As tardes corriam mornas. A gente sentia uma preguiça gostosa. Até o vento parecia esmorecer diante do sol escaldante, soprava quente, porem lívido.
Os pássaros, vez ou outra insistiam em puxar uma canção. Mas sem animo provocado pelo calor esqueciam-se e voltavam para a sombra da jabuticabeira para ali beliscarem as frutas que desprendiam perfume.
Narinha e eu ficávamos horas a fio sentados e comentando as peripécias dos sabiás que, ousados vinham até a varanda roubar bicadas das frutas que ali ficavam a disposição dos moradores e hospedes da fazenda.
Colocávamos nomes em todos eles, mas nunca conseguíamos gravar, pois os sabiás são todos muito parecidos.
Tudo aquilo deixava Vovó Santa animada. Ela parecia rejuvenescer nas tardes carregadas de calor. Na cozinha, andando de um lado para outro fazia quitutes para logo mais. O cheiro tomava conta daquele lugar. Pães, sonhos, bolachas e outras delicias nos tiravam daquela letargia e nos faziam correr para a cozinha na esperança de ganhar alguma daquelas deliciosas merendas.
Vovó fazia de conta que não havia ninguém por perto, cantarolava canções que somente ela conhecia e continuava seus afazeres ignorando eu e Narinha. Mas já conhecíamos aquele ar de não tem ninguém por perto e logo ela simulava um susto olhando com cara de brava para nós dois.
- Uai Mininos! O que ceis tão fazenu aqui?
Narinha respondia com voz melosa:
- Vó, a senhora não me chamou?
- Num chamei naum mocinha, ocê tá di prosa.
Nesse momento eu entrava em ação. Fazendo cara de menino bonzinho dizia:
- Vamos Narinha, vamos procurar alguma coisa pra comer.
Nunca falhava.
Vovó Santa ia pegando seus quitutes e distribuía com aquele sorriso desprovido de alguns dentes, piscando um olho para Narinha e dando uma bronca em mim.
- Agora oceis somi daqui, vão brinca lá fora sô!
Com a boca suja e as mãos cheias voltávamos correndo para a varanda e ali esperávamos ansiosamente o café da tarde para que pudéssemos nos fartar das merendas da Vó Santa.