A rasteira...
Alfredo e um amigo, Jota, foram ao sertão de Pernambuco para vender ações das novas empresas que acabavam de se instalar no Estado. Árdua tarefa, pois primeiro teriam que encontrar quem soubesse, naquela época, o que era a tal “ação de uma S/A”. Por outro lado, captar as pessoas influentes de cada cidade dispostas a investir em um negócio pouco conhecido seria outra parada dura.
Alfredo recebeu informações de que na cidade de Ouricuri poderiam conseguir possíveis compradores para as ações daquelas empresas, e que os “coronéis” tinham dinheiro para gastar e aplicar nesses empreendimentos. Ele e o amigo não tiveram dúvida, viajaram mais de 800 km até chegar à referida cidade. Passaram um tempo estudando o local, visitaram as “autoridades”, até o padre foi visitado (talvez para benzer os dois parceiros).
Contando com a influência de tais autoridades do local e o padre à tira colo, fecharam diversas vendas, que eram pagas à vista, em troca dos papéis para subscrição e registro nas empresas. Foi tão boa a negociata que resolveram, antes de sair da cidade, fazer uma feira com tudo de bom da culinária e presentes dos estabelecimentos comerciais de lá, enchendo o porta-malas do carro com todas aquelas preciosidades. Compraram de tudo, joias, roupas, calçados, doce caseiro, tecidos, etc. Após as compras resolveram passar numa boate local (a chamada boite, que é o nome que o bebum consegue pronunciar quando tá daquele jeito... Pra lá de Bagdá), onde rolava a boemia do lugar, com mulheres “da vida” que faziam tudo para deixar os fregueses “relaxados”. Alfredo foi tão afoito que, mal chegou, já foi gritando: “Uma rodada por minha conta”, isso já agarrando a cintura da própria dona do “estabelecimento”, Imagine!
Certa hora, Alfredo chegou ao ouvido do parceiro, Jota, e disse: “Jota, quando essa trupe dormir, a gente sai dos quartos, caladinhos, de mansinho... E vamos pro carro, e sartamo fora. Queria vê a cara do pessoal quando for cobrar a gente e descobrir que já era”.
De madrugada, os dois, ainda com as calças e os sapatos nas mãos, saíram de fininho, empurraram o carro até o final da rua, deram partida e tchau.
Mais de 800 km depois, em Recife, já na casa de Jota, pararam o carro rindo à toa. Alfredo, se despedindo do amigo e parceiro de aventura, lhe disse: “Pega a tua parte da mercadoria no porta-malas que, depois dessa, eu vou para casa descansar”. Quando Jota abre o porta-malas, grita: “Alfredo, P...Q...P..., as quengas passaram a rasteira na gente, o porta-malas tá cheio de arreia e pedra”......
Alfredo fez um ar de constrangimento e decepção, desabafando: “A gente não pode confiar mais em ninguém nesse mundo. Meu Deus do céu!!!!”.