Deixa-me discursar.
Então, o povo discutia. Eis que minha timidez ficou de lado. Não temia mais o grito de minha voz calada. Eis que meus braços se levantaram, pedindo: deixa-me discursar.
Eis que levanto e olho nos olhos de cada um sentado. Minha boca adormece, mas logo começa a se suscitar.
As palavras foram poucas, mas de uma complexidade e amadurecimento enormes.
Eis que digo: "Começo a dizer sobre a paz, sobre a estrutura familiar, sobre os limites, sobre os objetivos e, enfim, sobre a vida. Que o bom estado de espírito é quando nos vimos no espelho e nos refletimos através de nossa imagem e semelhança. Que nossos sonhos são nosso desejos, mas não convêm com a razão de nossa realidade. Que os limites põem nossas personalidades em jogo. Mas de que adianta expressar sobre os limites humanos, e não os converter em ações sociáveis?"
Quando comecei a elevar o tom de minha bagagem de análise psicológica e vivencial, todos esbugalharam seus olhos.
E disse as últimas palavras sobre a vida e a estrutura familiar: "Sobre a estrutura, saíram experiências verídicas."
Dizia então: "A estrutura não começa pela casa, mas, sim, por dentro de si mesmo. Se sua mente não tem estrutura, não há casa que resista."
Sobre a vida, apenas disse: "Não basta só viver; tem que saber porquê de viver. O porquê de estar naquilo que nos alimenta como homens, que é na distribuição sociável e humanística, o dom supremo, o amor, não pelos olhos, mas pela alma. As boas ações que dizem quem somos e quem queremos ser. Enfim, aqui termino minhas sinceras palavras."
Então, todos se levantaram com os olhos escorrendo em lágrimas e me aplaudiram. Depois desse dia, todos mudaram sua concepção humana e suas atitudes sociáveis, e, muito mais que isso, viraram seres melhores para si mesmos.
Renato F. Marques