MENTIRA, EU NÃO ESTAVA LÁ

Nos rincões do triângulo mineiro, comecinho da serra da Canastra, é o cenário do causo que vou contar aqui.

Havia na região um grupo de rapazes, filhos de fazendeiros, que não perdia nenhuma festa por ali, quer fossem nos arraiais (Perdizinha, Antinha, Zelândia, Itaipu, Alpercatas, Ibitimirim, etc.) ou em qualquer fazenda dos arredores. Eles marcavam o encontro semanal na venda que existia às margens da antiga rodovia de terra que demandava a Araxá, Perdizes, Uberaba e Uberlândia, e dali escolhiam a festa de que participariam. Preferiam os bailes, mas não dispensavam nem as novenas religiosas. Claro que o principal objetivo eram as moças, algumas bonitas, outras feias, porém, todas serviam, porque não havia muita escolha. Mulher era “fruta rara” por aqueles lados de lá.

Alguém que quisesse “aliviar” as tensões sexuais, ou ia uma vez por mês até uma zona nas cidades mais próximas, ou então tinha que recorrer aos préstimos de Madá, já bastante rodada e mãe de uma dúzia de filhos sem pais definidos, e que habitava um casebre de pau a pique localizado num grotão, lugar sem qualquer serventia na visão do proprietário dali. Quando um “visitante” chegava, ela mandava que os filhos fossem catar gabiroba:

- Vai, Ceced ... vai, Derfino! ... procurem mangabas maduras no cerrado, oceis sabe onde é que tem gabiroba gostosinha, né... o seu Marquin tá cheganu, e ele é capadô de mininu, hein! – dizia ela às crianças menores, e que ainda não trabalhavam no pequeno roçado que mantinham à uma certa distância do rancho.

Era assim, constantemente, quando alguém assobiava ainda de longe para avisar que estava chegando ao pedaço. Havia uma combinação ajustada entre a maioria dos frequentadores: quem estivesse na casa da Madá deixava um galho qualquer no meio do caminho, não importava quem fosse, mas quando saia de lá tinha que retirá-lo para dar o aviso inverso. Todos respeitavam, ninguém furava o acordo, mesmo porque, faziam de conta que um não sabia do outro, e nem queria que o outro soubesse dele. Ou seja, tinham vergonha de utilizarem dos “préstimos” da mulher.

- Tudo bão conceis, lá na fazenda, seo Marquin ... Sosvaldo e dona

Cida, a criançada toda, tudo na paiz de Nossinhora, né!,

- Tudo na Santa Paiz, sim senhora, dona Madá ... óia, hoje tô cum pokin de pressa, pruquê saí pra partá vaca, preciso vortá logo.

- Tá bão, vamu láprá drentu. Aih, quibão cocê troxe um fumim prá véia, pruquê tava seim nada indesde antonte, viu! Já andava fumanu inté gainhu de chuchu, credu ... Que bom cocê vei, ieu já tava percisanu de maxu, viu, danado!

- Tá bão, vamos ao que interessa ... levanta a saia e baixascarça logo, vai! – e seo Marquin já foi “montando” de qualquer jeito.

Nem precisava mandar, porque ela já nem usava coisa nenhuma por baixo do vestido surrado, bastava se deitar e abrir as pernas, para que alguém enfiasse “tudo”, sem ao menos se dar ao trabalho de baixar as calças, apenas abrindo a braguilha, e pronto! Dez minutos depois, serviço feito e dinheirinho na mão, ela apenas acenava ao visitante, um adeus. Feliz da vida, já que podia comprar a santa pinguinha de todas as semanas, além do fumo, querosene, sal e açúcar, coisas que não produziam por ali.

Fatos reais ... mas, eu não estava lá, hein! .... rsrsrsrs

Ronaldo Jose
Enviado por Ronaldo Jose em 20/03/2013
Código do texto: T4198503
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