“O que nos outros chamamos de pecado, para nós é experiência.”
 
Ralph Waldo Emerson
 
- Fechem os olhos e peçam ao Criador para que nos perdoem de nossos pecados.

Após algum tempo de oração sempre alguém começava a cantar, puxando a multidão com voz tremula e desafinada e as suplicas ao Criador eram por horas cantadas...

A pequena igreja com seus mesmos membros de sempre era a única diversão que tínhamos quando garotos. Eu e meus irmãos.

- As almas dos pecadores serão consumidas no inferno!

Eu me lembro de Julia. Éramos duas crianças que gostava de segredos.
Ela, branca como algodão, parecia que não existia uma gota de sangue naquele corpo magrinho, e eu, como diziam as irmãs na fé, tinha cara de anjo.

Adquirimos hábitos estranhos, nos entendíamos apenas com o olhar.

- Vem – ela dizia com gestos.

- Aonde vamos? – minha pergunta não emitia som, somente nossos olhos falavam, despistando os nossos pais.

Corríamos para os fundos da igreja, onde muitos tinham medo de ir, pois diziam que o diabo estava acorrentado lá e foi o pastor que o acorrentou. Eu e Julia sabíamos que isso era mentira. Alguém inventou isso para que ninguém fosse bisbilhotar as dependências da velha igrejinha.
  
Mato alto e arvores frondosas nos escondiam e ali brincávamos a sós.


- Olha essa Joaninha! Que engraçada- Julia dizia mexendo com um pauzinho o inseto que buscava abrigo.

Eu ficava com cara de que nada entendia e aguardava ansioso onde Julia iria chegar.
Julia conduzia a joaninha com o pauzinho, fazendo com que o inseto desaparecesse debaixo de sua saia.

- Sumiu!- Julia dizia com voz baixa e olhar languido.

Ela me convencia com sua inocência e manha, em instantes eu tocava suas partes a procura do inseto que a essa altura deveria estar longe. Não nos importávamos mais.

- Preparem-se para o fim do mundo! Não haverá lugar no céu para fornicadores, bêbados e blasfemadores.

Ali aprendíamos sobre nossos corpos nos toques trocados.

- Que engraçado. Eu sou diferente de você. Enquanto eu procurava nossa diferença perdia minha inocência.

A sensação do prenuncio me fazia gostar ainda mais dessa brincadeira, pois os prazeres descobertos depois jamais seriam esquecidos.

- Vinde agora para o perdão, amanhã pode não haver mais tempo! Purificai!

As mãos agora conectadas aos prazeres rosados e rostos colados. Afogávamos nossa réstia de inocência.

- Se sua mão for motivo de pecado, melhor cortá-la fora!

Nós ficávamos ali assistindo o desabrochar da malicia enquanto perdia força a inocência...
Paulo Moreno
Enviado por Paulo Moreno em 22/03/2013
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