Foi uma época muito feliz da minha vida, época em que tudo parecia mágica...  Acreditava que existiam outros mundos relatados por aquele senhor sábio e cheio de historias para contar.
Zequinha era sábio sim, muito dos causos contados por ele me encheram a imaginação de conhecimento e distração. Apresento aqui, em homenagem ao feriado, um dos causos por ele contado, prometendo voltar algum dia para lhes contar outros...

 
 
Sexta Feira da Paixão – Comer Carne
(Revisão Julio Cezar Dosan)
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 Era sexta-feira da paixão e José chegou em sua casa depois de um exaustivo dia de trabalho no campo. Testemunhou a mesa de jantar montada e mesmo antes de tomar banho, sentou-se e se serviu, perguntando para a esposa que preparava um suco:
— Onde esta a carne? Só tem peixe de mistura? Não gosto de peixe!
 A mulher tímida, temente à arrogância do marido respondeu:
— Hoje é sexta feira santa... Um dia sagrado. É pecado comer carne!
 O homem riu em desdenho e em sua arrogância bateu na mesa e ordenou:
— Pois me prepare carne porque eu não sou religioso não!
 A mulher respondeu que havia feito compras no armazém apenas para a sexta feira da paixão, e que não havia comprado carne. O homem arrogante levantou-se da mesa e indagou voraz:
— Pois hoje eu como carne nem que for a carne do diabo!
 Pronto. Mesmo cansado do árduo trabalho do campo, pegou uma faca cheio de ira e foi até o chiqueiro. Sem pensar muito, escolheu um leitão e lhe cravou a faca na barriga, o abatendo para se servir.
 Rapidamente limpou o bicho e levou a carne para a esposa, a mesma sem querer participar da ousadia do marido, negou-se a preparar a carne do suíno.
 O homem ainda determinado cozinhou a carne e se serviu, enquanto a esposa estagnada rezava por ele. O atrevido comeu até se fartar, rindo em tom de deboche, dizendo que nunca havia se alimentado tão bem.
 
 No meio da noite o homem dormia seu bom sono quando acordou com o ronco de sua barriga. De súbito, arregalou os olhos e se voltou a barriga mais redonda que de costume. Estranhou mas tentou procurar pelo sono que tardava a vir.
 Quando pegava no sono, a barriga roncava novamente igual a um porco. Ele assustado alisou a pança e ouviu um som se pronunciar lá de dentro:
— José... Eu quero sair...
 O homem do campo desesperado arregalou os olhos, e a barriga continuava a ecoar:
— José... Eu quero sair!!!
 Ele em desgraça respondeu, achando ter a solução:
— Pois então saia por onde entrou, saia pela minha boca!
— Pela boca eu não vou! – foi à resposta – Ela esta cheia de cuspe e catarro!
— Então saia pelo nariz! – disse ele desesperado!
— Pelo nariz não dá, pois esta cheio de ranho!
— Sai pelo ouvido então!
— Pelo ouvido eu não vou, pois esta cheio de cera!
 A esposa ainda dormia quando José desesperado e com a barriga latejando, correu para o terreiro. Angustiado, abaixou as vestes e tentou defecar. O bicho dentro dele gritava:
— Por ai eu não vou não, José! Por ai eu vou me lambuzar todo!
 A barriga inchava ainda mais e latejava. O homem gritando de dor sentiu o suíno lhe roer por dentro, tentando rasgar seu umbigo para sair.
 A mulher acordou assustada com os gritos do marido. Correu depressa para o terreiro segurando o lampião, testemunhando o homem morto atrás de uma moita, com a barriga rasgada e um leitão ao seu lado.


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