AS COLUNAS, O TETO AZUL e A SERVENTE

As colunas chegaram...

Foram colocadas em um terreno pré-preparado. Preparado há tanto tempo que muitas coisas se perderam e outras apodreceram. Terreno infestado por insetos escondidos por entre os capins. Os capins aparecem e crescem sempre, e os insetos brotam de onde ainda não descobrimos e creio que nem teremos tempo para descobrir. Talvez seja melhor assim.

As colunas chegaram... Solitárias, cada qual escolheu um ponto onde se fixar. As colunas ficaram... Solitárias, cada qual escolheu uma outra para se olhar. As colunas ficaram e solitárias escolheram todas para somar.

Soma essa feita em um terreno pedregoso, lamacento e depósito de merda, muita merda. As colunas sujaram-se um pouco, o que é inevitável, mas suas estruturas não foram abaladas. As colunas foram trazidas para sustentar um teto azul com manchas brancas. Não se sabe se é dentro da parte azul ou da branca onde estão os livros mais significantes da Terra. Um teto abstrato com peso pressãomente concreto. As colunas estão de pé. Sustentando coisas que só elas podem saber.

A servente de pedreiro já estava à espera das colunas quando essas chegaram. Ela trazia um sorriso no rosto e suas mãos pequenas acenavam. Seus olhos diziam políticas que docemente perfuravam escudos. As colunas, como forma de segurança, fixaram alguns centímetros solo adentro. Alguns dizem que elas, fantasticamente, criariam raízes. E creio que todas já deram brotos.

No teto, que outrora se desbotava, foi passado giz de cera azul e com giz de gesso algumas manchas brancas também foram intensificadas. Creio que algumas das colunas pretendiam pintar poucas estrelas, estrelas que deixariam pingar laudas de poemas concretos, de gráficos de coisas abstratas positivamente, de desenhos aquarelas pintadas, simplesmente, pela vontade das colunas.

Foi então, que a servente de pedreiro que parecia não gostar muito do azul pôs em prática um plano. Será que são das manchas brancas de que ela não gosta? Talvez, a idéia das estrelas causasse-lhe medo. Enfim, o engenheiro, de sua redoma de vidro, mandou sugestões solúveis iguais a pó e ela, a servente, as transformou em plano.

Sem o engenheiro ou sem a servente, o teto continua sustentado. Mas e sem as colunas o que será do teto? Sem colunas, não há vão entre o chão e o céu. E para todos respirarmos é necessário haver o vão entre o chão e o céu.

Foi então que a servente teve a idéia de uma votação. Larvas que bebericam sobre as fezes foram convocadas, insetos foram trazidos para zumbirem. Todos votaram. Pelo o quê? Pela queda das colunas. Estas receberam a proposta de cederem porque um milagre estaria previsto. O céu azul de manchas brancas não cairia sobre suas cabeças e muitas estrelas surgiriam como pequenos botões de rosas. Justificativa? Deus estaria interessado naquele teto, talvez para fazer um pequeno quiosque de jardim onde passaria algumas horas lendo. O cair das colunas seria a única forma delas permanecerem sustentando aquele teto. Algumas colunas gostaram da idéia, outras nem tanto.

E os insetos e larvas votaram.

As colunas terão que cair. Cairão para então receberem a mão da servente que as ajudará a se colocarem onde estavam. Sem raiz e sem estrela de tinta. Apenas estrela de papel crepom. Colunas não criam raízes, pelo menos não deveriam.

As colunas chegaram, ficaram, botões de rosas surgiram de dentro do concreto e algumas grandes quantidades de merda foram removidas com vassouras sem cerdas. Serviço sujo feito pelas colunas.

Tudo o que é já parece ser o que era. Tudo o que foi virou fumaça de brasa recém apagada.

Será que já acabou? Acabou.

Samir S Souza
Enviado por Samir S Souza em 22/03/2013
Reeditado em 23/03/2013
Código do texto: T4202880
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