O PATRÃO, O TRABALHADOR E OS TRES CONSELHOS
“... tudo aquilo que puder ser conseguido com dinheiro é barato...”
Por incrível que pareça ouço muito mais “causos” do que conto. Quando me contam, ouço (ou leio) com atenção e se aprovar reescrevo e publico. Outro dia, meu cunhado “Neu”, que foi meu aluno nos idos dos anos 60, me contou um “causo” que julguei bastante interessante. Esse senhor, hoje já sexagenário, é muito melhor aluno do que na época. Ambos estávamos começando. Ele como aluno e eu como professor. De certo hoje também sou melhor ( se não me deixei contaminar pelas atuais exigências legais da Educação).
Contava ele que, lá pras bandas da Serra do Diabo, vivia um roceiro com sua mulher. Trabalhavam de “meeiros” para um grande proprietário. Chegava no final das colheitas e nada sobrava. Tudo que fazia mal dava “pra comer”. Quando sua companheira engravidou do primeiro filho as preocupações aumentaram. Como a mulher era muito trabalhadeira ele tomou a seguinte decisão, de acordo com ela, é claro: Sairia pelo mundo e só voltaria quando ganhasse o suficiente para comprar “umas terrinhas” onde pudessem viver sossegados. E assim foi feito. Atravessou o Paranazão e foi pedir emprego em uma vasta fazenda de múltiplas atividades agrícolas. Ficava distante de sua humilde moradia para mais de 50 léguas. O interessante é que o fazendeiro era uma espécie de S. Francisco ao contrário. Ao invés de vender tudo e se dedicar aos pobres, aumentou sua riqueza e proporcionava vida digna a todos os empregados e os capacitava a um dia tornarem-se também proprietários. Passados mais ou menos uns 20 anos, achou que o que havia juntado daria para declarar sua independência econômica e financeira. Entrou em contato com o patrão e “pediu as contas”. Depois de tudo acertado o patrão lhe disse: Devido à sua retidão de caráter lhe faço a seguinte proposta: No lugar de fazer-lhe um pagamento em dinheiro lhe darei três conselhos. Não é preciso responder agora. Pense o tempo que for necessário ( Atenção jornal A SEMANA aqui é um bom lugar para se dividir o texto). O trabalhador pensou por sete dias e trouxe a decisão: ACEITO! Então vamos lá: Primeiro conselho é que nunca aceite fazer um atalho para atingir seus objetivos. Faça aquilo que pensou, mesmo que a distância ou dificuldades sejam grandes. Não aceite facilidades. O segundo: Nunca se envolva com nada daquilo que não lhe diz respeito. E por último: Nunca tome uma decisão precipitada. Inteire-se primeiro da autenticidade dos fatos. Na hora da partida o fazendeiro chamou pela mulher que trouxe um “picuá” com cinco pães médios de um lado e um muito grande do outro. Esses pães médios são para você comer durante sua jornada e o grande deverá ser partido na frente de sua companheira e repartido com ela. Já bem longe, à beira da estrada avistou três viajantes que faziam comida numa trempe. Cumprimentou-os e os mesmo puxaram conversa. Convidaram-no para o simples almoço. Depois de satisfeito, a conversa continuou e todos ficaram sabendo para onde ele ia. Disseram-lhe que, por coincidência, iam para a mesma região, mas que usariam um atalho por uma trilha na floresta que encurtava o caminho de forma considerável. Lembrou-se do conselho e não aceitou. No próximo vilarejo, já à tardinha soube notícias que três salteadores haviam assassinado um fazendeiro e seu capataz no referido atalho. O primeiro conselho havia lhe salvado a vida. Pela madrugada na porta da pensão, houve uma briga de jovens de grande monta e aqueles que estavam em desvantagem pediam socorro “pelo amor de Deus”. Lembrou-se do segundo conselho e voltou, embora preocupado, para a cama. A polícia foi chamada. Houve intensa troca de tiros. Resultado: Sete mortos e dezenas de feridos. Mais uma vez ficou ileso. Dias depois do alto da estrada descortinou sua simples casinha que parecia que tinha parado no tempo. Foi contagiado por uma imensa alegria. Quando já estava perto, viu sua mulher, um pouco mais velha, mas linda como sempre fora, sentada num banco junto da porta, mas sem perceber sua aproximação, trocava carinhos com um jovem muito bonito. Teria ela cansada da espera, sem notícias, arranjado um novo amor para continuar a vida? Seu primeiro ímpeto foi de descarregar a garrucha de dois canos, matando os dois, mas ficando com a honra lavada. Lembrou-se do último conselho. Chegou e numa postura fria, cumprimentou-os. A completa felicidade pode ser vista no sorriso daquela mulher. Você voltou??? Já tinha quase perdido as esperanças!!! Abrace aqui o nosso filho que você deixou em minha barriga com poucos meses de gravidez. O último conselho o salvara do maior sofrimento que um homem honrado pode ter. Preparada a janta chegou o momento de repartir o grande PÃO. A surpresa. Estava recheado de dinheiro. Bem mais que ele julgara ter dado o seu saldo disponível com o fazendeiro. (oldack/06/01/013)X. Nota do Revisor: Oldack, mais uma vez você me despertou reminiscências de infância quando ouvia esse causo contado por meu avô. Já não me lembrava dele há muito. Vê-se que nossas origens guardam algo em comum, ainda que por parte de nossos antepassados.